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    China

    2024, um ano memorável para as relações Brasil-China

    Pesquisador do Centro Brasileiro de Estudos da China, da FMG, José Medeiros apresenta os resultados do seminário internacional “O 50º Aniversário das Relações Diplomáticas entre China e Brasil e Um Novo Modelo de Relações Internacionais”. Foto: Ricardo Stuckert/PR

    POR: José Medeiros da Silva e Yang Chuqiao

    2024 foi sem dúvida um ano memorável para as relações Brasil-China. Os 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas Brasil-China foram celebrados de diversas formas, tanto no Brasil quanto na China. No plano político-diplomático, o ponto alto das comemorações foi o encontro dos presidentes Lula e Xi Jinping em Brasília no dia 20 de novembro, por ocasião de uma visita de Estado. Na oportunidade foram assinados 37 acordos bilaterais e “os chefes de Estado anunciaram a elevação das relações entre os dois países à Comunidade de Futuro Compartilhado China-Brasil por um Mundo mais Justo e um Planeta mais Sustentável”.

    Aqui na cidade de Hangzhou, o jubileu foi celebrado com o seminário internacional “O 50º Aniversário das Relações Diplomáticas entre China e Brasil e Um Novo Modelo de Relações Internacionais”, organizado pela Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang (ZISU) e a Escola de Relações Internacionais da Universidade de Pequim. O evento, presencial e online, ocorreu entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2024 e contou com a participação de importantes acadêmicos de diversas instituições brasileiras e chinesas.

    Na cerimônia de abertura, dirigida pelo prof. Dr. Fan Jieping, diretor da Faculdade de Línguas Ocidentais da ZISU, o vice-reitor da ZISU e membro do Comitê do Partido, professor Mao Zhenhua, destacou que a construção de um novo tipo de relações internacionais tendo a cooperação ganha-ganha como núcleo é uma parte importante do pensamento de Xi Jinping sobre a diplomacia.

    Já o diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Dr. Tiago Emmanuel Nunes Braga, salientou a importância da cooperação acadêmica e a centralidade da integridade da informação para o aprofundamento dessas relações.

    Por sua vez, o prof. Zhang Haibin, vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da Universidade de Pequim, destacou que os esforços conjuntos com a ZISU na promoção dessa conferência tendem a injetar uma nova vitalidade aos estudos latino-americanos na China.

    Jiang Feng, pesquisador da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai e diretor acadêmico do Instituto de Estudos Avançados sobre as Novas Relações Internacionais, da ZISU, disse que a realização desse Seminário tende a desempenhar um importante papel na promoção de pesquisas regionais e nacionais na ZISU.

    Em mensagem por vídeo, Luciana Santos, Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, parabenizou a ZISU pelo ensino da língua portuguesa e a criação do Centro de Estudos do Brasil, observando que “a formação de jovens é essencial para que nossos países aprofundem o conhecimento mútuo, para que assim possam fortalecer cada vez mais a nossa já sólida amizade”.

    O embaixador Augusto Pestana, Cônsul Geral do Brasil em Xangai, parabenizou os organizadores do Seminário, disse que “o Brasil e a China, os maiores países em desenvolvimento nos seus respectivos hemisférios, constroem há 50 anos um relacionamento exemplar. Trata-se de uma parceria que gera resultados concretos, mutuamente benéficos para as duas sociedades e que une os nossos países em torno de iniciativas para a construção de um mundo melhor, mais justo, mais próspero, mais sustentável e mais pacífico”.  

    Wang Chengan, ex-Secretário-Geral do Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), destacou que a China e o Brasil, como representantes do Sul Global e membros dos países do “BRICS Plus”, têm atuado para o fortalecimento do multilateralismo e enfrentado juntos vários desafios comuns.

    Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB e presidente da Fundação Maurício Grabois em vídeo

    Walter Sorrentino, vice-presidente do Partido Comunista do Brasil e presidente da Fundação Maurício Grabois, disse que “a parceria entre o Brasil e a China atua pela paz, o diálogo, a aproximação entre povos para propiciar um desenvolvimento sustentável, soberano e mais igualitário entre as nações do Sul global e pela prosperidade para os nossos povos”.

    O prof. Dr. Antonio Menezes, do Departamento de Letras Orientais da Universidade de São Paulo (USP), aproveitou a oportunidade para anunciar que “o Acordo entre a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e a Faculdade de Línguas e Culturas Ocidentais da ZISU será em breve renovado para o período 2025-2029”. Ele também ressaltou que, no presente século, “as universidades terão um papel fundamental não apenas no desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, mas também no fortalecimento da identidade cultural e na construção de um diálogo profundo entre os países”.

    Depois da cerimônia de abertura, duas ricas mesas movimentaram as atividades da manhã do dia 18. A primeira, coordenada por Shi Ruojie, diretor do Centro de Estudos de Brasil da ZISU, foi composta pelo pesquisador argentino Javier Vadell, coordenador de um curso de pós-graduação em China Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e um dos principais estudiosos de China na América Latina, que aportou profundas reflexões sobre os desafios da cooperação Sul-Sul.

    Também online, a jornalista, tradutora e escritora Rosa Freire d`Aguiar, vencedora em 2024 do Prêmio Jabuti de melhor livro do ano com a obra de crônicas ‘Sempre Paris: crônica de uma cidade, seus escritores e artistas’, relembrou cenas da China em 1980, ano em que visitou com o esposo Celso Furtado várias cidades chinesas.

    Marco Schneider, pesquisador titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), que em sua fala sobre Integridade da Informação e Soberania Nacional também fez o anúncio da chamada de artigos para o dossiê “Segurança Cibernética – Integridade da Informação e Soberania Nacional: os casos do Brasil e da China”, da Liinc em Revista, (ISSN 1808-3536), um periódico científico do Ibict editado em associação com a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    Por sua vez, Claudio Rojas Rachel, embaixador chileno aposentado e professor visitante na ZISU, tomando por referência as relações diplomáticas entre a China e o Chile, fez uma abordagem geral da temática do Seminário.

    E Elias Khalil Jabbour, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ex-consultor da Presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, que através de um vídeo teceu considerações sobre o futuro das Relações Brasil-China no contexto de um mundo multipolar.

    Coordenada pelo professor Guo Yi, vice-diretor de assuntos acadêmicos da Faculdade de Línguas Ocidentais da ZISU, a segunda mesa do Seminário foi aberta pelo renomado estudioso de América Latina na China, Jiang Shixue, professor emérito da Universidade de Xangai e da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, discorreu sobre as contribuições da China e do Brasil para a construção de um novo tipo de relações internacionais.

    Em seguida, o pesquisador Dr. Zhou Zhiwei, diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, refletiu sobre o significado estratégico da elevação das relações sino-brasileiras para o nível de uma “comunidade com futuro compartilhado”.

    Já o Dr. Sun Yanfeng, pesquisador do Instituto Chinês de Relações Internacionais Contemporâneas, traçou um quadro sobre a situação atual e as potencialidades da cooperação China-Brasil.

    Por sua vez, a professora Xu Yixing, da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, abordou a temática da formação de talentos chineses em língua portuguesa no contexto do intercâmbio e da aprendizagem mútua. Aliás, foi a professora Xu Yixing que, juntamente com o professor Zhang Weiqi, traduziram para o chinês o já clássico livro Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado.

    Concluindo os trabalhos da manhã, a Dra. Cheng Jing da Universidade de Hubei e Alexandre Freitas da Silva, pesquisador visitante na referida Universidade, explicaram as razões internas e externas que definiram o posicionamento do Brasil em relação à iniciativa “Cinturão e Rota”.

    Na sessão da tarde foram organizados três grupos de discussão dedicados à apresentação de pesquisas. O grupo um, coordenado pela professora Li Jing, do Departamento de Português da ZISU teve como tema os Estudos Regionais. Em texto enviado para o Seminário, Vladimir Milton Pomar, geógrafo, especialista em China e coordenador de Relações Institucionais do Instituto de Estudos da China da Universidade Federal de Santa Catarina, traçou um histórico sobre o processo de irmanamento de cidades e estados-províncias chinesas e brasileiras.

    O pesquisador J. Renato Peneluppi Jr., Doutor e Mestre em Administração Pública Chinesa pela Universidade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Huazhong, focou nas relações políticas entre os dois países. Tomando como contexto a histórica visita à China do vice-presidente João Goulart, em 1961, Renato apresentou um balanço substancial sobre as relações políticas entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista da China.

    Ingrid Torquato Oliveira, doutoranda na Universidade de São Paulo e pesquisadora visitante do ‘BRICS Research Center’, da Universidade de Fudan, em Xangai, falou sobre diplomacia científica e as oportunidades de cooperação científica entre o Brasil e China na área de inteligência artificial.  

    Tiago Soares Nogara, doutorando na Universidade de Xangai, discorreu sobre “China e América Latina: superando os mitos da Teoria da Dependência”. Para ele, a interpretação equivocada dessa teoria está na base de alguns mitos propagados por alguns grupos de esquerda latino-americanos em relação aos investimentos chineses na região.

    Finalizando os trabalhos do grupo um, tivemos ainda as apresentações de Fan Wenhao, pós-doutorando na Universidade Normal de Xangai, que teceu algumas considerações sobre os dilemas e a ambição do Brasil para se tornar uma grande potência, e a apresentação de Yin Qi, pós-doutoranda na Universidade de Xangai, abordando o potencial das relações China-Brasil para se tornarem um modelo dentro do quadro conceitual de um novo tipo de relações internacionais.

    O grupo dois, coordenado pelo professor Hu Zhihua, do Departamento de Português da ZISU, teve como tema “Brasil e China: Cultura, Tradução e Aprendizagem Mútua entre Civilizações”.

    A mesa começou com o instigante ensaio “O sabor mineiro, um olhar antropológico sobre os costumes alimentares dos brasileiros”, apresentado pelo Dr. Antonio Marcelo Jackson Ferreira da Silva, professor do Departamento de Educação e Tecnologias da Universidade Federal de Ouro Preto.

    Em seguida, o Dr. Emmanuel Leite Junior, Pesquisador Associado da Faculdade Internacional de Futebol, da Universidade de Tongji, em Xangai, discorreu sobre o tema “Marcando gols juntos: a diplomacia do futebol e o intercâmbio cultural Brasil-China”. Vale lembrar que, neste ano de 2024, o Dr. Emanuel juntamente com o Dr. Carlos Rodrigues, da Universidade de Aveiro, Portugal, teve o livro China, Football, and Development: Socialism and Soft Power publicado pela Routledge.

    Victoria Almeida, leitora na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai e presidente do Conselho de Cidadãos Brasileiros em Xangai, discorreu sobre a “Criação de uma Comunidade com um Futuro Compartilhado para a Humanidade e o Fortalecimento do Diálogo Cultural Sino-Brasileiro”, enfatizando que o intercâmbio cultural é uma base fundamental para o aprofundamento do conhecimento mútuo e fortalecimento da amizade entre os dois países.

    No campo da tradução, foram apresentados três trabalhos: a Dra. Zhang Minfen, professora do Departamento de Português da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, falou sobre “Os Analectos no Brasil: Tradução e Disseminação”; já o pesquisador português Pedro Sobral, docente do Departamento de Português da ZISU, apresentou uma comunicação sobre  a tradição literária como ponte para o intercâmbio cultural; e Su Jianing, mestranda na Universidade Xi’an Jiaotong, fez uma análise das temáticas diplomáticas China-Brasil presentes nos documentos oficiais (1974-2024).

    Finalmente, o terceiro grupo, coordenado pela professora Shen Lu, Diretora do Departamento de Português da ZISU, fizeram uma discussão mais específica sobre a construção das disciplinas de Língua Portuguesa na ZISU e a formação de talentos. Acompanhados por experientes especialistas no ensino do português na China, participaram as professoras Shao Wanbi e Wang Xiaoyue, do Departamento de Português da ZISU, além de professores de Língua Portuguesa da Universidade de Xangai e da Universidade de Línguas Estrangeiras de Zhejiang Yuexiu.

    Em resumo, “O 50º Aniversário das Relações Diplomáticas entre China e Brasil”, além de reunir diferentes instituições acadêmicas do Brasil e da China, pode contribuir para o aprofundamento do conhecimento mútuo entre os dois países e fortalecer ainda mais a amizade entre o povo chinês e o povo brasileiro. Pois, como bem destacou o presidente Xi Jinping no título de um artigo publicado no Brasil (Folha de S. Paulo, 17/11/2024), “Com futuro compartilhado e amizade que supera distâncias, é hora de navegarmos juntos sob velas cheias”. E esse foi sem dúvida o espírito desse seminário.

    José Medeiros da Silva, professor e diretor do Centro de Estudos de Brasil da ZISU. É pesquisador do Centro Brasileiro de Estudos da China, da FMG.

    Yang Chuqiao, professora do Departamento de Português da ZISU.

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.