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Morre Ignacy Sachs, pensador do ecodesenvolvimento, aos 96

3 de agosto de 2023

Intelectual viveu no Brasil por 17 anos e defendeu potencial da bioeconomia

O socioeconomista Ignacy Sachs, um dos maiores pensadores da economia ecológica, morreu na manhã desta quarta-feira (02), em Paris, aos 96 anos. A informação foi publicada por Romain Huret, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (École des Hautes Études en Sciences Sociales- EHESS), onde Sachs lecionou e também foi diretor.

Um dos economistas que ajudou a elaborar a declaração final da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo, de 1972, Sachs é conhecido por cunhar o termo ‘ecodesenvolvimento’, que prevê a integração das dimensões econômicas, sociais e ambientais no planejamento do desenvolvimento.

Entre suas obras, destacam-se os livros “Estratégias de transição para o século XXI”, publicado em 1993, e “A Terceira Margem” (2009), em que reuniu suas memórias.

“Sachs era contrário à ideia de que a preservação do meio ambiente dependia de paralisar o crescimento econômico. O mais importante era entrar no mérito, na qualidade deste crescimento econômico”, diz à Folha o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Abramovay, que conviveu com o pensador.

Abramovay explica que a avaliação do crescimento feita por Sachs considerava dois ângulos: o que a economia oferece à vida social e em quais técnicas ela se apoia. Crítico do culto ao consumismo, que não garante uma vida melhor.

“Para ele, mais importante que o número do PIB é conhecer os fluxos materiais e energéticos de que se compõe a vida econômica”, conta Abramovay.

“E é importante dizer: era um exímio contador de histórias, cativante. Com um bom humor notável. E tinha um amor pelo Brasil, país cuja maior riqueza, dizia ele, é o sol. O sol? Sim, fotossíntese, energias renováveis e por aí vai”, completa.

“Ele foi um apaixonado pelo Brasil e sempre acreditou que uma economia baseada na vida seria a redenção do país de suas renitentes espirais de pobreza, fome e subdesenvolvimento”, afirma o jornalista Dal Marcondes, diretor da agência Envolverde.

“Em suas aulas, principalmente na PUC de São Paulo, onde hoje existe a Cátedra Ignacy Sachs, ele apontava que o Brasil havia perdido todas as grandes revoluções tecnológicas dos últimos séculos e repetia com vigor que a bioeconomia é a revolução que o Brasil deve liderar”, completa.

De origem polonesa e naturalizado francês, Sachs nasceu na Polônia em 1927. Sua família se refugiou no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e ele concluiu a graduação em Economia na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro.

Tornou-se pesquisador, tendo passado pelo Instituto Polonês de Assuntos Internacionais e pela Universidade de Varsóvia, e também foi diplomata. Nos anos 50, serviu à Embaixada da Polônia na Índia, onde concluiu o doutorado na Universidade de Delhi, com uma tese sobre modelos do setor público em economias subdesenvolvidas. Em 1985, criou o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo (CRBC), hoje parte do laboratório American Worlds.

Sachs esteve duas vezes no centro do programa Roda Viva, em 1998 e 2007. No último, o apresentador Paulo Markun o descreve como “o estrangeiro que mais estudou e conhece o Brasil”.

Fonte: UOL