Mauricio Grabois

Cultura

Filme sobre médico da Guerrilha do Araguaia tem exibição gratuita em SP

Cine-Teatro Denoy exibe em 24/4 o documentário "Doutor Araguaia - A história de João Carlos Haas Sobrinho", sobre médico morto pela ditadura militar.

POR: Fernando Garcia

∙ 22 de abril de 2025 ∙

4 min de leitura

O documentário Doutor Araguaia – A história de João Carlos Haas Sobrinho chega às telas de São Paulo (SP). A exibição acontecerá nesta quinta-feira (24), às 19h, no Cine-Teatro Denoy de Oliveira. A entrada é gratuita, com distribuição de ingressos a partir das 18h.

Produzido de forma independente pela TG Economia Criativa, o filme é dirigido pelo documentarista Edson Cabral, com roteiro, pesquisa e argumento desenvolvidos em parceria com Sônia Haas, irmã do protagonista. Durante as gravações, a equipe percorreu os estados de São Paulo, Maranhão, Pará, Tocantins, Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

João Carlos Haas Sobrinho é um dos personagens mais emblemáticos da Guerrilha do Araguaia. Conhecido como Doutor Juca, sua atuação como médico na região — onde é lembrado com carinho e reverência — foi registrada pelos produtores, que contaram com o apoio de entidades ligadas aos direitos humanos, leis de incentivo à cultura e instituições que lutam pela democracia. As filmagens também ocorreram em diversas localidades do país, buscando abranger um amplo panorama de sua trajetória.

Contemplado pelo Edital 001/2023 da Lei Paulo Gustavo – Tocantins, o documentário destaca a vida do brilhante estudante de medicina, natural de São Leopoldo (RS), nascido em 1941, com sólida formação jesuíta. Preso em 1964 por ser presidente do Centro Acadêmico Sarmento Leite da Faculdade de Medicina da UFRGS, ele conseguiu concluir o curso e, alinhado à filosofia do PCdoB da época, tornou-se um líder atuante. Como médico pioneiro nas regiões de Porto Franco (MA) e Xambioá (TO), entre 1967 e 1972, salvou centenas de vidas, sendo amado pelos camponeses que sofriam sob o regime de exceção e de todos que com ele conviveram.

Em relatório, Ângelo Arroyo, um dos comandantes da Guerrilha do Araguaia, registrou as circunstâncias da morte do médico, ocorrida em 30 de setembro de 1972, quando ele se dirigia a um encontro com o comandante do Destacamento C, Paulo Mendes Rodrigues.

“Nas proximidades do local do encontro com o C (Paulo), Juca observou que havia muitos soldados nas redondezas. Em todas as casas de moradores havia soldados. Juca resolveu, porém, aproximar-se de uma das casas, para se orientar melhor. Viu que lá também havia tropa. Retrocedeu e se juntou ao grupo. No momento em que iam saindo, Gil perguntou, talvez um pouco alto, se poderia amarrar a botina. Imediatamente ouviu-se uma rajada. Juca e Flávio (Ciro Flávio de Oliveira Salazar) caíram mortos”, descreveu Arroyo.

Leia a íntegra do relatório escrito por Ângelo Arroyo em 1974

João Carlos foi assassinado na região do Bico do Papagaio, durante a Guerrilha do Araguaia. Sua irmã, Sônia Haas, segue na busca pelos restos mortais — jamais entregues à família — procurando sempre compreender a escolha feita por seu irmão.

A trajetória do Dr. Araguaia também ganhou forma na linguagem dos quadrinhos (HQ), pelas mãos dos ilustradores Diego Moreira e Gabriel Kolbe, em publicação lançada pela Editora Alameda.

Em tempos de revisão histórica e de ameaças à democracia, relembrar figuras como Doutor Juca é também refletir sobre os caminhos que ainda precisam ser trilhados para assegurar verdade, justiça e memória.