Como parte das ações de celebração do centenário de Clóvis Moura (1925-2003), a Fundação Maurício Grabois (FMG) lança a sétima edição de Rebeliões da Senzala: Quilombos, Insurreições, Guerrilhas, obra que revolucionou a pesquisa sobre a população escravizada no Brasil.
Publicado originalmente em 1959, o livro ganha uma nova edição, em uma parceria da FMG com a Editora Anita Garibaldi. O lançamento acontecerá na Livraria Tapera Taperá, em São Paulo (SP), na próxima quinta-feira, 3 de julho. O livro já está em pré-venda com desconto no site da editora.

Card de divulgação do lançamento da 7ª edição do livro Revoluções da Senzala, de Clovis Moura, que terá debate sobre o centenário do autor. Crédito: Divulgação
O evento terá debate sobre o centenário do autor com a participação de Cristiane Sabino, professora da UFSC; Juarez Xavier, professor da Unesp e ativista do movimento negro; Soraya Moura, historiadora e filha do autor; e Najara Costa, doutoranda em Humanidades pela USP e vereadora em Taboão da Serra (SP). A realização é da Fundação Maurício Grabois, em parceria com a Editora Anita Garibaldi, Unegro, UBM e CTB.
Obra revolucionou o debate sobre quilombos e resistência
A partir de uma pesquisa minuciosa em documentos do período escravagista, Clóvis Moura mudou os rumos do debate sobre a população escravizada no Brasil. Ele estabeleceu o quilombo como uma unidade política, com papel de destaque no combate ao regime escravagista, por meio de lutas de resistência cujo objetivo era, segundo o autor, “solapar as bases materiais e, consequentemente, as relações de trabalho existentes entre senhor e escravo”.
Em artigo para a FMG, o professor Everaldo Augusto, mestre em Literatura Brasileira, destaca que em Rebeliões da senzala, Clóvis Moura “registra, pela primeira vez, a questão de classe e raça como dois quesitos inseparáveis para explicar o processo de escravidão e do racismo estrutural no país.”, tendo como pressuposto básico o papel ativo do negro na resistência à escravidão.
Para Everaldo, com este livro, Moura desloca o olhar sobre o período, assentado até então na tese de uma suposta passividade dos escravizados, para o papel ativo da população negra na resistência à escravidão.
A chave para a mudança de percepção sobre o período escravocrata está na leitura marxista empreendida por Clóvis Moura. “Como em todas as demais sociedades divididas em classes, na sociedade escravista também existiu luta de classes”, observou José Carlos Ruy (1950-2021) em artigo de 2014 para a revista Princípios, onde destaca que Rebeliões da Senzala é “obra de um autor marxista, no sentido ortodoxo da palavra”.
Ruy destaca:
“Seu objetivo é investigar o passado histórico para compreender melhor as lutas do presente, e forjar os instrumentos conceituais que permitam, aos oprimidos de todos os matizes de nosso tempo, lutar pela igualdade entre os homens e por uma forma superior de organização da sociedade.”
Historiador Edson França, da Unegro, comenta, na TV Grabois, a visão insurgente de Clóvis Moura sobre a resistência negra no Brasil:
Teses da Rebelião
O trabalho de Clóvis Moura se contrapõe às visões predominantes na historiografia brasileira que retratavam a escravidão de forma “benigna” ou os escravizados como seres passivos e sem agência. Suas principais teses e contribuições incluem:
O escravo como agente histórico: Moura destaca que os escravizados não eram meras vítimas do sistema, mas agentes ativos de sua própria história, que lutaram e resistiram de diversas formas contra a opressão. Ele evidencia a participação dos escravizados em movimentos políticos, revoltas e insurreições.
A luta de classes na escravidão: o autor utiliza o materialismo histórico para analisar a escravidão no Brasil, interpretando as rebeliões e os quilombos como manifestações da luta de classes entre senhores e escravizados. Argumenta que essa contradição foi fundamental para o desgaste do sistema escravista.
Quilombos como formas de resistência ativa: diferentemente de interpretações que viam os quilombos como simples refúgios culturais, Moura os apresenta como núcleos de resistência organizada, verdadeiras comunidades autônomas e focos de guerrilha que desafiavam o poder escravista. Ele dedica capítulos específicos aos quilombos, em especial ao Quilombo dos Palmares, analisando-o como exemplo de organização e resistência.
Crítica à passividade e ao mito da democracia racial: o livro é uma crítica direta ao mito da democracia racial e à ideia de que a escravidão brasileira foi “suave”. Moura demonstra a violência intrínseca ao sistema e a constante resistência que ele gerou.
Proto-abolicionismo radical: o autor defende que as revoltas negras representaram um “proto-abolicionismo” radical — ou seja, um movimento que buscava a abolição da escravidão de forma profunda e transformadora — em oposição a um “pseudo-abolicionismo” conservador que viria a se consolidar posteriormente.
Conexão entre escravidão e marginalização pós-abolição: Moura também analisa as consequências da abolição, especialmente a Lei de Terras, mostrando como ela excluiu a população negra do acesso à terra e contribuiu para sua marginalização social, criando mecanismos de dependência que perduram até hoje.
Outros títulos de Clóvis Moura com desconto especial
Além da nova edição de Rebeliões da Senzala – Quilombos, Insurreições, Guerrilhas, a Livraria Anita está com promoções especiais em outras obras de Clóvis Moura, todas com 10% de desconto. Estão disponíveis títulos como Dialética Radical do Brasil Negro, O negro de bom escravo a mau cidadão?, Os quilombos e a rebelião negra, Brasil: as raízes do protesto negro e As injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira.
Serviço
Evento: Debate e lançamento da 7ª edição do livro Rebeliões da Senzala – Quilombos, Insurreições, Guerrilhas
Data: Quinta-feira, 3 de julho de 2025
Horário: 19h
Local: Livraria Tapera Taperá
Endereço: Galeria Metrópole – Av. São Luís, 187, 2º andar, República – São Paulo (SP)
Participações confirmadas:
-
Cristiane Sabino – Professora Dra. no Departamento de Serviço Social da UFSC
-
Juarez Xavier – Professor Dr., diretor da FAAC/Unesp-Bauru e ativista do movimento negro
-
Soraya Moura – Historiadora, filha e divulgadora da obra de Clóvis Moura
-
Najara Costa – Doutoranda em Humanidades (USP) e vereadora em Taboão da Serra (SP)
Realização: Fundação Maurício Grabois, Editora Anita Garibaldi, Unegro, UBM e CTB
Entrada gratuita – não é necessário inscrição prévia.
Livro
Título: Rebeliões da Senzala – Quilombos, Insurreições, Guerrilhas
Autor: Clóvis Moura
ISBN: 978-65-89805-52-6
Editora: Anita Garibaldi / Fundação Maurício Grabois
Ano de publicação: 2025
Edição: 7ª edição (edição comemorativa do centenário de Clóvis Moura)
Páginas: 460
Disponível em pré-venda online por R$ 85,00 (de R$ 96,00) – desconto de R$ 11,00.
Compre aqui com desconto na Livraria Anita