Doutor Araguaia: um filme sobre João Carlos Haas Sobrinho
Na foto estão Osvaldo Bertolino, Alessandra Stropp, Felipe Spadari, Sonia Maria Hass, Zezinho do Araguaia, Edson Cabral, Adalberto Monteiro e Fernando Garcia
Por Osvaldo Bertolino
Em visita à Fundação Maurício Grabois na tarde da sexta-feira (21), Edson Cabral, diretor do filme Doutor Araguaia, sobre o médico e guerrilheiro João Carlos Haas Sobrinho – o doutor Juca –, exibiu a versão atual para ajustes e considerações. Com ele estava Sonia Maria Haas, irmã de João Carlos e produtora do filme, e Alessandra Sropp, editora de imagens do filme. Foram recebidos pelo secretário nacional de Formação e propaganda do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Adalberto Monteiro, pelo ex-guerrilheiro Zezinho do Araguaia e pelos pesquisadores do tema Fernando Garcia, Osvaldo Bertolino e Felipe Spadari.
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Em entrevista ao Portal Grabois, Cabral e Sonia agradeceram o apoio da Fundação Maurício Grabois e do PCdoB. Comentaram a trajetória do filme, concebido após conhecimento de um episódio em que a ação do doutor Juca salvou uma vida. Era um dos muitos casos que ficaram na lembrança da população por onde ele passou. A partir desse fato, Cabral e Sonia iniciaram a pesquisa e visitaram diversos locais do país para formar o acervo que seria refinando para a produção do filme. Começaram pela família, com o resgate da memória de João Calos dos tempos da infância, da adolescência e de liderança estudantil. E chega à Guerrilha do Araguaia.
João Carlos Haas Sobrinho é um dos personagens mais emblemáticos da Guerrilha do Araguaia, a luta do PCdoB que combateu a ditadura militar no Sul do Pará. Segundo João Amazonas, histórico dirigente comunista, o Partido cumpriu seu dever de procurar, em condições difíceis, o caminho da resistência, preparando o fim do regime de tirania implantado no Brasil, a ditadura militar. “Cumpriu o seu dever e cumprirá em qualquer circunstância, porque é um Partido integrado com as raízes do nosso povo e que aspira a um regime de liberdade, de justiça social, de esperança para a nossa gente”, disse.
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Amazonas esteve à frente dessa luta, ao lado de Maurício Grabois, também ideólogo do Partido, o comandante militar da Guerrilha morto em combate. O PCdoB compreendia que seu dever naquele momento passava pelo caminho da guerra povo. A decisão pela preparação da Guerrilha veio de sua história de lutas, de suas interpretações da realidade brasileira de acordo com os acontecimentos mundiais, uma convicção que levou à uma vasta produção teórica sobre as opções de resistência à ditadura, que compreendia, além da guerra popular, a luta estudantil e dos trabalhadores.
Emboscada da ditadura
João Carlos ingressou no PCdoB nesse contexto. Nascido em 24 de junho de 1941 em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois de presidir o Centro Acadêmico, eleito em agosto de 1963. Foi afastado logo após o golpe, em abril de 1964, e detido pelo Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops). Sua matrícula na Faculdade foi suspensa. Reintegrado por uma mobilização de estudantes e por ser considerado bom aluno, formou-se um ano depois.
Em 1966, suas atividades políticas levaram o serviço de informações do III Exército, sediado em Porto Alegre, a considerá-lo “subversivo”. Por sua condição de perseguido político, foi um dos primeiros guerrilheiros a chegar na região do Araguaia, em 12 de julho de 1967. Instalou-se inicialmente na cidade de Porto Franco, no Maranhão, divisa com o Pará, onde rapidamente se tornou um médico popular.
O doutor João Carlos, como ficou conhecido, com a ajuda de autoridades locais e da população montou um pequeno hospital e não escolhia dia e hora para atender aos pacientes de uma região que nunca vira um médico. Às vezes percorria longas distâncias para prestar socorro na zona rural ou em outras cidades da vizinhança. Com ele estavam na cidade outros militantes do PCdoB, entre eles Elza Monnerat e Maurício Grabois. Ainda hoje, sua memória é reverenciada na região.
Quando deixou a cidade para se integrar à Comissão Militar da Guerrilha, no Pará, houve uma comoção popular. Segundo relatos, um padre local teria mobilizado outros sacerdotes, prefeitos e personalidades da região para tentar fazê-lo mudar de ideia. Uma reunião de emergência decidiu que o povo seria convocado para a praça em frente ao hospital. As informações dão conta de que mais de três mil pessoas estiveram no local. Mas não houve jeito.
Na manhã do dia seguinte, o doutor João Carlos deixou a cidade. Foi para as matas do Araguaia, na região de São Geraldo, onde adotou o nome de Juca e igualmente tornou-se muito popular. Em 30 de setembro de 1972, foi vítima de uma emboscada da ditadura e morto, quando chefiava um grupo de guerrilheiros numa movimentação dos destacamentos guerrilheiros. Maurício Grabois disse que ele oferecia melhores condições para aquela missão, por ser o mais conhecido da população.