A Fundação Maurício Grabois (FMG) e a Academia de Marxismo da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS) assinaram, nesta segunda-feira (22), uma carta de intenção que marca o início de uma cooperação acadêmica e cultural estratégica entre Brasil e China. O encontro ocorreu em São Paulo, com a presença de delegações dos dois países.
Assinada por Walter Sorrentino, presidente da FMG, e por Xin Xiangyang, presidente da Academia de Marxismo da CASS, a carta estabelece diretrizes para o desenvolvimento de ações conjuntas nas áreas de pesquisa, formação e difusão de conhecimento. A iniciativa visa aprofundar os estudos sobre o socialismo do século XXI, o pensamento de Xi Jinping, o desenvolvimento econômico na América Latina e a geopolítica mundial em um contexto de crescente multipolaridade.
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Para o presidente da FMG, a assinatura do documento reafirma o papel da cooperação internacional na produção de conhecimento.
“A China e o Brasil, cada um à sua maneira, buscam alternativas ao neoliberalismo e compartilham desafios comuns frente à transição geopolítica em curso.”
Sorrentino também destacou o papel da Fundação como promotora de pontes para o desenvolvimento do marxismo:
“A Grabois se projeta como uma ponte entre mundos — entre o pensamento marxista latino-americano e o vigor teórico da experiência chinesa. Essa cooperação institucional é um passo concreto nessa direção.”
Xin Xiangyang celebrou a assinatura da carta como um marco simbólico e estratégico:
“Esta é a primeira carta de cooperação internacional que firmamos no ano em que celebramos o 20º aniversário da nossa Academia. Isso dá à parceria um significado ainda mais especial.”
Entre os compromissos firmados estão a realização anual de seminários bilaterais, o desenvolvimento de um curso de extensão sobre a China contemporânea — com a primeira edição prevista para 2026 —, programas de intercâmbio de curta duração para pesquisadores, além da ampliação da tradução e circulação de obras acadêmicas em português e chinês.
A carta também prevê a cooperação entre revistas científicas, a produção de conteúdos em múltiplos formatos (como vídeos e podcasts) e o fortalecimento do Centro Brasileiro de Estudos sobre a China (CEBRAC), iniciativa da FMG que deverá ganhar projeção como referência nos estudos chineses na América Latina.
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Ao comentar o contexto atual, Xin destacou os desafios e possibilidades de um mundo em transformação:
“Vivemos um momento de grandes transformações e incertezas. Como dizemos na China, estamos numa era de ‘montaria dupla de tigres’, para descrever o grau de complexidade da conjuntura. No entanto, mesmo diante de tantas crises — como o neoliberalismo e as crises econômicas e políticas — também surgem oportunidades. Em chinês, a palavra weiji, que significa ‘crise’, carrega também o sentido de ‘oportunidade’. Precisamos refletir sobre como as experiências socialistas podem oferecer respostas diante de um mundo em disputa.”
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Sorrentino reforçou os horizontes da parceria recém-firmada:
“Queremos criar um ambiente intelectual que articule teoria e prática, que pense criticamente o mundo e contribua com alternativas reais, em diálogo com experiências vivas como a da China.”
O presidente do CASS resgatou um princípio ancestral da cultura chinesa para destacar valores de coexistência pacífica e cooperação global:
“Na nossa tradição, dizemos: ‘Dentro dos quatro mares, todos somos irmãos’. Valorizamos a convivência pacífica, a solidariedade e a troca. Muitos produtos fundamentais chegaram à China por meio do intercâmbio com o mundo, como o tomate, o milho e a batata, vindos da América. Desde sua fundação, o Partido Comunista da China recebeu apoio das forças progressistas internacionais. Por isso, acreditamos que nosso papel não é apenas promover o desenvolvimento do povo chinês, mas também contribuir com o futuro da humanidade.”
Com validade de três anos, a parceria reafirma o compromisso das duas instituições com a construção de um saber voltado à transformação social, enraizado na realidade de seus povos e atento às dinâmicas globais.
Delegação presente no encontro

Integrantes das delegações da Fundação Maurício Grabois e da Academia de Marxismo da CASS após a assinatura da carta de intenção de cooperação, realizada nesta segunda-feira (22), em São Paulo. Foto: @danieleon19/FMG/Divulgação
Academia de Marxismo da CASS (China):
- Xin Xiangyang – Presidente da Academia de Marxismo da CASS, deputado da XIV Assembleia Popular Nacional da China, decano da Escola de Marxismo da UCASS, e autoridade em pensamento socialista com características chinesas.
- Liu Xukuan – Investigador titular da CASS, diretor de pesquisas sobre ideologia e pensamento de Xi Jinping, especialista em modernização chinesa e construção partidária.
- Liu Zhichang – Investigador titular, diretor de estratégias fundamentais da CASS, com foco em teorias marxistas e governança na nova era.
- Liu Ailing – Investigadora titular, diretora de pesquisas em educação ideológica e política, com foco em sinização do marxismo.
- Lou Yu – Investigadora associada, especialista em intercâmbio cultural China-América Latina, tradutora e pesquisadora visitante no Colégio do México.
Fundação Maurício Grabois (Brasil):
- Walter Sorrentino – Presidente da FMG, vice-presidente nacional do PCdoB, médico sanitarista e dirigente histórico do partido.
- Madalena Guasco – Vice-presidente da FMG, professora titular da PUC-SP, especialista em políticas públicas de educação, integrante de instâncias nacionais de avaliação educacional.
- Rosanita Campos – Diretora Executiva da FMG e do CEBRAC, historiadora, jornalista, ex-dirigente do PPL, com trajetória de intercâmbio político com a China.
- Ricardo Leyser Gonçalves – Diretor de Relações Empresariais do CEBRAC, ex-gestor público no Ministério do Esporte e consultor da ONU.
- Sarah Cavalcante – Jornalista, coordenadora de Comunicação da FMG