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“Quando Falta o Ar” mostra, ao Oscar 2023, o SUS que enfrentou a covid  

7 de dezembro de 2022

Documentário das irmãs Helena e Ana Petta disputa candidatura a melhor documentário na Academia de Cinema

Documentário das irmãs Helena e Ana Petta disputa candidatura a melhor documentário na Academia de Cinema dos EUA

O documentário “Quando Falta o Ar” inicia hoje campanha nos EUA com sessões em Nova York, Boston e Los Angeles, para disputar o Oscar na categoria de Melhor Longa Documentário. A equipe do filme recebeu a notícia de que concorre oficialmente, na semana passada. 

A exibição do filme sob o título Out of Breath (Sem Fôlego), no dia 18, em Los Angeles, teve apresentação do ator Wagner Moura, no The Linwood Dunn Theater, da Academy of Motion Pictures. No Brasil, o documentário estará em exibição no começo de 2023

Com direção das irmãs Helena e a cineasta Ana Petta, o filme acompanha profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde), em diferentes regiões do Brasil, enquanto lutavam para salvar vidas durante a pandemia.

“Wagner incrível, generoso, compartilhou seu olhar atento ao nosso filme. Sabia detalhes das cenas, dos movimentos da câmera, elogiou a montagem, as músicas, falou de cada uma das nossas incríveis mulheres guerreiras do SUS (Sistema Único de Saúde”, escreveu Helena em suas redes. Segundo ela, Wagner Moura também destacou “a importância que o filme pode ter para colocar o SUS no centro do debate político atual”.

Concorrência dura

Foto: Helena Petta com Wagner Moura durante exibição do filme em Los Angeles

O documentário pode garantir a primeira estatueta do Oscar de uma produção do Brasil na história do prêmio. O filme das irmãs Ana e Helena Petta já está inscrito na disputa, uma vez que venceu, em abril, a Competição Brasileira de Longas e Médias-Metragens no Festival Internacional É Tudo Verdade.

Da lista de candidatos, apenas cinco serão indicados ao Oscar. A seleção é difícil, competitiva e as irmãs Petta enfrentam o desafio de falar sobre um tema recente e traumático para todo o mundo. 

Isto também pode ser considerado um trunfo pela agilidade de investigar um tema de difícil aproximação, devido às características da pandemia. 

Além disso, há uma complexa e dispendiosa articulação que normalmente é feita para dar visibilidade a filmes e documentários candidatos ao Oscar, como exibições, recepções, jantares, distribuição de kit para os milhares de membros da academia etc. 

Governos investem pesado em seus filmes, assim como o estúdio. Não é o caso deste documentário, neste mercado, neste governo. De acordo com a Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo prêmio, o anúncio público deve ocorrer ainda em dezembro.

Indicá-lo, ao menos, seria o reconhecimento da ousadia de duas mulheres que se aventuraram pelo Brasil, no auge de uma catástrofe sanitária, pela importância de documentar a missão daqueles profissionais de saúde pública.

Nas redes sociais, o filme brasileiro começou a ser associado à hashtag #SUSnoOscar, com incentivo de médicos e sanitaristas renomados do país.

Olhando na cara da morte

“Quando o ritual da morte não era mais possível e a solidão uma constante, nos pareceu fundamental abrir a câmera para os diferentes tempos e dimensões envolvidas no cuidado em saúde, nos aproximando destes profissionais que estavam resistindo em uma das maiores crises sanitárias da história, em um país abandonado por seu principal governante”, afirmam as diretoras. 

“Quando Falta o Ar” revela como as dimensões envolvidas nesses atos se misturam com as desigualdades do país e com o preconceito racial, ao mesmo tempo que são atravessadas pelas religiosidades tão presentes no povo brasileiro. Mais de 10% das mortes por covid no mundo foram registradas no Brasil.

“Procuramos registrar de perto o trabalho dessas mulheres”, conta a médica e diretora do filme Helena Petta: “Capturamos os diferentes ritmos no cuidado que elas prestam, que muitas vezes se expressam através do toque, do gesto e do olhar. Queríamos revelar as desigualdades do país e os preconceitos raciais que afetam as diferentes religiões do Brasil”, completa.

Para Amir Labak, idealizador do Festival É Tudo Verdade, o filme é um registro extraordinário de um momento heróico e macabro da história do Brasil contemporâneo. Num ágil e intimista estilo Cinema Verité, elas documentam o papel crucial do sistema público de saúde brasileiro lidando com a pior emergência sanitária em um século. É um filme único, urgente e inesquecível, elogia Amir.

Filmado em São Paulo (Hospital das Clínicas), Recife (UBS do Morro da Conceição), Pará (Hospital Municipal de Castanhal e equipe de saúde de Igarapé Miri), Salvador (Complexo Penitenciário Lemos de Brito) e Manaus (SOS Funeral), o documentário é uma aposta das diretoras na construção de imagens e narrativas que possam contribuir para uma nova estética audiovisual sobre o cuidado em saúde.

Ana foi co-roteirista de Repare Bem (2013), além de produtora e co-diretora de Osvaldão (2015) – dois documentários bem recebidos pela crítica. Ela também interpretou uma médica na série de TV, Unidade Básica (2016), onde pode se aproximar do ambiente ficcional em torno do SUS. Helena também contribuiu como consultora da série.

A cerimônia de entrega do Oscar 2023, no Dolby Theatre, em Los Angeles, acontece em 12 de março.

(por Cezar Xavier)