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    Internacional

    Opressão israelense: tortura, apartheid e genocídio contra o povo palestino

    O documentário “Sem Chão” é o ponto de partida para análise sobre a violência contra palestinos na Cisjordânia e em Gaza. Relatórios e registros apontam crimes contra humanidade de Israel e a conivência da comunidade internacional

    POR: João Quartim de Moraes

    5 min de leitura

    Em meio à fumaça e às chamas, homem empunha bandeira da Palestina. (Imagem ilustrati va – fonte: Pxfuel, domínio público)
    Em meio à fumaça e às chamas, homem empunha bandeira da Palestina. (Imagem ilustrati va – fonte: Pxfuel, domínio público)

    Palestina ocupada: opressão e tortura – O documentário Sem Chão (No Other Land), que denuncia a violenta e acintosamente ilegal colonização facho-sionista na Cisjordânia ocupada, ganhou um prêmios internacionais importantes — venceu, por exemplo, o Oscar 2025 de Melhor Documentário. Artesanal quanto aos meios, ele prende o interesse e mobiliza a consciência de quem não perdeu a capacidade de se indignar perante a barbárie e a injustiça. No dia 24 de março, um bando de cerca de vinte ladrões de terras palestinas, apoiados pelo exército de ocupação, agrediu covardemente moradores da localidade de Susiya, no sul da Cisjordânia. Hamdan Ballal, codiretor do documentário premiado, também morador de Susiya, foi espancado por Shem Tov Luski, chefe daquele bando de celerados, e por dois soldados das tropas de ocupação a seu serviço.

    Hamdan Ballal (primeiro à esquerda, segurando o envelope), Rachel Szor, Yuval Abraham e Basel Adra com o Oscar® de Melhor Documentário durante a 97ª edição da cerimônia, transmitida pela ABC, no Dolby® Theatre, no Ovation Hollywood, no domingo, 2 de março de 2025. Crédito da foto: Al Seib / The Academy

    Hamdan Ballal (primeiro à esquerda, segurando o envelope), Rachel Szor, Yuval Abraham e Basel Adra com o Oscar® de Melhor Documentário pelo filme No Other Land (Sem Chão) durante a 97ª edição da cerimônia, em 2 de março de 2025. Crédito da foto: Al Seib / The Academy

    Situada na face sul dos montes Hebron, a aldeia de Susiya é comprovadamente habitada por palestinos desde os anos 1830. Eles se consagravam ao pastoreio e à cultura de oliveiras. Em 1983, começou o pesadelo. Tal qual um ninho de vorazes abutres, colonos israelenses se instalaram perto da aldeia, em terras que confiscaram. Em 1986, o confisco se ampliou: os rapinantes de Tel Aviv inventaram o pretexto de que a aldeia estava em um “sítio arqueológico” para expulsar seus habitantes, que se instalaram em precárias condições na redondeza, enfrentando a aridez do terreno e a escassez de água (que não falta, entretanto, para encher as piscinas dos colonos e irrigar seus vinhedos).

    Leia mais: Nos 77 anos da Nakba, a catástrofe Palestina está em curso

    Episódios odiosos como os que ocorreram em Susiya não resultam de incidentes isolados; repetem-se sistematicamente na Cisjordânia ocupada. Qualquer expressão de revolta dos palestinos diante da destruição de suas casas e locais de trabalho pela indecente rapinagem colonial israelense é reprimida a coronhadas e, eventualmente, à bala. As belas almas do “Ocidente” se horrorizam quando a revolta explode espasmódica e brutalmente, como a do Hamas na Faixa de Gaza em outubro de 2023. Mas não manifestam horror comparável perante a lenta, fria e metódica operação de genocídio do povo palestino de Gaza, orquestrada pelo hediondo B. Netanyahou, nem indignação perante o “apartheid” a que estão submetidos os palestinos da Cisjordânia.

    Imagens que denunciam: o vídeo de uma criança palestina descalça correndo atrás de um caminhão-pipa vazio, no sul da Faixa de Gaza, expõe a dimensão desesperadora da crise humanitária. A cena foi registrada pelo jornalista Hatem Hany e publicada em 29 de abril de 2025. As imagens correram o mundo e geraram indignação: enquanto o povo enfrenta fome e sede, caminhões com ajuda humanitária seguem impedidos por Israel de entrar em Gaza.

    Não obstante, relatórios convergentes da Amnesty International e do Human Rights Watch acusam Israel não somente de impor um regime de apartheid à população palestina, mas também de cometer crimes contra a humanidade nos territórios ocupados. A denúncia não contém novidade: com arrogante desenvoltura, certas do apoio da matriz estadunidense, as autoridades israelenses se encarregam elas mesmas de apregoar os métodos criminosos com que mantêm sua “ordem” perversa. Juntei a este comentário a fotocópia de uma notícia de mais de trinta anos, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 14/11/1994, cujo título dispensa comentários: “Israel autoriza tortura de prisioneiros palestinos”.

    O Estado de S. Paulo, de 14/11/1994, denuncia a tortura autorizada de palestinos presos por Israel. Imagem: JQM / Reprodução

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    Principal base militar dos Estados Unidos na região, Israel tem agredido reiterada e impunemente o Líbano, a Síria e o Iêmen, e ameaça atacar o Irã. Por vezes, recebe o troco de suas agressões. O movimento armado dos Houthis, que luta pelo poder no Iêmen, disparou mísseis que atingiram a área do aeroporto de Tel Aviv, em solidariedade aos palestinos de Gaza. A réplica dos israelenses foi, como sempre, desproporcional aos danos sofridos. O aeroporto de Sanaa, capital do Iêmen, foi arrasado por uma chuva de mísseis, a despeito de o governo local estar em confronto direto com os Houthis. Mero detalhe para o racismo antiárabe dos sionistas. Todo pretexto é bom para suas operações de destruição e extermínio.

    João Quartim de Moraes é professor universitário, formado em Filosofia e em Direito na Universidade de São Paulo. Em 1968-69 participou da resistência clandestina à ditadura militar. Passou os anos setenta exilado na França. Após a anistia, voltou ao Brasil. Professor de Filosofia na Unicamp Publicou vários livros e muitíssimos artigos no Brasil e na Europa. É pesquisador sênior do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Seus temas centrais: história do pensamento político, materialismo antigo e moderno, marxismo, instituições brasileiras.

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.