No último domingo (29), o movimento comunista internacional conquistou uma posição ousada no mundo ocidental. No Chile, Jeannette Jara foi eleita nas prévias da esquerda a candidata presidencial em novembro deste ano. Jara, que é militante do Partido Comunista do Chile (PCCh), tornou-se, assim, a candidata do governo para a sucessão de Gabriel Boric na eleição que ocorrerá no fim do ano. Pela lei chilena, o presidente não pode tentar a reeleição.
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Ministra do Trabalho do governo de Boric, Jeannette Jara foi a responsável pelo projeto que reduziu a jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais no país. A advogada de 51 anos também foi quem promoveu o aumento do salário mínimo no país. Antes do governo Boric, a comunista já havia sido subsecretária de Previdência Social durante o governo da ex-presidenta Michelle Bachelet.
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A campanha será liderada por Bárbara Figueroa, ex-embaixadora do Chile na Argentina e atual secretária-geral do Partido Comunista. Ao ser anunciada como chefe de campanha, Figueroa afirmou:
“Temos a grande satisfação e orgulho de anunciar este marco, que representa não apenas o apoio à candidatura de Jeannette Jara, mas também a integração de um grupo amplo, com personalidades das artes, da cultura, da ciência e da academia. Esta liderança reflete um senso de unidade, de um projeto comum. Temos um programa, uma convicção clara e uma candidata que encarna a responsabilidade necessária para promover as mudanças que o Chile precisa. Transformações profundas, mas com senso de realidade e sempre pensando nas famílias trabalhadoras do país.”
Lautaro Carmona, presidenta do Partido Comunista do Chile (PCCh), elogiou a candidatura de Jara como uma contribuição significativa para a consolidação de uma candidatura única para a coalizão governante:
“Um novo passo foi dado, um passo muito importante, que reflete a vontade, a determinação e a convicção de contribuir decisivamente para uma candidatura única e unida dentro da coalizão governista. Temos uma líder experiente com comprovadas capacidades em assuntos de Estado, liderança social e um profundo compromisso com a formação, o desenvolvimento e a empatia pelas principais questões nacionais. Este passo reafirma que esta força de esquerda não se limita a um único partido, mas sim formaliza a sua vontade de construir um novo governo apoiado por uma ampla coalizão, composta por oito partidos comprometidos com a transformação e os direitos da vasta maioria, especialmente dos trabalhadores.”
Lautaro assumiu a presidência do PCCh após o falecimento do histórico dirigente Guillermo Teillier.
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Desde a eleição de Boric, o crescimento do Partido Comunista do Chile (PCCh) tem sido evidente. Além de Jara, Boric conta ainda com a comunista Camila Vallejo como Secretária-Geral do governo. Já Karol Cariola fez história ao tornar-se a primeira mulher comunista a presidir a Câmara dos Deputados do Chile em 2024. Tanto Cariola quanto Vallejo tiveram muito destaque no auge da mobilização estudantil chilena entre 2006 e 2013, mesmo processo que fez emergir a liderança do jovem Boric.
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Na eleição de 2023, o PCCh obteve o seu melhor resultado eleitoral desde 1988. Além disso, é o partido com mais filiados no Chile. Sinal de que a aliança de governo com o presidente Boric tem sido positiva para os comunistas.
Theófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM. É coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Cultura & Sociedade da Fundação Maurício Grabois.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.