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Caio Bugiato: A batalha de Bakhmut

18 de abril de 2023

O professor Caio Bugiato traz detalhes sobre a guerra da OTAN na Ucrânia.

Após os vultosos auxílios financeiros e militares da OTAN ao governo ucraniano
e então o recuo russo para o leste do país, o epicentro da guerra na Ucrânia se tornou a
cidade de Bakhmut (ver mapa 1). A cidade é parte de uma região na província de Donetsk,
a qual é reivindicada em sua totalidade pelo governo Putin. Depois de tomar no início de
2023 a cidade de Soledar na mesma província, as forças russas lutam pelo controle de
Bakhmut. A cidade é logisticamente importante para abrir caminho em direção à
Kramatorsk e Sloviansk, bastiões ucranianos em Donetsk. Além disso, passa por
Bakhmut a rota para o interior do país, inclusive para Kiev.

Fonte: AEI ́s Critical Theats Project e Institute for the Study of War

Bakhmut tinha uma população de cerca de 70 mil habitantes, mas hoje conta com
cerca de 4 mil. Foi abandonada pelos civis ao longo de meses de intensos combates entre
as forças russas e ucranianas/OTAN. Descrita como a campanha mais sangrenta da guerra
na Ucrânia, a batalha tem sido a mais longa e mortífera para ambos os lados e parece ser
agora uma guerra de trincheiras.

Recentemente em fevereiro, depois de ficarem atoladas nesta luta, os russos
começaram uma tentativa de asfixiar o abastecimento de Bakhmut. O bloqueio do
abastecimento ucraniano começou na área de Chasov Yar e Berkhovka, dois povoados
através dos quais passa as linhas de comunicação para a cidade. Os russos tentam tomar
as regiões ao norte a ao sul de Bakhmut, conseguindo avanços (mapa 2). O objetivo é
colocar a cidade em um cerco táctico de modo que as tropas ucranianas fiquem isoladas
do fornecimento de munições, medicamentos e combustível.

Fonte: Al-Jazeera e Institute for the Study of War.

Do lado das forças ocidentais, Kiev resiste aos ataques e espera a chegada de mais
armas ocidentais, incluindo os tanques da coalizão Ramstein, assim como forças
ucranianas adicionais treinadas para utilizar estas armas. O objetivo é conter o avanço
russo e, com estas armas e unidades militares treinadas, conduzir um contra-ataque. A
Ucrânia recebeu 49 dos 258 tanques de batalha prometidos pela coalizão. Recentemente
o Reino Unido anunciou ter terminado o treino de um segundo grupo de soldados
ucranianos. A Polónia disse ter transferido quatro caças à Ucrânia. Entre estes e outros
suportes ocidentais, os Estados Unidos – os maiores financiadores econômicos e militares
da guerra – anunciaram que forneceriam mais 500 milhões de dólares em munições,
artilharia de foguetes, sistemas antiaéreos e outros sistemas. O porta-voz do Pentágono
Pat Ryder disse que existem cerca de 11.000 ucranianos em treinamento em 26 países.

Ademais, os supostos documentos ultrassecretos vazados do Pentágono no fim de março
indicam que os países da OTAN têm forças especiais operando dentro do território
ucraniano: 50 soldados do Reino Unido; 17 soldados da Letônia, 15 da França; 14 dos
Estados Unidos e um dos Países Baixos.

Diante da ofensiva ocidental, o Estado russo proclama uma nova doutrina de
política externa. Ela afirma que a Rússia tem como objetivo criar as condições para
qualquer Estado rejeitar objetivos neocolonialistas e hegemónicos; que os EUA são o
principal instigador, organizador e executor da agressiva política anti-russa do Ocidente
coletivo; e defende o que chamou de mundo russo e valores espirituais e morais
tradicionais contra atitudes pseudo-humanistas e outras atitudes ideológicas neoliberais.

O governo Putin não pretende abrir quaisquer conversações de paz sobre a Ucrânia
que não se concentrem na criação de uma nova ordem mundial. O governo Zelensky já
anunciou que não negocia enquanto Putin estiver no poder. Enquanto isso a batalha de
Bakhmut continua.

*Caio Bugiato é professor de ciência política e relações internacionais da UFRRJ e do programa de pós-graduação em relações internacionais da UFABC.