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    Educação

    O que os estudantes têm a dizer sobre educação e o futuro do Brasil

    Diante da ascensão da extrema-direita e da crise do ensino superior, o movimento estudantil propõe um projeto de nação baseado em democracia, desenvolvimento, justiça social e educação como eixo estratégico

    POR: Redação

    8 min de leitura

    tomamos as ruas de São Paulo e de todo o Brasil para defender o que é nosso: a educação pública, gratuita e de qualidade! Não aceitaremos que o arcabouço fiscal continue sufocando os investimentos em educação e precarizando nossas universidades e institutos federais.

A luta é pela recomposição TOTAL do orçamento. Não dá pra estudar sem restaurante universitário, sem assistência estudantil, sem laboratórios, sem bolsas, sem professores!
    tomamos as ruas de São Paulo e de todo o Brasil para defender o que é nosso: a educação pública, gratuita e de qualidade! Não aceitaremos que o arcabouço fiscal continue sufocando os investimentos em educação e precarizando nossas universidades e institutos federais. A luta é pela recomposição TOTAL do orçamento. Não dá pra estudar sem restaurante universitário, sem assistência estudantil, sem laboratórios, sem bolsas, sem professores!

    Estamos vivenciando um momento crítico da história mundial. A ascensão da extrema-direita em diversas partes do mundo, com vitórias eleitorais, tem se dado sobre um terreno de crise econômica, insegurança social e desconfiança nas instituições democráticas. O neofascismo de nosso tempo se apresenta como antissistema, mas é, na prática, um projeto de destruição dos direitos sociais e democráticos. Nos Estados Unidos, o retorno de Trump à presidência é um impulso para a reoxigenação global desse projeto reacionário, que repercute diretamente na América Latina, especialmente no Brasil.

    Extrema-direita no Brasil e a resposta estudantil

    Aqui, esse processo assume características próprias. A extrema-direita brasileira não é cópia do que há lá fora: ela é alimentada por tradições autoritárias enraizadas em nossa história, como o racismo estrutural, o militarismo, a negação da política e a glorificação da violência. Foi sobre essa base que se articulou um bloco perigoso entre setores das Forças Armadas, do fundamentalismo religioso, de empresários ligados a esquemas criminosos e redes de desinformação. Trata-se de um projeto antidemocrático e de desmonte nacional.

    Mesmo com a derrota eleitoral em 2022, a extrema-direita não foi derrotada socialmente. Continua presente, com capilaridade nas periferias urbanas, entre trabalhadores precarizados e parte da juventude. Faz trabalho de base, ocupando igrejas, explorando ressentimentos e pautando o moralismo entre a população.

    Leia também: Por que só vencer eleições não basta para mudar o Brasil

    Nesse cenário, cabe a nós construir uma maioria social em torno de outro projeto de país. E esse projeto precisa reconquistar a população, disputar a política econômica, o papel do Estado, o que se entende por desenvolvimento e ressignificar a política.

    É nesse contexto que a União Nacional dos Estudantes (UNE) tem um papel decisivo. Nascida da luta contra o nazifascismo em 1937, carrega um legado histórico nas lutas democráticas, tendo, ao longo de seus quase 90 anos, provado seu potencial de mobilizar amplos setores em escala nacional.

    O Plebiscito Popular que propomos, junto a dezenas de outras organizações do movimento social, é um importante instrumento para isso. Apresentar à população propostas como a taxação dos super-ricos, a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1 é fundamental para fortalecer as bandeiras que afetam nossa vida cotidiana, devolver voz ao povo e evidenciar as contradições da extrema-direita, que finge representar os trabalhadores enquanto serve aos interesses do topo da pirâmide.

    Educação no centro de um novo projeto de país

    Além do embate contra a extrema-direita e em defesa da democracia, enfrentamos hoje uma crise profunda no ensino superior. O sonho de romper barreiras socioeconômicas com um diploma universitário se desfez com o avanço do desemprego. Os índices de evasão são alarmantes: 60% dos matriculados deixam as salas de aula — número que chega a 78% nas licenciaturas. O avanço desregulado do ensino a distância já responde por mais da metade das matrículas e tem derrubado a qualidade da formação. Os grupos privados, que concentram mais de 80% das matrículas, lucram com a educação como negócio, numa lógica de completa mercantilização.

    É urgente apresentar uma nova agenda estratégica para o ensino superior, capaz de articular o presente com o futuro. A UNE deve liderar esse reposicionamento da universidade no centro de um projeto de desenvolvimento nacional: que conecte currículo, ciência, trabalho, cultura, soberania e justiça social. Para isso, defendemos uma reforma universitária viva, que dialogue com as lutas concretas: orçamento adequado, assistência estudantil, fim do vestibular excludente, estágios obrigatórios remunerados, regulamentação do ensino privado e proibição de capital estrangeiro no setor.

    Para tanto, precisamos formular uma agenda para as eleições de 2026, afirmando a frente ampla com centralidade na questão democrática, mas tendo em seu cerne uma frente popular que desmascare a extrema-direita e impulsione uma agenda de direitos, com a educação no centro.

    O novo Plano Nacional de Educação terá avançado menos de 10% em relação às metas do plano anterior. Precisamos disputar esse debate com uma proposta robusta, baseada no investimento público, na valorização das licenciaturas e na integração da universidade a um projeto de reindustrialização nacional. Hoje, o Brasil forma cada vez menos engenheiros, pesquisadores e professores, o que impacta diretamente a soberania do país.

    Para tirar esse projeto de país soberano do papel, é preciso garantir financiamento público adequado. O Fundo Social do Pré-Sal é parte decisiva disso. A UNE liderou a campanha “50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação”, que resultou na Lei nº 12.858/2013 — uma vitória concreta do movimento estudantil.

    Contra o arcabouço fiscal: sem teto para a educação

    Nos governos Temer e Bolsonaro, essa conquista foi desfigurada. A Emenda Constitucional nº 109/2021 permitiu o uso do Fundo para amortizar a dívida pública. Entre 2021 e 2022, R$ 64 bilhões foram desviados para esse fim. O TCU foi claro: houve esvaziamento financeiro do Fundo e desvio de finalidade.

    Esse desmonte está inserido em um processo mais amplo de institucionalização da austeridade. Desde o governo Dilma, com Joaquim Levy à frente da Fazenda, passando pelo teto de gastos de Temer, as reformas e, agora, o arcabouço fiscal, consolidou-se um consenso neoliberal que impôs a contenção permanente dos investimentos públicos. Esse ciclo reduziu drasticamente a capacidade de ação do Estado e subordinou a política econômica ao mercado financeiro.

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    Com a vitória de Lula e a abertura de um novo ciclo político, estivemos — e seguimos — ao lado do campo democrático na reconstrução do Brasil. Nesse ciclo, o movimento estudantil arrancou conquistas fundamentais nos últimos dois anos: a renovação da Lei de Cotas, a aprovação do PNAES, a retomada de obras nas universidades federais, a recomposição orçamentária e a sanção do novo marco do ensino a distância. Esses avanços são fruto de muita mobilização, enfrentamento político e capacidade de incidir sobre o governo que ajudamos a eleger. Mas precisamos ir além.

    O arcabouço fiscal, ao institucionalizar o controle de gastos de forma rígida, compromete áreas essenciais como a educação. O recente Decreto nº 12.448/2025 escancarou esse risco ao colocar as universidades federais sob ameaça de corte. É impossível conceber um projeto de educação com o teto do arcabouço fiscal. A educação precisa estar fora do arcabouço! E não podemos perder de vista a luta pelo seu fim. Nenhum país se desenvolveu com austeridade permanente sobre setores estratégicos. Nosso desafio é enfrentar a arquitetura de um modelo de país que inviabiliza qualquer projeto de futuro.

    Educação no centro, povo no poder

    Nós, estudantes, precisamos recuperar o que é nosso. Os royalties do petróleo não podem continuar indo para emendas parlamentares e juros da dívida. O Pré-Sal tem que voltar a servir ao interesse nacional. A UNE deve reposicionar com força a pauta da retomada do caráter original do Fundo Social.

    Se queremos derrotar a extrema-direita, não basta resistir — é preciso disputar projeto, narrativa e o futuro. A frente ampla continua sendo essencial diante da ameaça autoritária, mas não pode ser um fim em si mesma. É dentro dela que devemos afirmar, com firmeza, um campo popular enraizado no Brasil real.

    Papel histórico da UNE e o futuro do Brasil

    A UNE, que atravessou as grandes encruzilhadas da história brasileira, tem autoridade política e responsabilidade histórica para cumprir esse papel. Cabe a nós, que herdamos essa tradição, garantir que a UNE siga sendo vanguarda — não apenas da resistência, mas da formulação de um novo projeto de país. Um projeto que recoloque o povo no centro do poder e a educação no centro do desenvolvimento. Que não se intimide diante dos interesses do mercado, das chantagens do Congresso ou dos limites do arcabouço. Não há projeto de educação sob um teto.

    Guiados por essas convicções, forjadas na luta por dias melhores, seguimos de pé, pois, como diz o nosso hino: a nossa mensagem de coragem é que traz um canto de esperança num Brasil em paz.

    Bianca Borges é presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE/SP) e candidata à presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) pelo movimento Canto de Coragem.

    Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.