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    China

    DeepSeek e o “Vale do Silício Chinês”: Delta do Rio Yangtze lidera inovação em IA

    Entenda como a China desafia as big techs ocidentais, promove inovação aberta e transforma o cenário global da tecnologia

    POR: Rodrigo Moura

    Empresas chinesas adotam integração dos modelos DeepSeek para aproveitar benefícios da IA.
    Empresas chinesas adotam integração dos modelos DeepSeek para aproveitar benefícios da IA. Foto: Xinhua/Li Ying

    O Delta do Rio Yangtze e a Ascensão da DeepSeek: Inovação Tecnológica e Desenvolvimento Socialista na China – O Delta do Rio Yangtze (YRD, na sigla em inglês) é um dos principais motores do crescimento econômico e da inovação na China. É também um exemplo de como o desenvolvimento tecnológico pode ser alinhado aos princípios socialistas de sustentabilidade, inclusão e benefício coletivo. 

    Abrangendo as províncias de Xangai, Jiangsu, Zhejiang e Anhui, a região é o berço dos “Seis Tigres de Hangzhou”: Manycore, Deep Robotics, Game Science, BrainCo, Unitree Robotics e a mais recente estrela, DeepSeek. Essas empresas estão redefinindo o futuro da tecnologia, com a DeepSeek liderando o caminho em inteligência artificial (IA) e big data.

    O YRD, frequentemente comparado ao Vale do Silício, é responsável por quase 25% do PIB da China e 40% das exportações do país (Fonte: Banco Mundial, 2022). E isso se deve a alguns fatores: 

    • A região conta com uma infraestrutura de ponta, incluindo parques tecnológicos que incentivam e abrigam startups;
    • É sede de um terço das melhores universidades e instituições de pesquisa do país, como a renomada Universidade de Zhejiang – alma mater de Liang Wenfeng, fundador da DeepSeek –, atraindo os melhores talentos;
    • Recebe amplo apoio governamental, com políticas voltadas para pesquisa e desenvolvimento (P&D), que facilitam o empreendedorismo e promovem a colaboração.

    Nesse ecossistema, a DeepSeek tem feito avanços significativos em áreas como processamento de linguagem natural (PLN), aprendizado de máquina e análise de dados preditivos. No entanto, o que distingue a empresa é seu compromisso com a democratização da tecnologia.

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    Ao quebrar o monopólio das gigantes tecnológicas estadunidenses, a DeepSeek oferece soluções mais acessíveis, baratas e de alta aplicabilidade, garantindo que pequenas e médias empresas, assim como o setor público, possam se beneficiar da IA. Em 2023, a empresa alcançou uma avaliação de mercado de US$ 2 bilhões (Fonte: Crunchbase, 2023), mas seu sucesso não é medido apenas em termos financeiros, mas também pelo impacto social e geopolítico de suas tecnologias.

    A ascensão da DeepSeek desafia as restrições impostas pelos Estados Unidos à exportação de chips, mostrando que tais medidas apenas aceleram o desenvolvimento de tecnologias na China. Além disso, a empresa exerce pressão sobre o ecossistema doméstico, incentivando empresas já estabelecidas, como Alibaba, Tencent e Baidu, a inovar mais rapidamente. Muitas dessas empresas, que antes buscavam desenvolver seus próprios chatbots, agora se associam à DeepSeek para integrar sua tecnologia em suas plataformas.

    O impacto da DeepSeek vai além das empresas de tecnologia. Mais de 200 empresas de diversos setores, como telecomunicações, computação em nuvem, chips, finanças, automotivo e telefonia móvel, anunciaram integração com a DeepSeek recentemente (Fonte: Relatório Anual da DeepSeek, 2023). No setor automotivo, por exemplo, empresas como Geely, Dongfeng, Zero Run e Zhiji adotaram sua tecnologia para melhorar funções de controle do veículo e a experiência do usuário, assim como promover a eficiência energética e a redução de emissões, alinhando-se aos objetivos de desenvolvimento sustentável. 

    Os benefícios se estendem amplamente a consumidores, usuários e pequenas e médias empresas. O modelo de código aberto cria um ambiente mais inclusivo e sustentável, permitindo que empresas com menos recursos ou que entraram tardiamente no campo da IA possam competir em igualdade de condições. 

    A transformação digital na China, desde o desenvolvimento de cidades inteligentes até a automação industrial, abre novas oportunidades de crescimento e eficiência. Em 2023, estima-se que a DeepSeek contribuiu para um aumento de 15% na produtividade em setores como manufatura e logística (Fonte: McKinsey & Company, 2023).

    Leia também: Tecnofeudalismo ou capitalismo? A separação política e econômica nas cidades inteligentes

    Ilustração de uma jovem chinesa segurando nos braços uma pequena baleia azul, símbolo da DeepSeek, com o Delta do Rio Yangtze ao fundo. Imagem gerada por Rodrigo Mouura por IA (Loras.dev).

    No entanto, a expansão da DeepSeek também levanta questões sensíveis, como a segurança de dados e a privacidade. À medida que mais empresas integram a tecnologia, o volume de dados coletados e os cenários de aplicação aumentam, elevando o risco de vazamentos de informações. Essa preocupação tem levado países como Austrália e Coreia do Sul, além da região de Taiwan, a banir a ferramenta em nome da segurança nacional e da privacidade (Fonte: Reuters, 2023). Em 2022, um relatório da Cybersecurity Administration of China (CAC) destacou que mais de 30% das empresas chinesas enfrentaram incidentes de segurança cibernética relacionados ao uso de IA (Fonte: CAC, 2022), evidenciando a necessidade de regulamentações mais rigorosas.

    Mesmo com a forte concorrência interna e externa e um cenário global de tecnologia cada vez mais fragmentado, com países impondo mais restrições às exportações e colaborações tecnológicas, o YRD e a DeepSeek prosperam, exemplificando a determinação da China em liderar a próxima onda de inovação global. 

    Apesar dos desafios, políticas governamentais visionárias e empresas como a DeepSeek, com sua abordagem de código aberto e foco em IA acessível, não apenas estão transformando a indústria chinesa, mas também redefinindo o papel da China no cenário tecnológico global, demonstrando que a inovação pode — e deve — ser um instrumento para o progresso social amplo.

    Rodrigo Moura é Secretário de Estruturação Partidária da representação do Partido na China e militante do PCdoB. Formado em Negócios Internacionais pela FGV é mestre em Estudos Chineses pela Universidade de Zhejiang. Integrou o Grupo de Estudos do Socialismo com Características Chinesas da Universidade de Zhejiang, fez parte do movimento estudantil como presidente do Conselho Internacional de Estudantes, fundou o Centro de Estudos Latinoamericanos da Zhejiang University International Business School. 

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.

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