Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Internacional

    Flotilha da Liberdade e outras tentativas de furar o cerco de Israel a uma Gaza massacrada

    Hoje vou falar sobre Gaza, Palestina e mais especificamente sobre as tentativas de furar o cerco que Israel faz para uma Gaza sitiada, uma Gaza massacrada em que um genocídio está em pleno curso e não há ainda nenhuma força no mundo que tenha conseguido parar este genocídio. Vou falar um pouco sobre a Flotilha […]

    POR: Ana Prestes

    8 min de leitura

    Flotilha da Liberdade
    Flotilha da Liberdade

    Hoje vou falar sobre Gaza, Palestina e mais especificamente sobre as tentativas de furar o cerco que Israel faz para uma Gaza sitiada, uma Gaza massacrada em que um genocídio está em pleno curso e não há ainda nenhuma força no mundo que tenha conseguido parar este genocídio. Vou falar um pouco sobre a Flotilha da Liberdade e sobre uma marcha, um enorme comboio que está indo para Gaza por terra, pelo norte da África, pela região conhecida como Magreb. Eu vou contar alguns detalhes para vocês sobre isso.

    Quem está lendo essa coluna, com certeza já ouviu falar sobre a Flotilha e da Liberdade, essa embarcação que se chama Madleen e que saiu no último dia 9 de junho carregada com alimentos, remédios, fraldas, fórmulas infantis e próteses para crianças. Esses são suprimentos evidentemente simbólicos pela quantidade restrita em que se pode carregar nesta embarcação.

    Mais do que esses suprimentos e alimentos, o que este barco carregava, eram 12 heróis e heroínas, 12 pessoas que por algumas horas representaram toda a indignação de uma humanidade inteira sobre o que está acontecendo em Gaza. Então, vou contar alguns detalhes sobre o que tem acontecido, o que ainda está acontecendo com os integrantes da Flotilha da Liberdade.

    Ela chegou a se aproximar bastante da costa de Gaza, mas foi interceptada pela marinha israelense quando estava a cerca de 180 km da faixa de Gaza. Esta notícia também rodou o mundo: Israel intercepta a embarcação com com alimentos, com água, com sanduíches.

    A interceptação foi brutal, ela foi com um pó químico que que emite um odor muito forte, mas ao mesmo tempo mudaram eles de embarcação, distribuíram água e ficaram, obviamente fazendo propaganda. O governo de Israel, através do Ministério da Defesa e também do Ministério de Relações Exteriores, ficaram falando que era uma embarcação selfie, de celebridades que só queriam fazer selfie. Tudo isso, obviamente, para lançar uma cortina de fumaça sobre o real propósito dessa iniciativa, destes membros da Flotilha da liberdade.

    Na verdade, eles estavam em águas internacionais, não poderiam ter sido interceptados e sequestrados da forma como foram e haviam ali ativistas de vários países: França, Espanha, Alemanha, Brasil, Suécia, inclusive uma parlamentar do Parlamento Europeu, a Rima Hassan, um brasileiro, Thiago Ávila.

    Estamos todos aqui em solidariedade em campanha pela salva guarda da vida do Thiago, que ainda se encontra sob o domínio das forças de Israel e também a sueca Greta Thunberg, que é uma personalidade mundial, principalmente por conta da sua luta em defesa do meio ambiente e mais recentemente, desde o 7 de outubro de 2023, ela é uma lutadora também pela liberdade da Palestina e pelo fim do genocídio em Gaza.

    Então, essa Flotilha da Liberdade, que na verdade é um movimento, é uma coalizão formada por movimentos populares, organizações civis de vários países, atua de uma forma não violenta, isso é muito importante dizer, enfrentando o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, um bloqueio absolutamente ilegal, por qualquer ótica do direito internacional, dos tratados internacionais, das resoluções da ONU, por qualquer meio que você olhe, mas que Israel continua violando sistematicamente.

    Não é a primeira vez que a Flotilha tenta chegar a Gaza, já foram várias tentativas, buscam romper este cerco, levar ajuda humanitária, solidariedade política a este povo que está sofrendo com a fome, a sede e os ataques diários por terra e por ar. Na verdade, essa interceptação e este sequestro do Madeleine, foi mais um capítulo na criminalização da solidariedade.

    É um crime hoje você fazer a solidariedade à Palestina, é isso? Então, o povo palestino está absolutamente isolado do mundo, a gente não pode acessar, não pode ir lá. É isso que Israel está fazendo. Está disposto a manter este cerco a qualquer custo, tem impedido a entrada de elementos básicos como a própria água potável, o leite, o arroz, o pão, o que a gente puder imaginar.

    Inclusive tiraram as força da ONU e de outras organizações que fazem esse trabalho de entrega de ajuda humanitária e deixaram absolutamente nas mãos de uma organização controlada por eles e que na verdade está fazendo é um levantamento das pessoas que se encontram em Gaza para uma expulsão, para uma solução final através da limpeza étnica deste território.

    Gaza/Palestina – 07/11/2024 – Civis caminham entre os escombros após novos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Os ataques atingiram áreas densamente povoadas, incluindo o campo de Nur Shams, em Tulkarm, e bairros residenciais da Cidade de Gaza. Foto: Iria via Fotos Públicas

    Civis palestinos caminham entre os escombros após bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Foto: Iria via Fotos Públicas

    Vamos lembrar alguns dados, sobre como está hoje a faixa de Gaza. Desde o 7 de outubro, já são mais de 54 mil mortos, sendo que a maioria são mulheres e crianças. Hospitais, escolas, ambulâncias, comboios humanitários, tudo sob ataque, nada escapa dos bombardeios de Israel.

    Hoje 90% da população de Gaza já está deslocada, o sistema de saúde está absolutamente colapsado e a fome tem sido usada sistematicamente como uma arma de ataque, de guerra e de limpeza étnica dessa região.

    A ONU, Tribunal Penal Internacional (TPI) e também a Corte Internacional de Justiça (CIJ) já reconhecem que existe um genocídio, já existem provas fartas, materialmente falando, de genocídio e o Brasil tem se posicionado, o presidente Lula tem se posicionado, mas ainda é pouco.

    Inclusive agora com o caso da Flotilha da Liberdade, o Itamaraty fez uma nota reconhecendo que Israel está como uma força ocupante neste território e está privando essa população de água, de alimentos e que já não há mais nenhum parâmetro, qualquer referência que dê baliza, que dê qualquer justificativa para o que está acontecendo hoje em Israel, desde aquele 7 de outubro e antes do 7 de outubro. Nós contamos o 7 de outubro porque realmente a situação ela é muito dramática desde aquela data.

    Milhares de palestinos retornaram para Gaza totalmente destruída, após cessar fogo, em 27/01/2025. Foto: RS/Fotos Públicas

    Flotilha da Liberdade

    Os tripulantes dessa embarcação são 12 pessoas, eles e elas, esses 12 militantes, ativistas, integrantes deste movimento, o que que eles reivindicavam, o que que eles estavam falando?

    Estavam tentando ao chegar em Gaza, mostrar ao mundo que uma pequena flotilha, uma pequena embarcação, um pequeno bote tentando chegar ali à costa de Gaza, demonstra a fragilidade, a vulnerabilidade dos movimentos que hoje defendem Gaza justamente pelo contraste, pela falta de outro outras embarcações, de outras iniciativas, principalmente de países.

    Por isso nós também conclamamos o Brasil a se colocar de uma forma mais concreta e objetiva com relação à Gaza. E a Flotilha serve justamente para mostrar isso, como uma pequena iniciativa já pode ter uma repercussão.

    Imagina se fosse uma iniciativa coordenada por vários países do mundo com sanções, com bloqueios, com relação a Israel, com ameaças à permanência de Israel como um estado operante, vigente no sistema internacional de estados. Um Estado pária hoje, Israel deve ser colocado assim.

    Bombardeio na faixa de gaza

    Bombardeio na faixa de gaza

    Resistência por terra

    Agora, deixa eu contar sobre uma outra iniciativa, essa por terra: uma jornada global para quebrar o cerco de Israel sobre Gaza, saiu da Tunísia, pega toda essa região aí do Magreb, são mais de 7 mil ativistas, 300 veículos em uma caravana com o objetivo de chegar a Gaza.

    Saindo da Tunísia, passando pela Líbia, pelo Egito, o pessoal da Argélia também se integrou, do Marrocos e vai pegando a população dessa região, indo por terra para a região palestina de Rafah onde é a fronteira com o Egito.

    E a Palestina, as imagens são bem impressionantes deste movimento que a gente está acompanhando. Nas redes dá para encontrar muitos registros, só colocar lá comboio, caravana, greve, que você vai ver as bandeiras da Palestina, as bandeiras desses países, todos que estão integrando essa caravana.

    Ana Prestes é pesquisadora do Observatório Internacional, Grupo de Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, e Secretária de Relações Internacionais do PCdoB. Todas as sextas-feiras, comanda o programa Conexão Sul Global, exibido pela TV Grabois.

    *Análise publicada originalmente no programa Conexão Sul Global (TV Grabois) em 13 de junho de 2025. O texto é uma adaptação feita pela Redação com suporte de IA, a partir do conteúdo do vídeo.

    **Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.

    Notícias Relacionadas