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    Cebrac

    Brasil-China: um novo centro de pesquisa para um novo tempo

    Criação do Cebrac reflete a ascensão geopolítica chinesa e a consolidação dos BRICS. Autores comparam seu surgimento a centros históricos como o IUPERJ e o Cebrap, influenciados pelo soft power dos EUA no século XX, destacando o Cebrac como um marco na valorização das epistemologias críticas do Sul Global.

    POR: Theófilo Rodrigues e Walter Sorrentino

    Festa da Primavera em Beijing, capital da China.
    Festa da Primavera em Beijing, capital da China. Foto: Xinhua/Ju Huanzong

    Nessa segunda-feira (17), a Fundação Maurício Grabois deu o seu mais recente passo para a qualificação da produção de conhecimento no Brasil com a criação do Centro de Estudos Avançados Brasil China (Cebrac).

    Como afirma sua ata de criação, o Cebrac surge com o propósito de promover estudos interdisciplinares, pesquisas e intercâmbios acadêmico-científicos entre Brasil e China. Com foco nas transformações econômicas, sociais e tecnológicas da China contemporânea, bem como no desenvolvimento teórico e prático do socialismo com peculiaridades chinesas, o Centro busca analisar e fortalecer as relações entre os dois países, identificando oportunidades de colaboração e compartilhamento de iniciativas e conhecimento.

    Importante que se registre, o Cebrac não nasce como um raio em dia de céu azul, como na famosa expressão de Engels. Ao contrário, trata-se de um produto da conjuntura, um reflexo dos novos tempos que vivemos.

    Clique aqui para ter mais informações sobre o Cebrac

    No século passado, mais precisamente no pós Segunda Guerra, o Brasil assistiu ao nascimento de diversos centros de pesquisa que tinham por objetivo descortinar e interpretar o país. Para ficarmos em apenas dois exemplos, foi assim com o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), fundado pelo professor Candido Mendes, em 1967, e com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), fundado pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso em 1969.

    Para além do perfil sociológico e crítico, as duas instituições tinham outra dimensão em comum: o instrumental analítico anglo-saxão. Essa opção não era ao acaso. A hegemonia dos Estados Unidos no século XX teve como uma de suas vertentes aquilo que na década de 1980 o cientista político Joseph Nye definiu como Soft Power. Ou seja, para além das guerras – que eram inúmeras –, havia a exportação de ideias na disputa pelo poder. Assim, em 1962, a Fundação Ford chegou ao Brasil como um instrumento de financiamento das ideias do liberalismo norte-americano. Foi também a principal financiadora de instituições como o Iuperj e o Cebrap, apesar da presença de outras matrizes teóricas críticas, como o marxismo gramsciano, por exemplo.

    Leia mais: Novo centro de estudos Brasil-China: Cebrac é criado para fortalecer parcerias e intercâmbio de conhecimento

    Assim como institutos de excelência como o Iuperj, o Cebrap e tantos outros foram produtos de uma determinada conjuntura, o recém-nascido Cebrac não pode ser compreendido sem seus vínculos com o tempo histórico.  Num momento de ascensão acelerada do papel geopolítico da China, da aliança estratégica e de longa duração promovida pelos Brics e da maturação da teoria do socialismo que a tem levado a grandes prodígios econômicos, sociais, científicos e tecnológicos, é compreensível que tantos pesquisadores, do Oriente e do Ocidente, tenham decidido unir seus esforços em torno de uma nova instituição. O desafio que esses pesquisadores se propõem é o de mediação e ponte entre os conhecimentos desses dois mundos.

    Como se vê, o Centro de Estudos Avançados Brasil China nasce com a missão nada fácil de furar bolhas e ser um grande centro de estudos sobre as epistemologias críticas do Sul Global. Cumprir esse desafio é passo fundamental para a compreensão do mundo em transformação em que vivemos. Vida longa ao Cebrac!

    Walter Sorrentino é presidente nacional da Fundação Maurício Grabois e vice-presidente do PCdoB.

    Theófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM e pesquisador do Cebrac.

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