MARGARIDAS RESISTEM!
Em março, mês que agora finda, a luta das trabalhadoras ganha destaque! Até porque o 8 de março foi dedicado a elas! A homenagem feita pela Internacional Comunista às operárias queimadas vivas numa fábrica de Nova Iorque, que lutavam por melhores condições de trabalho e salário, é lembrada até os dias de hoje em jornadas de luta mundo afora…
Saiba como a luta de operárias russas por paz e pão marca o 8 de Março
Luta antiga, mas que continua atual nas batalhas contra a escala 6×1.
As condições de trabalho mudaram e, nos marcos do capitalismo em crise, em sua faceta neoliberal, vemos o mundo do trabalho desregulamentado, com perda de direitos, precarização das condições de trabalho e jornadas exaustivas.
Assim como as trabalhadoras queimadas, as trabalhadoras de hoje continuam resistindo à exploração abusiva dos capitalistas. Muitas são as formas de resistência, nos locais de trabalho, nas ruas e nas praças.
O olhar de gênero e de raça sobre o mundo do trabalho evoluiu no entendimento das desigualdades existentes!! Primeiro, avançamos no entendimento de que a classe operária tem dois sexos. Depois, vimos o recorte de raça, a divisão sexual do trabalho e avançamos para a interseccionalidade dos diversos fatores que interferem na exploração de classe.
Esse avanço foi fundamental para o entendimento de como se dá a exploração e opressão das mulheres no mundo do trabalho formal e informal. Também teve impacto nas formas de organização e resistência das trabalhadoras. Grandes encontros e marchas de trabalhadoras, como a Marcha das Margaridas, das Mulheres Negras e das Indígenas, ocuparam o cenário nacional.
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Mas não só isso: do primeiro Encontro Nacional de Trabalhadoras, que propôs a criação dos departamentos femininos nas centrais sindicais e nos sindicatos, evoluímos para a criação de Secretarias da Mulher e para a inclusão das reivindicações de gênero nos dissídios das categorias.
Tudo isso contribuiu para enfrentar o machismo, muito presente nos sindicatos… Enfrentar a sub-representação das mulheres nas diretorias sindicais, valorizar a força das mulheres à frente das lutas, reverter a defasagem entre as categorias de base feminina — mas que ainda são dirigidas por homens! Criar um ambiente acolhedor para as trabalhadoras, sem piadas machistas e sem assédio, ainda é um desafio.
Quero aqui destacar uma experiência inovadora de organização das mulheres no sindicato. Trata-se do Coletivo Margaridas do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro (SECRJ). Ele vai além do formato do departamento e da Secretaria das Mulheres, dando mais força às demandas das trabalhadoras.
O Coletivo Margaridas foi criado em 2015, integrado pelas diretoras mulheres do SECRJ, cuja competência é assessorar a diretoria do sindicato no que se refere ao combate à discriminação de gênero no sindicato e entre as comerciárias, propondo reivindicações a serem incluídas na pauta de negociação do sindicato; elaborando políticas a serem implementadas no sentido de garantir um trabalho digno para as comerciárias, sem discriminações salariais, sem condições insalubres, sem assédio moral e sexual; defendendo políticas públicas de creches e escola em tempo integral, de atenção à saúde integral das mulheres e em defesa das mães comerciárias — seu direito a um pré-natal digno, parto humanizado e à amamentação de seus filhos.
Muito significativo destacar que o nome “Margaridas” foi uma homenagem à sindicalista rural Margarida Alves, assassinada na porta de sua casa a mando de latifundiários. Muito significativa essa homenagem no momento em que combatemos a violência política de gênero contra lideranças que se destacam na luta!

Coletivo Margaridas recebeu Moção Honrosa e de Louvor na Premiação Mulheres que Florescem 2025, promovida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (27/03/2025). Foto: Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro/Divulgação
O Coletivo Margaridas é coordenado pela Secretária da Mulher do SECRJ, que o representa na diretoria do sindicato e em atividades públicas relacionadas aos direitos das mulheres e sua luta por emancipação. São objetivos desse coletivo:
a – Elevar a consciência de gênero das comerciárias, junto com sua consciência de classe e de raça.
b – Elevar o conhecimento das demandas das comerciárias, levando-as a ter uma pauta de reivindicações a ser incluída nas negociações da categoria.
c – Levar para a categoria a agenda de luta das mulheres, divulgando sua história e conquistas, com ações, debates e publicações.
d – Capacitar lideranças na compreensão do feminismo emancipacionista, contra todo tipo de discriminação e opressão, levando em conta gênero, classe e raça, e respeitando a diversidade geracional, de orientação sexual e religiosa.
e – Estabelecer parcerias com entidades da sociedade civil, instituições públicas, universidades e escolas, no sentido de elevar a intervenção das comerciárias e do sindicato.
f – Participar das lutas junto com o movimento feminista em defesa da democracia, dos direitos e da emancipação das mulheres.
O Coletivo tem como alvo identificar investidas discriminatórias contra as comerciárias e debater, junto com a diretoria do sindicato, estratégias de luta para enfrentá-las. Além disso, o Coletivo tem no seu plano de ação:
- Realizar cursos de capacitação sobre feminismo emancipacionista, mantendo as diretoras atualizadas sobre as lutas das mulheres.
- Realizar mini-cursos nas subsedes, em horário compatível para as comerciárias.
- Publicar panfletos sobre datas comemorativas da luta das mulheres e notas nos jornais e nas redes do sindicato.
- Promover atividades em pontos de concentração de comerciárias nas principais datas comemorativas: 8 de março, 1º de maio – Dia do Trabalhador, 28 de maio – Dia da Saúde da Mulher e de Combate à Mortalidade Materna, 7 de agosto – Lei Maria da Penha, outubro rosa – combate ao câncer de mama, 20 de novembro – Mulher Negra.
- Realizar o Encontro da Mulher Comerciária.
- Realizar a entrega do Prêmio Margarida a comerciárias que se destacaram na defesa da categoria, preferencialmente no mês de março.
Nesse sentido, a experiência do Coletivo Margaridas é mais abrangente e tem contribuído efetivamente para o fortalecimento das diretoras sindicais e para ampliar a consciência de gênero e raça na categoria comerciária.
Não é à toa que foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro na última quinta-feira (27), por indicação da deputada estadual Lílian Beringhi (PCdoB/RJ).
Ana Rocha é jornalista, psicóloga, mestra em Serviço Social. Foi Secretária da Mulher da Prefeitura do Rio de Janeiro (2013 a 2016), assessora de Gênero do Sindicato dos Comerciários do Rio (2016 a 2023), assessora do Ministério das Mulheres (2023 a 2024). Integra a Coordenação Nacional do Fórum Nacional do PCdoB sobre Emancipação das Mulheres. Atualmente é chefe de gabinete da deputada federal Enfermeira Rejane (PCdoB/RJ).
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.