Em um mundo em franca transformação, a afirmação da unidade nacional, a defesa da paz e a reafirmação do projeto de desenvolvimento sustentável com características próprias da maior potência industrial do mundo têm grande relevância. A Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) desempenha um papel essencial nesse processo ao reunir lideranças políticas, empresariais e acadêmicas para discutir os rumos do país. As reuniões da CCPPC ocorrem em Pequim e contam com a participação de milhares de delegados da Assembleia Popular Nacional (APN), membros do Partido Comunista da China (PCC), empresários, acadêmicos e representantes de diversos setores da sociedade.
Neste contexto, a reunião deste ano assumiu uma importância estratégica ao enfatizar que 2025 será o último ano do 14º Plano Quinquenal e servirá de preparação para o 15º Plano Quinquenal. O Centro de Estudos Avançados Brasil China (Cebrac) tem acompanhado de perto o planejamento chinês, analisando suas implicações para a economia global.
Além disso, as escolhas e projetos da China têm grande importância para o Brasil. Primeiro, por ser nosso maior parceiro comercial, com um volume expressivo de exportações e importações que impactam diretamente a economia brasileira. Segundo, porque a trajetória de desenvolvimento chinês, que transformou o país de uma economia com PIB inferior ao do Brasil há algumas décadas para uma das maiores potências globais, serve de inspiração para o Sul Global na formulação de políticas industriais, tecnológicas e sociais capazes de impulsionar o crescimento sustentável e a redução das desigualdades. O Brasil, inclusive, já utilizou esse método de planejamento econômico estatal em sua própria trajetória de desenvolvimento, contribuindo estruturalmente para o crescimento da economia nacional.
O Relatório de Trabalho do Governo é um dos documentos mais importantes apresentados anualmente na Assembleia Popular Nacional da China (APN). Ele estabelece um balanço do desempenho do governo no ano anterior e define as diretrizes políticas, econômicas e sociais para o ano seguinte. Em 2025, o relatório do primeiro-ministro da China, Li Qiang, enfatiza a solidez da economia chinesa, apesar dos desafios internos e externos, e estabelece metas ambiciosas para o desenvolvimento econômico e social. O documento também destaca o aprofundamento das reformas e a necessidade do fortalecimento da inovação tecnológica, além do compromisso contínuo com a modernização e o socialismo com características chinesas.
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Entre os principais avanços de 2024, destacam-se o crescimento do PIB em 5%, totalizando 134,9 trilhões de yuans, e a criação de 12,56 milhões de empregos urbanos. A China produziu mais de 13 milhões de veículos elétricos, consolidando sua liderança na transição energética. No campo da inovação, houve avanços em inteligência artificial, computação quântica e exploração espacial, com destaque para a missão Chang’e-6. A sustentabilidade foi reforçada com a redução de 3% no consumo energético do PIB e a adição de 37 GW de energia renovável.
Para 2025, as metas econômicas e sociais estabelecidas incluem um crescimento do PIB de aproximadamente 5%, a criação de 12 milhões de empregos urbanos, uma taxa de desemprego controlada em 5,5% e uma inflação em torno de 2%. Espera-se que o crescimento da renda da população acompanhe o desempenho econômico, garantindo um superávit no balanço de pagamentos. A produção agrícola deve ser sustentada, enquanto a intensidade energética do PIB deverá ser reduzida em 3%, promovendo melhorias contínuas na qualidade ambiental.
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O governo delineou uma série de políticas para sustentar o crescimento e garantir a estabilidade econômica. Entre as medidas de estímulo, destaca-se uma política fiscal ativa, com um déficit orçamentário de 4% do PIB e a emissão de títulos especiais de longo prazo totalizando 1,3 trilhão de yuans para projetos estratégicos. O setor imobiliário receberá apoio por meio de financiamento e incentivos à moradia popular, enquanto pequenas e médias empresas terão redução de impostos e tarifas. Para estimular o consumo, um plano especial será implementado para aumentar a demanda interna, incluindo incentivos à renovação de bens de consumo e ao setor de serviços.

Construção de complexo residencial sob um projeto de renovação urbana em Shanghai, no leste da China. Foto: Xinhua/Fang Zhe
No campo da inovação e indústria, o governo reforçará o desenvolvimento da manufatura avançada, da inteligência artificial e da indústria de semicondutores, além de expandir setores estratégicos como aeroespacial, energia renovável e robótica. A economia digital será mais integrada à economia tradicional, ampliando a competitividade global da China. Em termos de segurança energética e sustentabilidade, estão previstas a expansão da capacidade de energia renovável, a reforma do mercado de carbono e a construção de novas infraestruturas para eficiência energética. A China reconheceu a transição para um novo paradigma tecnológico e tem investido fortemente em tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, e em avanços incrementais, como baterias e veículos elétricos, consolidando-se como líder na transição ecológica e no desenvolvimento sustentável.
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O setor financeiro passará por reformas para garantir maior estabilidade, fortalecendo a regulamentação do mercado de capitais e o controle da dívida pública. A China continuará expandindo sua abertura econômica, promovendo novos acordos comerciais, fortalecendo a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e buscando entrada no Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP). Para reforçar a segurança nacional, o orçamento de defesa aumentará 7,2%, com investimentos em defesa cibernética e inteligência artificial militar. No âmbito social, o governo planeja ampliar a cobertura da seguridade social e aposentadorias, expandir o sistema de saúde pública e promover reformas no sistema educacional, com ênfase no ensino técnico e superior. A economia da longevidade será fortalecida para oferecer maior suporte à população idosa.
A transição entre o 14º e o 15º Plano Quinquenal reafirma o compromisso da China com o desenvolvimento sustentável e a modernização, consolidando sua posição como uma potência global. Em um cenário internacional de crescente instabilidade, impulsionado por medidas erráticas e beligerantes do novo presidente dos EUA, a China se destaca como um ator central na diplomacia mundial, promovendo estabilidade e cooperação. As reuniões da CCPPC, da Assembleia Popular Nacional (APN) e do Partido Comunista da China (PCC) refletem essa estratégia, orientando políticas que fortalecem a economia, a inovação e a infraestrutura global. O fortalecimento de parcerias internacionais é essencial para garantir um crescimento sustentável e uma ordem global baseada na cooperação estratégica.
Euzébio Jorge Silveira de Sousa é presidente do Centro de Estudos Avançados Brasil China (Cebrac), assessor especial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), autor do livro Juventude, Trabalho e o Subdesenvolvimento e doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp. Atualmente, atua como professor de Economia na FESPSP e na Strong Business School, é membro da Cátedra Celso Furtado e possui pós-doutor em Economia Criativa e da Cultura pela UFRGS.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.