Edição 166 da Princípios: “Classes sociais no Brasil contemporâneo”
Publicada pela Editora Anita Garibaldi, a revista Princípios (Qualis A3) é o periódico científico marxista mais antigo do Brasil. (ISSN:1415-7888; E-ISSN: 2675-6609).
O Dossiê é organizado pelo professor doutor Máximo Augusto Campos Masson (UFRJ).
Revista Princípios lançou hoje o dossiê temático “Classes sociais no Brasil contemporâneo”. Leia abaixo a apresentação da Comissão Editorial.
A edição 166 da revista Princípios apresenta o dossiê temático “Classes sociais no Brasil contemporâneo”, organizado pelo professor doutor Máximo Augusto Campos Masson (UFRJ). O dossiê reúne reflexões relativas à constituição e configuração atual das classes sociais no Brasil — suas características e relações —, considerando a condição peculiar do país no cenário mundial e latino-americano, bem como as mudanças ocorridas na estrutura social brasileira entre o final do século XX e este início de século XXI, após décadas de implementação do projeto neoliberal em nosso país.
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Como sabemos, a identificação e conceituação da dinâmica das classes é matéria que percorre toda a trajetória das ciências sociais, com efeitos incisivos sobre os estudos no âmbito de áreas do conhecimento correlatas, como a sociologia, a ciência política, a economia, a história e a geografia, entre outras.
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Presentes de forma inconteste nos discursos e narrativas políticas que emergiram com a afirmação do capitalismo, no trato de temas tão diversos como os conflitos de interesse ou o definhamento das tradições, as classes sociais foram apreendidas e definidas a partir de enfoques variados, não se podendo conceber perspectiva teórica nas ciências sociais que as desconsidere, mesmo quando em seus arcabouços conceituais o tema não ocupe posição central.
No Brasil e, podemos dizer, em toda a América Latina, os processos de modernização e inserção no cenário internacional, que se fizeram acompanhar do aprofundamento da dependência econômica e das desigualdades, tornaram a temática das classes elemento central para o entendimento da realidade socioeconômica e política da região. Em estudos realizados em nossas universidades e centros de pesquisa, logo se tornaram claras as insuficiências das transposições imediatas de análises fundadas nos processos constituintes das sociedades capitalistas avançadas, o que levou a esforços teóricos visando apreender o que nos era específico e singular.
Diversas são as formulações apresentadas nesta edição acerca dos entendimentos sobre nossa realidade social que buscam identificar essas peculiaridades. Os estudos apresentados orbitam em torno aos traços do empresariado local e da luta entre as diversas frações do que se convencionou chamar de “burguesia nacional”. Também procuram caracterizar a alta rotatividade do poder econômico entre os segmentos da oligarquia financeira – característica própria do seu modo de acumulação. Elucidam, ainda, as características dos contingentes rurais, cujas características escapam às do campesinato europeu; do proletariado urbano, e das enormes massas que ainda aspiram a estatutos distintos da informalidade. Essas classes e frações de classes são analisadas em seu dinamismo e em suas interações entre si e com os Estados nacionais e a geopolítica contemporânea.
Ao chegarmos ao final do primeiro quarto do século XXI, após a predominância das políticas de inspiração neoliberal, o intercurso dos governos de centro-esquerda, a ascensão do conservadorismo extremado e a retomada de uma frente ampla pela democracia e o desenvolvimento do país, deparamo-nos com cenários sociais em que novos elementos se fazem presentes. Eles se manifestam de múltiplas formas: a emergência de movimentos que se definem por identidades e muitas vezes não consideram a centralidade da questão de classe; as dificuldades de identificação mais precisa do que vem a ser contemporaneamente o grande empresariado do país, em particular após acelerado processo de desindustrialização e domínio desregulado do capital financeiro; a intensa informalidade dos trabalhadores urbanos, fenômeno que, ao menos em aparência, lança à margem da história as imagens clássicas do operariado e seus sindicatos; as novas situações vividas nas áreas rurais brasileiras, envolvendo o agronegócio, a agricultura familiar, a população campesina e o operariado rural.
Diante, portanto, dessas questões conceituais que perduram e dos novos contextos históricos marcados pelo crescimento das desigualdades – ainda mais acentuadas em tempos de pandemia –, mas sobretudo pela adoção extremada dos postulados neoliberais, em que se execrou qualquer protagonismo do Estado como indutor do desenvolvimento nacional, é que apresentamos o dossiê “Classes sociais no Brasil contemporâneo”. Ele se debruça, com centralidade, sobre as novas relações estruturais entre o capital e o trabalho em tempos de hegemonia do sistema financeiro. O entendimento dessa realidade complexa e cambiante, de fundamental importância para o avanço do novo ciclo político que se abre no país, não pode prescindir de referências àquele que é, afinal, o lugar em que economia e política se encontram: o fundamento classista das estruturas sociais.
Completam esta edição de Princípios artigos sobre as características do imperialismo no pós-Segunda Guerra; as relações entre o maoismo e o pensamento chinês e oriental – antigo e moderno –, e entre ambos e a filosofia ocidental, e os desafios atuais que a comunicação apresenta para as esquerdas, neste início de século, considerando os fenômenos de ordem econômica, política e cultural colocados pela guerra na Ucrânia.
A revista traz ainda a inédita tradução de artigo da economista indiana Utsa Patnaik. Ela discorre sobre as falácias e silenciamentos que se encontram na base da economia política e são reproduzidos até hoje na historiografia e na própria disciplina de Economia.
Uma resenha do livro A atualidade da teoria política de Nicos Poulantzas, de Tatiana Berringer e Angela Lazagna, fecha esta edição.