Nas últimas semanas, uma série de ataques de diversas ordens foram disparados contra o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o economista Marcio Pochmann. Professor titular da Unicamp, ao longo de sua trajetória Pochmann contribuiu decisivamente para o avanço do pensamento econômico no país, direcionado a um desenvolvimento nacional soberano que privilegie os trabalhadores e todo o povo brasileiro.
Em síntese, as ofensivas contra o economista partiram de três direções: a extrema direita, incomodada com os recentes números do IBGE que mostram a queda da inflação e a redução do desemprego, o denunciou por supostamente manipular dados; certo espectro esquerdista, insatisfeito com a criação da fundação do IBGE para parcerias público-privadas, o acusou de “privatista”; e aqueles de espírito corporativista, preocupados com o fim do home office e com a mudança da sede da empresa, o culparam pelas mudanças em suas rotinas.
Que a extrema direita tenha virado seus canhões contra Pochmann é compreensível. Afinal, os dados da economia sobre a redução do desemprego e da inflação são positivos para o governo Lula. O ataque da extrema direita foi vocalizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, a partir daí, ganhou as redes. De acordo com Bolsonaro, a taxa de desemprego divulgada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) do IBGE seria “uma mentira”. Pelo visto, Bolsonaro aprendeu a lição com Dario III, rei da Pérsia: “Se a notícia é ruim, mate o mensageiro”. O que ele esqueceu de dizer foi que a metodologia adotada foi exatamente a mesma utilizada em seu próprio governo. Ao criticar Pochmann, Bolsonaro colocou em dúvida a credibilidade do próprio IBGE, como aliás fez em seu governo, promovendo um boicote ao censo demográfico e ao IBGE.
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O ataque esquerdista partiu daqueles que não concordaram com a criação da nova fundação do IBGE, a Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE, o IBGE +. Essa fundação acompanha o mesmo modelo que todas as universidades federais seguem para captar recursos públicos e privados. No entanto, os críticos entendem como privatismo o instituto captar recursos privados. É uma visão bastante reducionista e esquemática.
Já a agressão de sentido corporativo é, digamos, mais prosaica. Para diminuir os gastos com aluguéis e investir na melhoria de seus prédios próprios, a diretoria comandada por Pochmann optou por transferir a sede do IBGE para outro prédio. Para evitar qualquer tipo de prejuízo para os trabalhadores, o IBGE garantiu que haverá um transporte entre a empresa e o metrô. Além disso, houve uma reformulação no sistema de home office. Incomodados com as mudanças em suas rotinas, os críticos também giraram suas metralhadoras contra Pochmann. Aqui, não havia concepções de mundo em disputa; apenas interesses acomodatícios que foram desagradados.
Não há nada na trajetória de Pochmann que o desabone. Seu compromisso com as classes trabalhadoras e com o desenvolvimento nacional soberano nunca esteve sob suspeita. Por tudo isso, Pochmann tem a confiança dos comunistas.
Walter Sorrentino é presidente da Fundação Maurício Grabois e vice-presidente nacional do PCdoB.