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SBPC: 75 anos em defesa da ciência, do Brasil e da democracia

8 de julho de 2023

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC, completa 75 anos na data de hoje (08/07).

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC, completa 75 anos na data de hoje (08/07). Uma data de comemoração de todos os que defendemos a ciência, a cultura e também a democracia. Mais do que simplesmente uma organização científica, de caráter elitista e aristocrática, a SBPC sempre se destacou pelo seu caráter plural e ativista em favor da democracia como requisito básico para o desenvolvimento científico do país.

Sua própria fundação, há exatos 75 anos, demonstra esse seu “DNA” militante. Em 1948, o governador de São Paulo Ademar de Barros, decidiu de forma autocrática “reduzir as atividades de pesquisa em química orgânica e endocrinologia do Instituto Butantã, que ele esperava converter num instituto dedicado tão-somente à pesquisa relacionada aos soros antiofídicos. A resposta da comunidade científica da capital paulista foi imediata: cerca de um centena de cientistas reuniram-se (…) e fundaram a SBPC”[1]. Ou seja, a SBPC já nasceu oriunda de uma agitação de cientistas.

Importante destacar que o Brasil já contava com uma associação de cientistas, a Academia Brasileira de Ciências, a ABC, fundada em 1916. Mas faltava uma organização que se propusesse a reunir todas as instituições e indivíduos interessados no progresso e na promoção da ciência, da tecnologia e da inovação nacional, tal como muito bem faz a SBPC hoje.

A SBPC não é uma associação “aberta apenas a cientistas, mas a qualquer um que se interessa pela ciência”[2], conforme já é ressaltado logo nos seus objetivos iniciais. E essa amplitude não se resume apenas aos seus associados, mas também aos temas abordados pela SBPC, que também se debruça proficuamente sobre cultura e arte, educação, meio ambiente e tantos outros assuntos de interesses da nação.

Mantendo sua independência frente aos governos, a SBPC pressionou fortemente o governo de São Paulo para que cumprisse o que constava na Constituição de 1946, que previa a criação de uma fundação de amparo à pesquisa científica, proposta da bancada do Partido Comunista do Brasil, da qual fazia parte o deputado estadual e renomado físico Mario Shenberg. Fruto dessa decidida e resoluta manifestação da SBPC, foi criada a Fapesp, em 1960. Tantas outras conquistas na ciência brasileira, que tiveram a intervenção direta da SBPC poderiam ser citadas, exigindo-nos inúmeras páginas.

Pela sua presidência já passaram nomes de vulto da educação, da ciência e da cultura brasileira, como Anísio Teixeira, José Goldemberg, José Reis, Crodowaldo Pavan, Carolina Bori, Ennio Candotti, Aziz Ab’Saber, Glaci Zancan, Marco Antônio Raupp, Helena Nader, Ildeu de Castro Moreira e Renato Janine Ribeiro e tantos outros destacados cientistas que fizeram parte de suas diretorias, conselhos e secretarias regionais. Importante destacar o pioneirismo da SBPC na participação de mulheres cientistas em suas diretorias, sobretudo pelo caráter historicamente machista das instituições de pesquisa e da própria academia no Brasil e no mundo.

Embora em sua constituição original a SBPC abarcasse quase que exclusivamente cientistas das áreas de ciências exatas e naturais, ao longo do tempo foi se abrindo e incorporando as demais áreas, sobretudo em 1970, em plena ditadura militar, incorporando os cientistas sociais, promovendo uma maior participação das ciências humanas, dando um novo impulso crítico e ativista à entidade e realçando-a como uma das mais importantes organizações democráticas de enfrentamento à ditadura militar.

Suas reuniões anuais, palco privilegiado de debates acerca da política científica nacional, já foram realizadas em todas as regiões do país – sem contar com as reuniões regionais que colaboram ainda mais com essa importante capilarização da divulgação científica no Brasil -, mesmo nas condições mais adversas, sendo perseguida pela ditadura e proibida de realizar seus eventos. Em 1977, por exemplo, a 29ª Reunião Anual da SBPC foi proibida duas vezes, primeiro em Fortaleza e, depois, na USP. Contra a vontade dos militares, no entanto, a PUC de SP decidiu ceder o espaço para sua realização. Para arrecadar fundos para organizar o evento, a SBPC fez o cartaz abaixo, que até hoje muito bem a simboliza.

Fonte: Acervo digital da SBPC. https://sbpcacervodigital.org.br/items/5d0c4a2e-ad01-4aec-b1b9-951d8fe752ba.           

Em tempos atuais, onde assistimos a escalada do autoritarismo e os ataques à democracia, é sempre importante comemorarmos a existência e o fortalecimento de organizações como a combativa Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, cuja história é repleta de grandes cientistas que deram o melhor de seus esforços intelectuais e até mesmo físicos, sendo muitos deles perseguidos, presos, torturados e exilados do Brasil pelos governos da ditadura.

Uma das melhores formas de homenagear esse grande patrimônio imaterial de nosso país é nos associando a ela. Ajudando a fortalecer essa entidade que é um dos orgulhos nacionais. A maior organização de “amigos da ciência” da América Latina e uma das maiores do mundo.

A próxima Reunião Anual da SBPC, a sua 75ª edição, ocorrerá na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, entre os dias 23 e 27 próximos. Temos um encontro marcado lá.

Luciano Rezende MoreiraSócio da SBPC desde 2001. Engenheiro Agrônomo, professor do Instituto Federal de Brasília. Secretário Regional adjunto da SBPC – DF.

Ricardo Alemão Abreu – Sócio da SBPC desde 1996. Mestre em Integração da América Latina pelo PROLAM-USP, diretor de Temas Internacionais e Cooperação Internacional da Fundação Maurício Grabois.


[1] O Globo, 06 de junho de 1983, “SBPC, 35 anos: dos conflitos à convivência pacífica com o governo”. In Literatura de Cordel, MEC/Capes, v. 4, n° 1, São Paulo, 1949, p 1-2. Citado por Fernandes, A. M. in: A construção da ciência no Brasil e a SBPC. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2° edição. 2000.

[2] Objetivos da SBPC. In: Ciência e Cultura, v.1, n° 1 – 2, jan./abr. 1949.

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