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    Economia

    Lucro vale mais que ideologia: quando até o Estadão se volta contra Trump e Bolsonaro

    Novas tarifas dos EUA para exportadores brasileiros miram Lula e Alexandre de Moraes, mas acertam agronegócio. Para Elias Jabbour, é o bolsonarismo versão “Organizações Tabajara”

    POR: Elias Jabbour

    4 min de leitura

    Símbolo do agronegócio brasileiro, a exportação de soja será atingida pelas novas tarifas dos EUA. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
    Símbolo do agronegócio brasileiro, a exportação de soja será atingida pelas novas tarifas dos EUA. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

    Há uma questão interessante na crise das novas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. Quando a gente esmiúça o que está acontecendo no mundo, no governo Trump e no Brasil com Bolsonaro, podemos chegar à conclusão de que a forma como esses caras se organizam é a mesma das Organizações Tabajara. Aquela empresa fictícia criada pelos humoristas do Casseta & Planeta, que oferecia produtos com fracasso de venda garantido.

    Leia também: Brasil, BRICS+ e as rotas que irritam Trump

    Exemplifico aqui o porquê de qualificar assim o empreendimento bolsonarista, em sociedade com Donald Trump. O Estadão, jornal ultraconservador de São Paulo, fez um editorial no qual afirma:

    “Não há outra conclusão a se tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos.”

    E avança:

    “Esse espantoso episódio serve para demonstrar, como se ainda houvesse alguma dúvida, o caráter absolutamente daninho do trumpismo e, por tabela, do bolsonarismo. Para esses movimentos, os interesses dos EUA e do Brasil são confundidos com os interesses particulares de Trump e de Bolsonaro.”

    Mas foi além, E L O G I O U o Lula:

    “A reação inicial de Lula foi correta. Em postagem nas redes sociais, o presidente lembrou que o Brasil é um país soberano, que os Poderes são independentes e que os processos contra os golpistas são de inteira responsabilidade do Judiciário. E, também corretamente, informou que qualquer elevação de tarifas por parte dos EUA será seguida de elevação de tarifas brasileiras, conforme o princípio da reciprocidade.”

    Todos conhecem a história do Estadão e suas posições públicas. Basta lembrar da pérola: “Uma escolha muito difícil”, título do editorial em outubro de 2018 sobre o segundo turno das eleições presidenciais entre Haddad e Bolsonaro.

    Contra Trump e os sabujos, resposta do Brasil é soberania e democracia

    Então, por que essa eloquência agora?

    A resposta está na essência capitalista. Quem financia o Estadão, quem está por trás dos interesses materiais do jornal, é o agronegócio de São Paulo e o que restou da indústria paulista. São também os dois setores econômicos mais afetados pelas tarifas de Trump ao Brasil. Além disso, os EUA são o país que mais compra produtos de São Paulo.

    Veja comentário na TV Grabois: 

     

    Trump não ressuscitou nenhuma burguesia nacional. O que eles conseguiram foi mexer com o preço fundamental na economia capitalista: o lucro. E mexeram logo com a taxa de lucro de setores econômicos importantes do Brasil, principalmente o agronegócio — setor que os bolsonaristas têm na conta como seus grandes fiadores.

    O editorial do Estadão leva a acreditar que tudo o que estava previamente arranjado para as eleições de 2026 foi por água abaixo.

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    Nós encontramos um veio agora em que é bom perseverarmos até o ano que vem para derrotar bolsonaristas, a extrema-direita, com um discurso nacionalista, consequente e desenvolvimentista. No “nós contra eles”, tendo no centro a questão nacional. É o mais importante neste momento.

    Tudo isso, com oferecimento das Organizações Tabajara do bolsonarismo, uma corrente política antinacional e antipopular.

    Elias Jabbour é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, foi Consultor-Sênior do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos BRICS) e é presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. É autor, pela Boitempo, com Alberto Gabriele de “China: o socialismo do século XXI”. Vencedor do Special Book Award of China 2022.

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