Mundo do Trabalho: A era digital sob a luz da centralidade do trabalho
Coordenador do Grupo de Pesquisa da FMG sobre a Era Digital, Rogério Nunes avalia a questão do trabalho nessa nova época
Vivemos em uma nova era: a era digital. O desenvolvimento do sistema capitalista com seu triunfo no século XIX no mundo ocidental – que Eric Hobsbawm nomeia como a Era do capital –, tem se mostrado como um contínuo processo de aperfeiçoamento dos meios de produção para a otimização, aceleração e dinamismo da produção de mercadorias. A era digital do nosso tempo se insere nesse processo histórico.
A rigor, era digital, ou era da informação, é uma expressão usada para designar a forma como a informação é processada e transmitida, via equipamentos eletrônicos que ao longo do século XX se desenvolveram rapidamente, tais como o transistor e o amplificador óptico.
Os primórdios do nosso gênero, desde o primeiro momento em que a espécie humana agiu teleologicamente, via relação sujeito – objeto, transformando a natureza e a si próprio e usufruindo desse novo objeto objetivado no seu cotidiano, transformamos algo ideal em algo real. Os objetos criados, tanto para o consumo como para trocas de escambos, tinham valores de uso. Objetivavam satisfazer as necessidades humanas vitais, tais como, comer, vestir, proteger etc. e principalmente reproduzir. Sociedades primitivas viviam sem mais trabalho.
Com o desenvolvimento das habilidades e com o acúmulo de conhecimentos gerados a partir dessas novas criações humanas, novas objetivações, não paramos de criar não só novos objetos de consumo, mas também novos objetos com a finalidade de melhorar a produção material. Passamos pelos sistemas do comunismo primitivo, do escravismo e do feudalismo e adentramos no nosso sistema capitalismo. Um padrão conceitual de referência ocidental, mas não podemos de mencionar o modo asiático de produção com quase 5 mil anos de existência, portanto, bem antecedente à referência ocidental.
Ao fim e ao cabo, o que nos move para falar sobre a era digital atual é, com esse resgate histórico, situar nossa compreensão sob o ângulo da concepção materialista-histórica da sociedade, e entender a fase atual. Para nossa análise da nova era é mister adentrar nos meandros do sistema capitalista, entender e justificar que todo o avanço tecnológico por esse sistema impulsionado tem como fim, como expressão teleológica, a produção de objetos, sob forma de mercadorias, isto é, com valores e uso e troca neles embutidos.
Era digital é, portanto, um momento de um processo histórico-social.
Nossa era digital está inserida ao modo de produção capitalista. Ela é parte constitutiva do desenvolvimento desse sistema social de produção, é consequência da primeira revolução tecnológica – a Revolução Industrial. Faz parte de toda uma série de iniciativas do capital de fomentar o desenvolvimento das ciências naturais para os interesses da classe detentora do capital – a classe capitalista.
A era digital, com a análise do modo de produção capitalista e sob a concepção marxista, atua tanto no processo de produção como no de circulação de mercadorias ao diminuir os custos desses processos. A rapidez e otimização das informações viabilizam diretamente a diminuição dos custos de produção e circulação de mercadorias. Quanto menos tempo na compra e venda de mercadorias, menores os custos.
A técnica, assim entendida, deixa de possuir um caráter de fetichização, não possui caráter autônomo e inseparável, conforme assertivamente propõe Lukács. O trabalho é que rege, desde os primórdios do generidade humana, as mudanças, tanto subjetiva como objetivamente em nossa existência específica, nossa ontologia social.
É sob esse prisma materialista histórico que nos debruçaremos para a analisar a era digital, e suas derivações como Inteligência Artificial dentre outras, para contribuir no processo investigativo da Fundação Maurício Grabois – FMG. Contaremos também com um leque de renomados pesquisadores, ativistas e militantes que doravante contribuirão no Grupo de Pesquisa de nossa FMG.
Fontes bibliográficas:
Castells, Manuel. The information age: economy, society and culture. Oxford, Wiley-Blackwell; 1999.
HOBSBAWM, Eric. A era do capital, 1848 – 1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
LIKÁCS, György. Para uma antologia do ser social. 1 ed. – São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
MARX, Karl. O capital, crítica da economia política. Livro I. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
MARX, Karl. O capital, crítica da economia política. Livro II. São Paulo: Boitempo, 2014. (Marx – Engels)
Carlos Rogério de Carvalho Nunes – Coordenador do Grupo de Pesquisa 04 – Trabalhadores e a Era digital da FMG.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG