Princípios 169: Em defesa do desenvolvimento no sentido pleno da palavra
Publicada pela Editora Anita Garibaldi, a revista Princípios (Qualis A3) é o periódico científico marxista mais antigo do Brasil. (ISSN:1415-7888; E-ISSN: 2675-6609)
Acaba de ser lançada a nova edição da revista Princípios 169.
A retomada do desenvolvimento é o grande desafio do governo Lula, e constitui o cerne do programa aprovado nas urnas em 2022. Princípios volta a esse tema em sua edição de número 169, que dá continuidade ao debate sobre o desenvolvimento, a defesa da democracia, a afirmação da soberania nacional e a reconstrução do país após os desastrosos anos de Jair Bolsonaro à frente do poder central da República.
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Na edição anterior, Princípios abordou a problemática do desenvolvimento dando ênfase à dimensão econômica. Obviamente, o tema vai além. Abarca os mais variados desafios nos campos social, cultural, ambiental, diplomático, científico e tecnológico, entre outros. Nesta segunda parte do dossiê “Desafios do governo Lula” publicamos artigos sobre essas outras dimensões do desenvolvimento, bem como sobre suas interações e sinergias.
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O dossiê abre com artigo do secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luis Fernandes, que discorre sobre a centralidade da área para a geração de riquezas e sua inegável importância geopolítica. Fernandes aborda os desafios enfrentados pelo Brasil desde os anos 1990 na área de CT&I, expondo os programas e estratégias que têm sido mobilizados pelo novo governo. Trata-se de um tema estratégico: não é possível implementar a reindustrialização em novas bases tecnológicas – um dos objetivos centrais do terceiro governo Lula – sem realizar fortes investimentos em ciência, tecnologia e inovação.
Fica evidente, no mesmo sentido, que nossas relações diplomáticas precisam internalizar a busca de um caminho autônomo, que vise superar as condicionalidades do consenso neoliberal, assim como as imposições de grandes potências capitalistas, e se coloque a serviço do desenvolvimento soberano do país. Para isso, devemos aproveitar a tensa transição geopolítica que ocorre atualmente no mundo para retomar o processo de integração latino-americana e fortalecer nossas relações com os Brics+6. Destaca-se, nesse âmbito, o papel hoje desempenhado pela China, nação com a qual o Brasil acaba de completar 50 anos de relações diplomáticas. A colaboração Brasil-China, tema de dois artigos veiculados no dossiê desta edição, tem sido mutuamente proveitosa nas mais diversas áreas, e precisa ser aprofundada.
Partimos do pressuposto de que o desenvolvimento alavancado pela robustez do setor produtivo da economia deve ser benéfico não para rentistas e especuladores, mas para os trabalhadores, os segmentos sociais vulneráveis e as amplas maiorias da população, que precisam conhecer a melhoria de suas condições de subsistência e de vida.
Só assim o projeto nacional de desenvolvimento será digno desse nome. Não se trata de mero crescimento econômico ou da modernização incremental de setores produtivos.
Como fica demonstrado na catástrofe do Rio Grande do Sul, o desenvolvimento também deve ser ambientalmente sustentável. É necessário avançar numa transição energética-ambiental que, sem sacrificar perspectivas de prosperidade econômica e sem render-se ao colonialismo ambiental, aponte para um novo modelo de desenvolvimento, capaz de garantir a plena sustentabilidade dos ecossistemas nacionais.
Fortalecer a cultura nacional, ou seja, realizar a emancipação cultural, descolonizar mentes, é outro grande desafio. Ele ganha escala ampliada no terreno da produção audiovisual – objeto de um dos artigos do dossiê. Fazer com que o Brasil veja a si mesmo e entenda sua própria realidade significa proporcionar condições para que acreditemos mais em nós mesmos. A fim de retomar a estrada larga do desenvolvimento, é preciso entendê-lo, nos termos de Celso Furtado, como transformação das estruturas não apenas econômicas, mas também sociais, políticas e culturais.
Ladeando as contribuições publicadas na segunda parte do dossiê “Desafios do governo Lula”, Princípios veicula ainda, na presente edição, artigos sobre o impacto das desigualdades sociais na condição de saúde das mulheres; os diferentes usos do termo revolução brasileira, por correntes de pensamento diversas, ao longo da história; as similaridades exibidas pela retórica conservadora em distintos espaços e tempos; a vida e a obra do conde de Saint-Simon, nome associado à fundação do pensamento socialista; os aspectos de resistência contra-hegemônica que se materializam no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), política pública interrompida durante o governo Bolsonaro.
Princípios volta a publicar a seção “Diálogos e Debates”, que neste número traz uma entrevista com Gabriel Rockhill, professor de Filosofia da Universidade de Villanova (Pensilvânia). Ele conversa com Zhao Dingqi, pesquisador do Instituto de Marxismo da Academia Chinesa de Ciências Sociais, sobre as estratégias e aparelhos ideológicos do imperialismo; o estágio e as tarefas atuais da teoria marxista; o crescimento avassalador do neofascismo em todo o mundo; e as táticas para resistir à hegemonia das classes dominantes, entre outros temas. O diálogo, originalmente publicado em mandarim no volume 11 de World Socialism Studies, e republicado em inglês no volume 75, número 7 da revista nova-iorquina Monthly Review, ganha tradução em português exclusiva para a Princípios.
Na resenha da edição, o economista Marcelo Fernandes registra suas impressões e destaca as lições contidas no livro Imperialismo e questão europeia, do saudoso pensador marxista italiano Domenico Losurdo, cujas elaborações, inspiradas no marxismo-leninismo, continuam a reverberar pelo campo da esquerda em todo o mundo.
Desejamos uma boa leitura!
A Comissão Editorial
Comissão Editorial , Editora Anita Garibaldi
Júlio Vellozo, Fábio Palácio, Nilson Weisheimer, Theófilo Rodrigues, Ana Maria Prestes e Cláudio Gonzales