Está disponível em exibição gratuita até esta quinta-feira (26), o documentário “Doutor Araguaia”, no canal do YouTube , produtora independente TG Economia Criativa. Dirigido por Edson Cabral, o filme reconstrói a trajetória do médico gaúcho João Carlos Haas Sobrinho (1941-1972), militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) morto pelo Estado brasileiro em 30 de setembro de 1972, durante a Guerrilha do Araguaia.
Veja aqui:
Após três anos de trabalho, o filme teve sua estréia nos cinemas em novembro de 2024 na cidade de São Leopoldo (RS), terra natal do guerrilheiro, além da capital Porto Alegre e outras cidades do estado. O filme tem apoio institucional da Fundação Mauricio Grabois.
A produção foi contemplada com financiamento por meio da Lei Paulo Gustavo no estado do Tocantins e contou com roteiro, pesquisas e argumento realizados em parceria com Sônia Haas, irmã do protagonista. As gravações foram feitas nos estados de São Paulo, Maranhão, Pará, Tocantins, Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Trajetória
Estudante de medicina com sólida educação jesuíta, João Carlos Hass foi preso após o golpe militar de 1964 por presidir o Centro Acadêmico Sarmento Leite, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Após concluir o curso, ingressou no PCdoB da época e tornou-se médico pioneiro nas regiões de Porto Franco/MA e Xambioá/TO. Entre 1967 e 1972, durante a Guerrilha do Araguaia, foi responsável por salvar centenas de vidas, tornando-se uma figura querida pelos camponeses da região que o conheciam pelo codinome de .
Foi morto na região do Bico do Papagaio, na Guerrilha do Araguaia. Em seu relatório, Ângelo Arroyo, um dos comandantes da Guerrilha, registrou que, em 30 de setembro de 1972, ao chegar nas proximidades do local de um encontro com o comandante do Destacamento C, Paulo Mendes Rodrigues, “Juca observou que havia muitos soldados nas redondezas”.
“Em todas as casas de moradores havia soldados. Juca resolveu, porém, aproximar-se de uma das casas, para se orientar melhor. Viu que lá também havia tropa. Retrocedeu e se juntou ao grupo. No momento em que iam saindo, Gil perguntou, talvez um pouco alto, se poderia amarrar a botina. Imediatamente ouviu-se uma rajada. Juca e Flávio caíram mortos”, relatou.

Tropas de combate no Araguaia
Direito à memória
A passagem do Doutor Juca na região começou a ser recuperada em 2011, quando a Câmara dos Deputados de Porto Franco, cidade maranhense próxima ao Rio Tocantins e das divisas com os estados de Tocantins e Pará, concedeu-lhe o título de cidadão portofranquino. Sônia Haas, o presidente do PCdoB de São Leopoldo – cidade do Rio Grande do Sul onde ele nasceu –, Nélson Sales, e o jornalista e historiador Osvaldo Bertolino, da Fundação Maurício Grabois, receberam o título em nome da família e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Sônia Haas apresentou na solenidade um slide com fotos de João Carlos em família antes de partir para Porto Franco e em seguida para a Guerrilha. Ela continua na busca dos restos mortais do irmão – que nunca foram entregues à família.
“Durante décadas, nós, familiares de desaparecidos políticos, dedicamos nossas vidas na busca pela verdade, justiça, reparação e memória. Este documentário resgata, com dignidade, uma história vivida por muitos brasileiros e que as novas gerações precisam conhecer”, declarou Sônia Haas por ocasião do lançamento do filme.