Sérgio Barroso escreve sobre Eduardo Bomfim
Artigo de A. Sérgio Barroso sobre o falecimento do ex-deputado Eduardo Bomfim
O coração espremeu-se. O chão como que escorregava. Do Rio, Batista Lemos me deu a notícia, antes do mais expressando seus sentimentos. “Você tem certeza, Batista?”
Ao ver o telefone, lotado de mensagens não atendidas, me dei conta da trágica passagem. Um turbilhão de imagens.
Eduardo Bomfim me “recrutou” ao PCdoB no início de 1979. Dois anos antes, Aldo Rebelo já havia me apresentado ao Partido, mostrando-me um exemplar de “A Classe Operária”, e passado faixas da “Rádio Tirana’ (Albânia), das de “Moscou” e “Pequim”; no famoso e potente “Transglobe”. Mas o PCdoB já estava comigo desde dezembro de 1976, quando, numa das reuniões para a reconstrução da UNE (União Nacional do Estudantes), em Salvador (BA), vi numa banca de jornais a foto estampada da “Chacina da Lapa”.
Calculo que conversamos, madrugadas adentro, centenas de vezes, várias delas com a doce presença e participação de Maria Yvone, sua ex-companheira. Sempre regadas a cerveja – sempre. “Bomfas”, como o chamava – “Barrios!”, ele retrucava” – tinha uma verve especial: era dificílimo não se render aos argumentos de Eduardo, leitor voraz e culto.
Lugar comum dizer que Bomfim ajudou a formar dezenas de militantes políticos, jovens, homens e mulheres. Quadros do PCdoB que se espalharam Brasil afora, além de filiados a outros partidos. Isso se devia a sua grande capacidade de liderança, principalmente. Com ele aprendi grande parte do “fazer política” consequente, e entender a construção “dos meios de concretizar a tática”.
Eduardo Bomfim foi um revolucionário provado, digno homem público, inimigo da demagogia e dos(as) interesseiros(as) bajuladores(as) e amesquinhados(as). Como parlamentar e executivo público deu sobejas demonstração de integridade e moral elevada. Como disse bem Rebelo, na despedida, Bomfim é daquela plêiade de líderes políticos raros e expressão viva da alagoanidade.
Bomfim não estava mais no PCdoB – em seu caso, detalhe. Admiramos pessoas que passam em nossas vidas e nunca queremos esquecê-las. Comunistas de “estrada” costumam ser eloquentes, mas, apesar de um ou outro apelo, não conseguiria dizer algumas palavras na sua partida, pela primeira vez na vida. Não conseguiria terminar.
A Pedro Nelson, seu irmão e amigo velho; a Thiago e Manuela, filhos que acompanho desde a infância; a Selma Vilela, sua companheira, as minhas condolências.
A Eduardo Bomfim minha saudade.