Problemas: a revista teórica dos comunistas entre 1947 e 1956
Editada pelo Partido Comunista do Brasil, a Problemas – Revista Mensal de Cultura Política, foi a principal responsável pela recepção e circulação da teoria marxista no Brasil entre 1947 e 1956
Por Theófilo Rodrigues
Em agosto de 1947, há 76 anos, saiu da gráfica a primeira edição da Problemas – Revista Mensal de Cultura Política, periódico editado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB).
Entre agosto de 1947 e dezembro de 1949, a revista teve Carlos Marighella como diretor. De janeiro de 1950 a junho de 1956, a tarefa coube a Diógenes Arruda.
Na Apresentação de seu primeiro número, lemos que o objetivo da revista era divulgar “as idéias do marxismo-leninismo-stalinismo”. Essa apresentação não foi assinada, mas é intuitivo imaginar que tenha sido escrita pelo seu primeiro diretor, Carlos Marighella.
Impressiona também na Apresentação daquele primeiro número a forma como o grande líder do partido naquele momento, Luiz Carlos Prestes, era identificado: “Prestes se agigantou na sua contribuição ao marxismo-leninismo-stalinismo em nosso continente, mostrando assim, na prática, que soube ser em toda a América, o mais agudo intérprete do marxismo criador”, avaliava o texto. Diga-se de passagem, havia textos de Prestes em praticamente todas as edições da revista.
Artigos de Stalin também foram recorrentes na Problemas. Com efeito, Stalin era o grande líder internacional dos comunistas no período em que a revista foi editada, o que justificava sua presença permanente.
O que talvez seja menos intuitivo é imaginar o nome de Antonio Gramsci por ali. Mas é o que pode ser visto. A segunda edição, que foi publicada em setembro de 1947, trazia um artigo do Secretário-Geral do Partido Comunista Italiano, Palmiro Togliatti, intitulado Antonio Gramsci. Trata-se da reprodução de um discurso de Togliatti por ocasião do décimo aniversário da morte de Gramsci. “O segredo deste nosso sucesso está no fato de que nós fomos e continuamos fiéis ao pensamento de Gramsci”, dizia o texto de Togliatti na revista. Na edição n. 25, publicada em abril de 1950, um texto ainda mais aprofundado de Togliatti sobre Gramsci apareceu na revista.
A maior parte dos textos da Problemas eram de marxistas do cenário internacional. Mas também havia comunistas brasileiros que escreviam com certa frequência na revista como Mauricio Grabois e João Amazonas, além, é claro, de Arruda, Marighella e Prestes.
Não obstante sua importância para a recepção e circulação do pensamento marxista no Brasil, sua existência durou apenas nove anos. As denúncias contra Stalin, divulgadas no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em 1956, causaram grande estardalhaço no mundo. No Brasil, uma das vítimas foi a revista Problemas, que encerrou suas atividades logo após a realização daquele Congresso.
Theófilo Rodrigues é mestre em Ciência Política pela UFF e doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio. Realizou Pós-Doutorado em Ciências Sociais na UERJ.
Diversos números da revista Problemas podem ser encontrados aqui.
Reproduzimos abaixo a íntegra da Apresentação do primeiro número da Problemas que saiu em agosto de 1947.
Apresentação
Iniciamos com o presente número de Problemas, a publicação mensal de uma revista de cultura política, tendo por base a divulgação e o debate de artigos e estudos marxistas. Nunca é demais repetir a clássica afirmação, tantas vezes já confirmada pelos fatos, de Lenin, de que sem teoria revolucionária não pode haver tampouco movimento revolucionário. Torna-se indispensável, de fato, em nossa terra, difundir o conhecimento e o debate das idéias marxistas-leninistas como uma contribuição básica para o desenvolvimento da luta de nosso povo, em defesa da democracia, da independência e do progresso de nossa Pátria. O marxismo-leninismo é a teoria de vanguarda do proletariado, a ciência social que conduz a humanidade à democracia e ao progresso, é um método de análise aplicado a todos os conhecimentos humanos, é a cultura em marcha, em seu duplo sentido geral de crítica e criação com a herança de todo o patrimônio cultural do passado, com a aquisição de novos valores e de novas experiências baseadas na atividade prática. A vitória dos povos livres contra o nazi-fascismo foi, em última análise, conquistada graças ao marxismo-leninismo. Só o marxismo-leninismo foi capaz de apreciar corretamente a natureza de classe do fascismo. Desde as suas manifestações iniciais, os guias do proletariado revolucionário compreenderam que o fascismo era a “ditadura terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”. Com essa definição de Dimitrov, os comunistas manejaram a teoria marxista-leninista-stalinista no fogo dos combates contra o fascismo, e foi possível salvar a humanidade da barbárie fascista. Com essa teoria que está dominando, dia a dia, todas as esferas da atividade humana, pôde a classe operária organizar a sua luta pelo socialismo – a milenar aspiração da humanidade — construir já a sociedade socialista numa sexta parte do mundo e criar assim condições para a abolição da exploração do homem pelo homem, das causas da guerra e da ignorância e miséria em que vive ainda a grande maioria das populações do globo.
Em nossa terra, são ainda muito deficientes os estudos do marxismo. Contudo, nestes últimos dois anos depois da guerra contra o nazismo, avançamos muito no caminho das liberdades elementares e com a legalidade do Partido Comunista o movimento operário tomou grande impulso, nosso povo começou a pensar politicamente graças à aplicação da teoria de vanguarda nas lutas pela democracia em nossa terra. Os documentos do PCB entre os quais se destacam as lições magistrais de Prestes abriram um caminho novo no pensamento brasileiro com uma importância, um conteúdo, com tamanhas conseqüências que ultrapassam a influência das idéias da Revolução Francesa e da Revolução Americana na Inconfidência Mineira e em todas as lutas pela Independência e do Positivismo na campanha da Abolição e da República.
Prestes, como um grande teórico marxista-leninista, soube encontrar a solução brasileira dos problemas brasileiros e assim caracterizou os fundamentos da nossa Revolução Democrático Burguesa. Soube, com excepcional vigor, confirmar o que ensina Kalinin:
“Que queremos dizer quando dizemos: compreender completamente o marxismo-leninismo? Como devemos compreender isto? Significa aprender de memória e textualmente conclusões e fórmulas já feitas? Ou significa a dominação da essência do marxismo-leninismo e a habilidade de aplicar esta teoria como um guia para a ação na vida social, política e pessoal? Este último significado será o mais verdadeiro, o mais correto, o mais importante. É o principal do marxismo-leninismo. E quando dizemos “dominar o marxismo-leninismo” isto significa aprender a vê-lo dinamicamente”.
Com essa compreensão é que Prestes se agigantou na sua contribuição ao marxismo-leninismo-stalinismo em nosso continente, mostrando assim, na prática, que soube ser em toda a América, o mais agudo intérprete do marxismo criador.
Esta revista é uma revista em defesa da democracia, do progresso e da independência de nossa Pátria. Divulgando as idéias do marxismo-leninismo-stalinismo, publicando em seu texto estudos e outros trabalhos de interpretação científica dos problemas internacionais e nacionais, acreditamos estar fazendo obra de patriotismo e de cultura, com a confiança e o otimismo de que nossa Pátria em breve sairá liberta dos restos do fascismo e da dominação imperialista.