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    Economia

    Iago Montalvão vence prêmio com análise da financeirização da transição energética no Brasil

    Dissertação premiada em Economia Ecológica analisa como o “estado redutor de riscos” limitou o papel do Estado brasileiro na transição energética. Saiba mais sobre o estudo

    POR: Leandro Melito

    5 min de leitura

    Iago Montalvão na pré-conferência do Young Scholars Initiative, realizada durante o lançamento do Center of Heterodox Economy (CHE) na Universidade de Tulsa (EUA), liderado pela economista Clara Mattei. Foto: LinkedIn/Iago Montalvão.
    Iago Montalvão na pré-conferência do Young Scholars Initiative, realizada durante o lançamento do Center of Heterodox Economy (CHE) na Universidade de Tulsa (EUA), liderado pela economista Clara Mattei. Foto: LinkedIn/Iago Montalvão.

    A dissertação de mestrado O financiamento da transição energética no Brasil sob o regime de De-risking State, defendida por Iago Montalvão no Instituto de Economia da Unicamp (IE-Unicamp), conquistou o II Prêmio Brasileiro de Dissertações e Teses em Economia Ecológica, concedido pela Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (Ecoeco) na edição de 2025.

    “O Brasil é um país cuja matriz energética já é majoritariamente renovável. Mas para além disso também é um país com imenso potencial de desenvolver ainda mais fontes de energia limpa, que são necessárias pra um processo de reindustrialização robusto. A infraestrutura para esse tipo de transição também oferece condições de desenvolver uma cadeia produtiva com um médio-alto valor agregado, intensivo em capital e trabalho qualificado”, declarou  ao Portal Grabois.

    Doutorando em Economia na Unicamp, Iago Montalvão coordena o Grupo de Trabalho Novo Ciclo de Desenvolvimento Social da Fundação Maurício Grabois. Além de sua atuação na área econômica e na pesquisa, tem trajetória no movimento estudantil — foi presidente da União Nacional dos Estudantes (2019–2021). Também é colunista deste portal e apresenta o programa Almoço Grátis na TV Grabois.

    Estado redutor de riscos

    Em sua dissertação, o pesquisador aborda um dilema central da crise climática: a necessidade urgente de investimentos massivos em energia limpa em contraponto à lógica do capital financeiro global. Montalvão oferece um diagnóstico do modelo adotado pelo Brasil para financiar seu futuro energético. Sustenta que a expansão das fontes eólica e solar no país vem sendo estruturada sob um regime de “estado redutor de riscos” — uma arquitetura financeira em que o setor público reconfigura sua atuação: não mais para liderar o investimento, mas para absorver as incertezas e garantir a lucratividade de investidores privados, em sua maioria estrangeiros.

    Essa abordagem, segundo a pesquisa, está alinhada a uma lógica global mais ampla, o “Consenso de Wall Street”, uma evolução do antigo Consenso de Washington, onde a solução para os grandes desafios do desenvolvimento, incluindo a crise climática, é crescentemente delegada ao mercado de capitais.

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    Montalvão buscou demonstrar como o regime de “estado redutor de riscos” minou a capacidade do Estado brasileiro de coordernar esse processo, entregando a potencialidade do país em relação à construção de infraestrutura para transição energética na mão do setor privado.

    “Esse ainda é um desafio atual, o Estado não pode ser um mero facilitador do processo de financeirização, tem de ser o promotor de uma agenda de desenvolvimento nacional ligada aos objetivos da construção de um novo tipo de civilização, onde a crise ecológica será superada ao passo que também se constrói justiça social”, alerta o pesquisador.

    Leia também: Crise climática e civilização ecológica – debate entre marxismo e ecologia

    O papel do BNDES

    Ao examinar a atuação de bancos multilaterais, fundos climáticos e a própria reformulação estratégica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a dissertação revela que a instituição tem assumido uma função de facilitadora do capital externo. Esse papel contribui para uma transição energética que, embora amplie a geração de energia limpa, não promove a substituição efetiva das fontes fósseis.

    Leia mais: Progressismo em tempos de transição: a Revolução Brasileira no século XXI

    Montalvão aponta que o modelo reforça a concentração de capital, a dependência externa e aprofunda o papel subordinado do Brasil na economia global, sem assegurar que os benefícios da transição sejam distribuídos de forma equitativa.

    A dissertação, defendida em fevereiro de 2025, conclui com um chamado à reflexão sobre a necessidade de políticas públicas que resgatem a capacidade de planejamento do Estado, visando reduzir a dependência externa e promover uma transição que seja, de fato, justa e sustentável. O reconhecimento por parte da Ecoeco, uma sociedade científica que valoriza abordagens interdisciplinares e críticas à economia convencional, confere um peso especial a essa mensagem.

    Leia a dissertação completa de Iago Montalvão, premiada pela Ecoeco: Acesse aqui

    Receber o prêmio, para o autor, foi mais do que uma honra pessoal.

    “Penso que o debate ecológico tem de estar intimamente vinculado ao desenvolvimento com justiça social e climática. Pensar que meu trabalho pode ter maior repercussão e contribuir com essas discussões me alegra muito. Ainda tenho muito o que aprender, mas espero que sempre que escrevermos algo, nós também consigamos contribuir pra que a teoria econômica esteja a favor da transformação social.”

    Sobre a premiação

    O II Prêmio Brasileiro de Dissertações e Teses em Economia Ecológica, promovido pela Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (Ecoeco), reconhece trabalhos acadêmicos de destaque com abordagens interdisciplinares e críticas à economia convencional. A edição de 2025, que homenageia o economista Charles Curt Mueller, terá a entrega da premiação no dia 11 de setembro de 2025 (quinta-feira), durante o XVI Encontro Nacional da Ecoeco, em Cruzeiro do Sul (AC).

    Almoço Grátis

    O economista e pesquisador Iago Montalvão é o apresentador da nova temporada do Almoço Grátis, programa da TV Grabois que relaciona temas da economia com o cotidiano da população brasileira. O programa é exibido quinzenalmente, às quintas-feiras, ao meio-dia, na TV Grabois. Todos os episódios já exibidos estão disponíveis na playlist do programa, que pode ser acessada aqui.

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