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    Princípios 172: Socialismo e nova economia do projetamento

    Com coordenação de Elias Jabbour, edição aprofunda o debate sobre a transição ao socialismo e as transformações da experiência chinesa. Leia o editorial

    POR: Revista Pincípios

    8 min de leitura

    Reprodução da capa da Princípios 172
    Reprodução da capa da Princípios 172

    A nova edição da Revista Princípios, publicada em 8 de junho de 2025, traz o dossiê Socialismo e a Nova Economia do Projetamento, organizado por pesquisadores liderados pelo professor Elias Jabbour (Uerj). O número dá continuidade às análises iniciadas na edição nº 171, que abordou o tema China e a nova economia do projetamento.

    Neste número, o debate sobre o socialismo contemporâneo é aprofundado a partir do conceito de “nova economia do projetamento”. A abordagem teórica sobre as transformações em curso na China e suas implicações para a formulação de uma nova teoria da transição ao socialismo no século XXI é ampliada.

    A edição reúne reflexões sobre temas como a construção de uma nova formação socioeconômica, o papel da tecnologia e da planificação, as contribuições do pensamento de Ignácio Rangel e Lukács, além das relações entre um mundo policêntrico e as classes trabalhadoras do Terceiro Mundo.

    Serviço

    Revista: Princípios (Qualis A3)

    ISSN: 1415-7888 | E-ISSN: 2675-6609

    Editora: Anita Garibaldi

    Número: 172

    Para ler a edição completa online: Clique aqui

    Adquira a versão impressa: Clique aqui

    Leia o editorial

    Uma nova teoria e uma nova gramática para a transição ao socialismo no século XXI

    Princípios volta a abordar, nesta edição de número 172, o tema do projetamento, sobre o qual tem se debruçado uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor Elias Jabbour (Uerj). Vértice de um conjunto de elaborações inovadoras, que tentam lançar luz sobre o fenômeno chinês e, de forma mais ampla, sobre a alternativa socialista na atualidade, o conceito de nova economia do projetamento foi objeto de uma chamada de artigos que recebeu generoso número de contribuições, resultando em um dossiê publicado em duas partes, ao longo de um par de edições consecutivas. 

    Se na edição anterior, a primeira dedicada ao tema, foram publicados estudos com forte componente empírico, voltados ao exame de aspectos específicos da vida chinesa, esta nova edição reúne artigos de teor mais teórico e conceitual, que trazem reflexões sobre o significado da nova economia do projetamento para os desafios da transição ao socialismo nesta primeira quadra do século XXI.

    Profundas mudanças têm caracterizado, na última década, as economias dos países que se orientam pelo modelo socialista. Nesse processo, a experiência chinesa hoje desempenha papel protagonista, a ponto de inspirar reformas realizadas em outros países. Cada vez mais as discussões giram em torno da dinâmica de acumulação que emerge no país asiático, gerando discussões sobre qual tipologia seria a mais adequada para enquadrar o atual modelo chinês.

    Evidentemente, existe uma relação entre o papel do sistema nacional de inovação tecnológica que se fortaleceu nos últimos anos — com as inovações disruptivas (5G, big data, inteligência artificial, internet das coisas, entre outras) — e o surgimento de novas e superiores formas de planificação econômica no país. Dado o aprimoramento das relações entre ser humano e natureza, como resultante da elevação contínua da técnica, abre-se um amplo leque de problemas teóricos e político-práticos. Essa situação convida a pensar sobre a essência do movimento real em um país como a China, onde a centralidade da propriedade pública nos setores produtivos e financeiros, guiada por um poder político de novo tipo, apresenta-se como elemento distintivo em relação a outras formações econômico-sociais.

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    Percebe-se, no desenvolvimento desse processo, a descoberta de novas formas de governança. O socialismo se transforma em uma “sociedade de projetamento” na medida em que esse sistema se apresenta, cada vez mais, como uma forma histórica marcada pela transformação da razão em instrumento de governo. Ora, se em Lênin o planejamento é a transformação da razão em instrumento da política e em Ignácio Rangel a busca pela razão na relação custo-benefício enceta a superação da dicotomia entre macro e microeconomia, podemos perceber o ponto de encontro dessas abordagens na capacidade da governança chinesa em intervir na realidade de forma quase imediata e prever as contradições adiante, propondo novas soluções, com desdobramentos igualmente imediatos.

    Demanda-se, assim, uma teoria do socialismo renovada e adaptada à nossa época, com novos dispositivos conceituais e, mesmo, uma nova gramática, capazes de absorver as transformações em curso na China como formação econômico-social vocacionada a desenvolver novas formas de manejo da realidade e de sua transformação.

    Decifrar essas questões representa importante contribuição para que o marxismo alcance novo patamar como teoria das contradições sociais cuja resolução aponta para novos e mais avançados modelos de organização societária. Nesse debate, questões econômicas, políticas, sociais e culturais encontram-se imbricadas. A temática proposta tem o condão de unir esforços das mais diversas disciplinas das ciências humanas e sociais, com destaque para a Economia, a Ciência Política, a Sociologia, a Filosofia, a História e as Relações Internacionais, entre outras que comparecem nos textos coligidos nesta edição. 

    Esses textos abordam temas como a definição do conceito de projetamento, seja na obra de Ignácio Rangel, seja na de autores mais recentes; as bases epistemológicas e os conceitos filosóficos e sociológicos que têm contribuído para a evolução do conceito de projetamento; as contribuições desse conceito para a construção de uma economia política da transição ao socialismo em meio à ordem econômica capitalista-neoliberal; as relações entre nova economia do projetamento, transição geopolítica e socialismo do século XXI, bem como entre a noção de projetamento e os modelos de planejamento tradicionais (planos quinquenais da experiência soviética, planos de metas de experiências nacional-desenvolvimentistas etc.). Os artigos partilham da preocupação comum em verificar até que ponto a nova economia do projetamento pode ser considerada uma teoria do socialismo para nossa época.

    Esta edição de Princípios traz ainda dois artigos que, embora não componham o dossiê temático sobre economia do projetamento, de certa maneira o complementam. Um deles parte do conceito de hibridismo conforme elaborado pela escola lukacsiana para analisar o desenvolvimento do capital monopolista e verificar de que forma este se apresenta na atualidade histórica e na realidade chinesa, marcada pela conjugação de distintos modos de produção. Outro texto faz uma análise dos desafios da transição geopolítica em curso a partir do conceito de policentrismo, argumentando que essa transição implica necessariamente a busca por caminhos de desenvolvimento soberano em bases populares.

    A revista traz ainda reflexões sobre outros temas candentes da atualidade. Um artigo reflete sobre o papel da Petrobras para o desenvolvimento nacional, à luz do debate entre vertentes da teoria da regulação econômica. É apresentada a forma como a política de paridade de preços internacional (PPI), que vigorou de 2016 a 2023, serviu aos interesses dos acionistas privados da companhia, em detrimento do interesse público e da garantia do abastecimento nacional de combustíveis. 

    Outro artigo apresenta importantes dados sobre a transição demográfica em curso no país, buscando contribuir para a formulação de políticas públicas — principalmente nas áreas de economia, emprego, educação, saúde e previdência social — que sejam de fato eficazes em aproveitar a ocorrência do bônus demográfico (período em que a maior parte da população se encontra em idade economicamente ativa) a fim de avançar no sentido do aumento da renda per capita do país.

    Uma resenha esmiúça o livro Closer to heaven: a detailed overview about China’s successful poverty eradication [Mais perto do céu: a jornada de um nômade internacional acompanhando a campanha de redução da pobreza na China], do jornalista estadunidense Erik Nilsson, agraciado com o Prêmio de Amizade da China. O autor analisa o caráter amplo e multifacetado das iniciativas de erradicação da pobreza lideradas pelo Estado chinês com ampla participação da sociedade, as quais vêm resultando no mais ambicioso e bem-sucedido esforço desse tipo em toda a história moderna. 

    Ainda como parte da seção dedicada à divulgação de livros, a revista se encerra com breves recensões sobre obras recém-lançadas que, acreditamos, são de interesse do público leitor de Princípios.

    Desejamos uma boa leitura!

    A Comissão Editorial

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