Intervenção de Walter Sorrentino sobre os 101 anos do PCdoB
A ALERJ realizou Solenidade em comemoração aos 101 anos do PCdoB. O evento foi organizado pela deputada estadual Dani Balbi (PCdoB) e contou com a presença de cerca de 300 militantes.
Na última segunda-feira (27/03), a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) realizou Solenidade em comemoração aos 101 anos do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O evento foi organizado pela deputada estadual Dani Balbi (PCdoB) e contou com a presença de cerca de 300 militantes e amigos do partido, bem como representantes de legendas aliadas como PSOL, PSB e PT.
Divulgamos abaixo a íntegra do discurso do vice-presidente nacional do PCdoB, Walter Sorrentino, e o vídeo completo da cerimônia.
Intervenção de Walter Sorrentino
Cumprimento a deputada Dani Balbi, proponente desta Sessão Solene, com a alegria de
ver uma querida e combativa companheira recém eleita a esta Casa,
Por intermédio dela cumprimento e agradeço a ALERJ pela realização deste evento
Meus cumprimentos à ex-deputada desta Casa, Enfermeira Rejane, nossa futura deputada
federal.
Em nome das duas deputadas saúdo todas as mulheres, que são maioria neste plenário
Saúdo meu líder, João Batista Lemos e a todos os companheiros e companheiras que
compõem a Mesa dos trabalhos, com menção aos companheiros do PT e PSB.
Amigas e amigos, Senhoras e Senhores,
O Partido Comunista do Brasil chega ao centésimo primeiro aniversário. Tendo sido
fundado em Niterói, é uma honra estar aqui com vocês e uma grande alegria.
Comemoramos este aniversário ombro a ombro com as forças de esquerda, progressistas e
democráticas do país, com o desafio de estarmos hoje, mais uma vez, no centro de um
vigoroso e amplo movimento social e político que poderá proporcionar conquistas valiosas
para o Brasil, à classe trabalhadora e a todo os brasileiros e brasileiras.
Os comunistas estavam na linha de frente do grande confronto que resultou na derrota da
extrema-direita e na vitória da chapa Lula presidente e Alckmin vice. Diante do perigo que
pairava sobre o país, com ameaças golpistas constantes pelo bolsonarismo, a formação de
um amplo e unitário processo político fez a correlação de forças tornar-se favorável à
vitória de Lula, bem como, em perspectiva, aos êxitos do novo governo.
Temos, juntos, então, o grande desafio de construir uma maioria política e social para
cumprir o Programa de governo avançado vitorioso nas eleições de 2022.
Será uma travessia em mar revolto. A melhor simbologia disso foi dada na rampa do
Planalto. Em 1º de janeiro, o povo subiu a rampa e entregou a faixa presidencial a Lula – o
fato e a foto foram saudados no mundo todo.
Em 9 de janeiro, em um ato simbólico em defesa da democracia, Lula desceu a rampa com
a imensa maioria dos expoentes do Congresso Nacional, do STF, de governadores e
partidos políticos. Encabeçava ali a resistência democrática contra o levante golpista do dia
anterior, que profanou os poderes da República e foi enfrentada com firmeza e decisão.
Iniciou-se com vigor o novo governo de amplo espectro político, liderado por Lula. Estão
em ação centenas de medidas, em apenas 100 dias, que recompõem a normalidade política
e institucional, a recuperação de direitos sociais e civis, políticas públicas avançadas que
foram destruídas pelo bolsonarismo no poder.
Estão em curso medidas estruturantes para a reconstrução do Estado e para retomar o
desenvolvimento nacional soberano. O protagonismo presidencial nas relações exteriores
está em consonância com isso, a serviço da autodeterminação do país, do compromisso
com o meio ambiente, da integração regional e, agora, com a maior interação com o
BRICS, sob a presidência de Dilma Rousseff. Enfim, uma política externa a serviço da paz
e do multilateralismo no âmbito de uma ordem mundial multipolar mais justa e
democrática.
Não alimentamos ilusões, entretanto. Face à lógica da financeirização neoliberal e
neocolonial, o sentido de nossos interesses é objetivamente contra hegemônico. A
reconstrução e transformação da nação será um jornada bem exigente.
Além das forças da extrema direita protofascista, há forças financeiras dominantes, internas
e externas, e forças políticas conservadoras, que seguem atuando para tentar aprisionar o
governo nas amarras do neoliberalismo e de alinhamentos subservientes, contrários aos
interesses nacionais.
A batalha contra os juros escorchantes, os mais altos do mundo, é uma amostra do que
enfrentamos. Eles retiram do orçamento nominal quase 800 bi ao ano no pagamento da
dívida pública. Sem uma inflação de demanda. O BC se mostra alienado e nem se dá ao
trabalho de alegar suposto “temor inflacionário”. Fica na afronta de alegar uma presumida
“irresponsabilidade fiscal” do governo. É puro arrocho contra a economia, o PIB, a
produção, crédito e renda. É como no dito bíblico: “primeiro o meu, Mateus”.
O país precisa se desenvolver, produzir, inovar, reindustrializar-se, criar emprego e elevar a
renda do trabalho, fazer a roda da economia girar. O descompromisso do BC com essas
orientações vitoriosas nas eleições, é uma demonstração do sequestro do BC pelas forças do
Senhor Mercado -a isso dão o nome de “Autonomia” do BC.
O presidente Lula, ele próprio, faz a disputa política e nos conclama à mobilização
ampliada para assegurar a missão democrática e implementar o programa de governo. É
isso que se deve fazer.
Faz-se necessário, também, enfrentar a guerra cultural empreendida pelo protofascismo,
desenvolvendo instrumentos e meios para a luta de ideias, de valores, de persuasão política
da sociedade. Essa também é uma batalha estratégica.
Vai ser longa e dura a jornada. Mas esperançosa.
O PCdoB, que conta com sua presidente Luciana Santos à frente do estratégico Ministério
da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), atuará para que o governo Lula cumpra sua
missão e seu programa de reconstruir o país.
Vamos juntos, o Brasil precisa de nossa ampla união e um sentido de compromisso nesta
hora. Devemos UNIR O POVO, acabar com a miséria e a fome, valorizar o trabalho e a
renda popular.
Certamente é necessário formar uma base de apoio político amplo, no Congresso e na
sociedade, porque a normalidade política e institucional é decisiva para cumprir o
programa de governo que é expressão de forças progressistas avançadas e
desenvolvimentistas.
A maioria política tem por base a força social motriz dos trabalhadores e do povo, com o
apoio, a crítica e a mobilização popular. Vamos galvanizar a energia popular, não nos
bastamos apenas com os 52% dos votos alcançados na histórica eleição de 2022. Precisamos
reconquistar a confiança da maior parcela dos demais brasileiros e brasileiras.
Um governo de entregas desde logo é essencial para promover a melhoria da vida de todos.
Nosso combustível é motivar a indignação com a precarização do trabalho e da renda, a
miséria e a fome, o retrocesso das políticas públicas, a destruição da Amazônia, a
intolerância e o ódio que divide o povo.
A indignação transformada em esperança é o impulso para a nossa ação política e
mobilização social.
Amigas e amigos
Somos um partido da esperança. Temos confiança em que esses desafios sejam vencidos.
O PCdoB vem das comemorações vitoriosas de seu centenário e um livro editado está à
disposição, espero que o comprem, porque essa história é a história política do Brasil no
século 20 vista pela lógica da luta dos trabalhadores e todo o povo por um projeto
transformador.
O centenário evidenciou o legado dos comunistas à construção soberana do Brasil, à luta
por liberdades e pelos direitos do povo, e nos rendeu a consideração de ser uma legenda
indispensável à democracia e ao país.
Nesta comemoração, com a vitória de 2022, voltamos a sublinhar a atualidade do
Programa partidário, expresso na síntese: Fortalecer o Brasil, lutar pelo socialismo.
Para o PCdoB, a reconstrução nacional – consigna maior do governo Lula – implica um
Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Desenvolvimento soberano, inclusivo, de
progresso material e espiritual da vida dos brasileiros e brasileiras, de defesa do meio
ambiente em função de um projeto nacional e popular, de promoção da ciência, educação,
cultura, o cultivo do senso cívico de nação, ao lado da integração de nosso sub continente.
O desenvolvimento tem o desafio central na reindustrialização do país, nos marcos das
novas aquisições das forças produtivas, sob o impulso da ciência e tecnologia.
Aí incide também a valorização do trabalho e, em outra dimensão, a inserção do Brasil no mundo
com autodeterminação, sabendo navegar na nova realidade geopolítica global, cheia de
perigos, mas também de oportunidades para promover os interesses nacionais.
Esse projeto só pode avançar com a mais ampla democracia, entendida como respeito ao
Estado democrático de direito e à Constituição, como também, e principalmente, a maior
participação de trabalhadores, das mulheres e negros na vida política e institucional.
Para nós esse é o caminho para superar a encruzilhada de nosso país nas últimas 4 décadas,
entre se afirmar ou se dispersar enquanto nação.
Também nas décadas de 1910 e 1920 se viveu algo parecido. A nação estava grávida de
mudanças. Diversos levantes tenentistas pelas armas, revolvimento da nação pela cultura,
fundação de jornais e surge o PCB em março de 1922.
Daquele impasses nos desvencilharmos com o movimento de 1930, embora sob direção
conservadora, mas que conduziu à modernização do projeto nacional tendo à frenre o
estadista Getúlio Vargas.
Hoje, mais uma vez, é preciso romper o dilemae abrir um novo ciclo na história nacional.
Para nós é cristalino que uma estratégia e um plano nacional de desenvolvimento induzido
sob direção de um Estado Nacional coeso, é indispensável, são os únicos capazes de abarcar
todas as dimensões sociais e democráticas que o povo anseia.
Na perspectiva do PCdoB esse é o caminho da luta pelo socialismo. Como marxistas,
queremos ressignificar o socialismo e o sentido de ser comunista.
Vamos muito além de considerar o socialismo como uma nova lógica sistêmica pronta e acabada,
como o pensamos durante o século XX. Queremos pensá-lo histórica e concretamente, no
espírito dos desafios do tempo, na interação entre a base material e o caráter do regime político e
institucional, como também na interação entre produção e reprodução social e na relação entre
sociedade e natureza.
Gosto de pensar, então, como dizia o ainda jovem Marx, que o que nos faz comunistas é promover
o “auto entendimento da época sobre suas lutas e desejos.” Nós não vamos ao encontro do novo
mundo de modo doutrinário, com um novo princípio…, mas queremos encontrar o novo mundo
a partir da crítica ao antigo. Isso é o que entendo por ressignificação – valorizar, contemporizar,
superar os estigmas.
E para nós isso tem uma significação muito marcante: o abrasileiramento da luta pelo socialismo
em nosso país.
Amigas e amigos, camaradas
É nessa perspectiva que fazemos esta comemoração. E elas dão ensejo também a um movimento
para revitalizar a legenda comunista, fortalecê-la nas suas múltiplas dimensões, superar os
pesados condicionamentos históricos presentes na história brasileira e exacerbados com
ódio pela guerra cultural promovida pela extrema direita. Julgamos isso imprescindível à
democracia e à pluralidade da esquerda política e social brasileira.
Digo que o lugar do PCdoB no cenário das forças avançadas brasileiras é a de um “irmão
mais velho”. São 10 décadas de aprendizados, muitas virtudes e muitas vicissitudes, claro. ⅔
do tempo passamos na clandestinidade. Foram duras provas.
Mas amadurecemos, acumulamos lições e vocação estratégica. Respeitamos e somos
respeitados até pelos adversários. Somos do convívio democrático, acreditamos na Política
como a forma mais elevada da consciência social, e pela Política queremos a reconstrução e
transformação do Brasil, centrado no desenvolvimento soberano, a condição sine qua non
para corresponder aos anseios sociais, civis e espirituais do povo brasileiro.
Nosso povo merece. Existimos exatamente como expressão profunda dos interesses dos
trabalhadores e trabalhadoras, os produtores das riquezas, os quais mais propriamente
devem governar o país. Existimos para servir ao povo e à pátria livre, pelo socialismo.
Muito obrigado a cada um e cada uma aqui presentes, é um privilégio comemorarmos
juntos.
Que este aniversário eleve em todos nós a capacidade de “tremer de indignação perante
cada injustiça que acontece no mundo”.
Grande abraço, firme e forte, sempre.