Israel extermina; Trump e a Otan abençoam – “Israel suspende bombardeio aéreo [de Gaza] após ataque que deixou 60 mortos”. A notícia não é da semana, nem do mês passado, mas de dezenove anos atrás (O Estado de São Paulo de 31 de julho de 2006). Notícias semelhantes são recorrentes ao longo das décadas.
O Estado sionista nasceu chacinando palestinos e expandiu-se pisando em seus cadáveres. Gaza já tinha sido vítima de uma agressão militar israelense que se estendeu por três semanas, de 27 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009. A incomensurável desproporção de forças entre a máquina de guerra sionista e a milícia do Hamas se expressa na frieza dos números: foram mortos mais de 1.400 palestinos contra 13 israelenses.
Os palestinos designam pelo termo “Nakba” (“catástrofe” ou “desastre”) a “limpeza étnica”, com métodos muitas vezes genocidas, promovida pelos colonos sionistas para expulsar as populações árabes de sua terra natal. Iniciada em 1947, ela prossegue em nossos dias. Basta relembrar a longa e tenebrosa lista de crimes sionistas contra os palestinos.

Vista da aldeia palestina de Deir Yassin, cenário do massacre ocorrido em 9 de abril de 1948, durante conflito que antecedeu a criação do Estado de Israel. Crédito: Domínio Público — conforme a lei de direitos autorais de Israel (2007) e o antigo Mandato Britânico. Via Wikimedia Commons
O padrão de etnocídio foi fixado entre dezembro de 1947 e março de 1948, quando muitas aldeias árabes foram arrasadas. Esse surto de covarde violência culminou num dos mais odiosos e atrozes crimes contra a humanidade cometidos no século XX. Na madrugada de 9 de abril de 1948, os esquadrões da morte Stern e Irgun, especializados nas modalidades mais cruéis e tenebrosas de ação terrorista, atacaram de surpresa a aldeia palestina de Deir Yassine, chacinando sua população indefesa em uma orgia de bestialidade que sequer poupou mulheres grávidas, cujo ventre foi aberto a facadas. Desses grupos de degenerados faziam parte Begin e Shamir, futuros chefes de governo de Israel.
Ben-Gurion, patriarca do sionismo social-democrata, que deplorou esses crimes, assim caracterizou Begin:
“[…] é um personagem talhado da cabeça à planta dos pés à imagem do modelo hitleriano. Está disposto a eliminar todos os árabes para completar as fronteiras do país. […]. Considero-o um grande perigo para Israel[…]”. Se chegar ao poder, prossegue Ben-Gurion, colocará “criminosos de sua espécie à frente da polícia e do exército”.
E concluiu:
“Não duvido que Begin deteste Hitler, mas este ódio não prova que ele seja diferente de Hitler.”
Sessenta e dois anos depois, é certamente o caso de dizer de Netanyahu o que Ben-Gurion disse de Begin. O atual chefe do governo israelense é um genocida contumaz, responsável pela horripilante operação de extermínio dos palestinos de Gaza.
Cercado de agressores sionistas por todos os lados, o pequeno enclave tornara-se um grande campo de concentração para palestinos. Quando, em 7 outubro de 2023, a longa humilhação e os intermináveis sofrimentos que lhes eram impostos pelos ocupantes atingiu o insuportável, a revolta explodiu espasmódica e brutalmente, com o Hamas à frente. O desespero dos que não têm mais nada a perder não leva em conta relações de força: os revoltosos foram triturados pela máquina repressiva israelense em sucessivas campanhas de extermínio.
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Segundo um relatório divulgado no início de junho na Harvard Database, pelo menos 377.000 palestinos (cerca de 17% da população total da faixa de Gaza) “desapareceram” desde o início da operação genocida de Israel. Cerca da metade são crianças.
Veja: Exército de ocupação israelense atira em civis enquanto eles aguardam ajuda na Faixa de Gaza. Registro divulgado pelo jornalista Hatem Hany no Instagram.
Esta operação de massacre estava em pleno curso quando o governo israelense alastrou a guerra atacando o Irã, que replicou rompendo com seus mísseis as barreiras antiaéreas do agressor contumaz. Como costumam fazer quando não conseguem agredir impunemente os povos de que não gostam, os valentões de Tel Aviv apelaram para seus protetores do Pentágono e da Casa Branca, pedindo que castigassem os iranianos, sob o pretexto de que eles pretenderiam fabricar bombas atômicas.
Na lógica dos gangsters imperialistas, no Oriente Médio os artefatos nucleares devem continuar sendo monopólio do Estado terrorista israelense. Daí o bombardeio estadunidense das instalações nucleares iranianas, descarada agressão a um país que estava utilizando armas convencionais para se defender da agressão israelense.
Netanyahu e seu governo são amostras daquilo que a humanidade produziu de pior. Que sejam protegidos pela máquina de guerra de Trump e da Otan está na lógica da opressão imperialista: é a recompensa dos gangsters a seus lacaios e capangas fiéis.
João Quartim de Moraes é professor universitário, formado em Filosofia e em Direito na Universidade de São Paulo. Em 1968-69 participou da resistência clandestina à ditadura militar. Passou os anos setenta exilado na França. Após a anistia, voltou ao Brasil. Professor de Filosofia na Unicamp Publicou vários livros e muitíssimos artigos no Brasil e na Europa. É pesquisador sênior do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Seus temas centrais: história do pensamento político, materialismo antigo e moderno, marxismo, instituições brasileiras.
*Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.