João Batista Drummond é homenageado na UFMG
O comunista mineiro foi morto pela ditadura militar após a Chacina da Lapa
Um histórico ato foi realizado na manhã desta sexta-feira (01/09) na UFMG, para homenagear o economista mineiro João Batista Drummond.
Dirigente do PCdoB, Drummond foi morto logo após ter sido preso no evento conhecido como a Chacina da Lapa, em 1976.
O evento reuniu centenas de militantes que combateram a ditadura, gestores públicos, professores, estudantes e familiares, com destaque para a viúva, Maria Ester Cristeli Drummond, os netos e o irmão, Augusto Drummond.
Para Maria Ester Cristelli Drummond, viúva de João Batista, a homenagem ao estudante carrega um sentido de reparação. “Ela nos toca imensamente e é uma resposta magnífica para a reabilitação que almejamos”, afirmou Maria Ester.
Como relatou a viúva, ela e as filhas foram impedidas de comparecer ao enterro de João Batista, “e até de conversar, em segurança, sobre o fato”. Segundo Maria Ester, as filhas tampouco podiam conhecer o verdadeiro nome do pai.
“Os órgãos da repressão proibiram a divulgação do horário e do local do sepultamento, que foi realizado na calada da noite, com caixão fechado. O atestado de óbito continha a falsa versão da morte, por atropelamento, amplamente divulgada pela imprensa e corrigida, definitivamente, em 2014”, lembrou a viúva, em pronunciamento emocionado.
Maria Ester descreveu fatos relacionados, segundo ela, “com a significação ética da homenagem”. Entre eles, o episódio em que seu neto Marcos, então com 11 anos, falou, com colegas de classe, sobre a história do avô, que foi torturado e morreu na prisão. “Os colegas, pensando que se tratava de lorotas, deram gargalhadas. Muito surpreso e desapontado, Marcos perguntou o que havia de engraçado. A professora optou por conversar com ele à parte, explicando como tudo aquilo poderia parecer surreal para as outras crianças”, relatou.
Entre os quadros do partido, estiveram presentes Aldo Arantes, militante histórico que esteve com Drummond no dia de sua prisão e morte, e Jô Moraes, ex-deputada federal e atual presidente do PCdoB em BH.
O ex-deputado federal Aldo Arantes, que sobreviveu à Chacina da Lapa, episódio que vitimou João Batista Drummond e outros militantes, parabenizou a UFMG pelas homenagem ao colega. “É muito simbólico. A defesa dos direitos humanos tem estreita relação com a luta pela democracia”, disse.
De acordo com Jô Moraes, “homenagear Drummond é reconstruir seus passos que levarão o país rumo ao futuro que ele sonhava”. Jô ressaltou que Drummond foi “um jovem guerreiro que dedicou sua vida até a morte para resgatar uma geração dos porões da ditadura”.
O Diretório Acadêmico (DA) da Face foi, recentemente, rebatizado com o nome de João Batista Drummond. Para a diretora Kelly Paiva, o ato foi uma forma de reafirmar o compromisso da unidade com a memória, a verdade e a justiça. “Inclusive, na luta pela responsabilização dos militares anistiados, provenientes dos porões dos quais Bolsonaro também nasceu. O ato de hoje também é um enfrentamento ao reacionarismo”, acrescentou, falando em nome do DA.
Trajetória
Nascido em 1942, em Varginha, João Drummond estudou Economia na UFMG de 1961 a 1966. Antes de se tornar ativista e dirigente do PCdoB, ele presidiu o Diretório Acadêmico da UFMG (1964-1965) e foi um dos organizadores do 27º e do 28º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Integrou também a Ação Popular (AP), a partir de 1963, a Ação Popular Marxista-Leninista (APML), em 1969, e o Comitê Político, em 1971.
Julgado pela Justiça Militar, João Batista Franco Drummond teve seus direitos políticos cassados e foi condenado a 14 anos de prisão. No dia 15 de dezembro de 1976, ele foi preso após sair de uma reunião do PCdoB, na região da Lapa, em São Paulo.
Os relatos sobre sua morte eram contraditórios. Confronto com agentes dos órgãos de segurança, tiroteio e atropelamento foram causas indicadas por diferentes órgãos de Estado. Em 1993, a família de João Batista moveu uma ação contra a União e, após análise dos documentos, a Justiça Federal reconheceu que Drummond faleceu na sede do DOI-Codi, em 16 de dezembro de 1976. A decisão foi a primeira a atribuir responsabilidade aos agentes da ditadura pela chamada Chacina da Lapa.
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Foto: Júlio Soares
Com informações da UFMG e de Júlio Soares