“Lênin: uma introdução”, novo livro de João Quartim de Moraes
Resenha de Theófilo Rodrigues sobre o novo livro de João Quartim de Moraes. “Lênin: uma introdução”, sai pela editora Boitempo.
Ao longo deste ano, o centenário de Vladimir Ilitch Ulianov Lênin (1924-2024) propiciou uma série de publicações sobre o revolucionário russo. Entre elas, merece destaque a coletânea Lênin, um século depois, organizada por Aloísio Barroso e Osvaldo Bertolino, obra que saiu pela Ed. Anita Garibaldi em parceria com a Fundação Maurício Grabois. Lançado bem no início do ano, o livro conta com artigos de 30 especialistas que aprofundam os mais diversos aspectos do seu pensamento.
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Agora, neste segundo semestre, na mesma toada do centenário de Lênin, o professor João Quartim de Moraes lançou pela editora Boitempo o tão aguardado Lênin: uma introdução. Com 5 capítulos e 144 páginas, o livro percorre a trajetória biográfica de Lênin, mas também as suas construções teóricas.
Como diz o título, trata-se de uma introdução, uma apresentação de Lênin para o grande público. Mas essa apresentação é feita com rigor e com a profundidade característica de João Quartim de Moraes.
Para Lênin, a teoria política nunca foi uma mera abstração metafísica. Ao contrário, seu pensamento sempre esteve profundamente conectado com a realidade concreta, com a conjuntura, com os movimentos e as ações dos atores políticos. Reside justamente aí a grande riqueza da introdução de Moraes: demonstrar os laços de conexão entre a teoria lenineana e a práxis.
Seu primeiro capítulo trata dos anos de formação, período que vai de seu nascimento em 1870 até a ida para o exílio em 1900. Momento definidor, nesses primeiros 30 anos de vida Lênin leu a obra de Marx, assistiu seu irmão ser assassinado pelo Estado sob a acusação de terrorismo, redigiu brilhantes textos como Quem são os ‘amigos do povo’ e como lutam contra os social-democratas? e O desenvolvimento do capitalismo na Rússia e foi preso na Sibéria.
O segundo capítulo descreve a construção do partido revolucionário. Entre 1900 e 1906, Lênin dedicou-se inteiramente ao projeto de construção do partido, o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Em verdade, o POSDR havia sido fundado em 1989, sem a presença de Lênin, que estava na prisão. Após 1900, seus esforços voltaram para essa tarefa organizativa. Primeiro, com a criação do Iskra – A centelha – jornal que difundiria as ideias do novo partido. Foi justamente no Iskra que ele publicou em 1902 Que fazer?, um de seus textos mais conhecidos. Nos anos seguintes, participou ativamente do II Congresso do POSDR em 1903 e do III Congresso em 1905. Desse período saíram textos como Um passo em frente, dois passos atrás (1904) e Duas táticas da social-democracia na revolução democrática (1905).
O terceiro capítulo discute o período entre 1906 e 1914 que antecedeu a Grande Guerra. Esse é o momento em que Lênin faz um mergulho nos estudos filosóficos e daí surge Materialismo e empiriocriticismo (1908). Mas é também desse contexto que ele atualiza a tática revolucionária com a publicação do Programa agrário da social-democracia na primeira revolução russa (1907). O Programa agrário é um verdadeiro clássico da sociologia leninista, obra em que Lênin apresenta as duas vias de desenvolvimento capitalista: a “via prussiana” e a “via americana”. Embora Quartim não mencione, esse é o tema que mais tarde Antônio Gramsci desenvolverá em torno do conceito de “Revolução Passiva” e que Barrington Moore chamará de “modernização conservadora”.
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O objeto do quarto capítulo é a primeira guerra mundial e a participação dos comunistas entre 1914 e 1917. Vale lembrar que naquela ocasião o movimento comunista internacional estava dividido: alguns partidos socialdemocratas apoiaram a entrada de seus países na Guerra, caso do SPD de Kautsky na Alemanha; os comunistas russos liderados por Lênin foram críticos dessa posição e, assim, começou o desmantelamento da II Internacional. Desses embates políticos, mas também teóricos, surgiu o seu magistral Imperialismo, estágio superior do capitalismo (1917), texto em que atualizou a teoria marxista e reelaborou as teses de economistas como John Hobson e Rudolf Hilferding. Mas, além da Guerra, esse também era o tempo da revolução. E Lênin percebeu isso argutamente como sugerem as suas Teses de Abril escritas no contexto da Revolução Russa de 1917.
Por fim, o último capítulo remete ao que Quartim definiu como “os últimos combates de Lênin”, ou seja, o período que vai da Revolução Russa de 1917 até a morte do líder revolucionário em 1924. Esse é o momento em que o Estado soviético estava em construção e precisava de uma teoria para sustentá-lo. E essa teoria política veio com O Estado e a revolução, obra em que Lênin retomou os apontamentos dispersos de Marx e Engels e sistematizou o que seria a ditadura do proletariado e a extinção do Estado. Também era necessária uma teoria econômica, pois o país estava em crise após a Guerra. Assim, com detalhes, Quartim descreve como se deu a chamada Nova Política Econômica (NEP), projeto de Lênin que autorizava o capitalismo privado nas pequenas indústrias e a liberdade de comércio no campo.
Lênin: uma introdução é um livro que merece ser divulgado amplamente. No melhor espírito da agitação e propaganda, trata-se de uma obra que deve ser apresentada às novas gerações interessadas em conhecer a vida e a obra do maior construtor do socialismo da história.
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Theófilo Rodrigues é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG