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    Economia

    Celso Furtado e as lições de soberania e desenvolvimento em tempos atuais

    Nos 105 anos do nascimento do economista, reflexões de Celso Furtado para enfrentar as ameaças estadunidenses à soberania do Brasil.

    POR: Walter Sorrentino

    4 min de leitura

    Economista Celso Furtado (1920-2004). Foto: Fabio Motta/Agência Senado
    Economista Celso Furtado (1920-2004). Foto: Fabio Motta/Agência Senado

    Celso Furtado (1920–2004) teria completado 105 anos no sábado, 26 de julho. Considero-o um dos maiores intelectuais e homens públicos do Brasil, cuja obra e atuação deixaram um legado marcante na construção de um novo patamar civilizacional para a nação. Foi um homem de seu tempo — íntegro, profundamente culto e movido por um humanismo raro. Visionário da industrialização brasileira, Furtado não apenas a defendeu, mas também lhe deu fundamentos teóricos, traçou uma estratégia clara e concebeu os caminhos para sua gestão.

    Leia mais: Leda Paulani apresenta “O mito do desenvolvimento econômico”, de Celso Furtado

    Deparei-me com alegria com um depoimento da escritora, jornalista e tradutora, Rosa Freire D’Aguiar, publicado no jornal eletrônico O Sol, de Alberto Villas. Rosa foi casada com Celso e é uma das fundadoras do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento (Cicef), criado em novembro de 2005 — um ano após a morte do intelectual. A iniciativa nasceu depois de o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerir a Celso Furtado, em junho de 2004, a criação de um espaço de pesquisa sobre desenvolvimento que levasse o nome do próprio economista.

    Na casa de Rosa Freire d’Aguiar e Celso Furtado: o casal recebe Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro realizado antes do falecimento do economista, em 2004. Crédito: Reprodução / Instagram @rosafdaguiar

    Rosa Freire d’Aguiar entre Celso Furtado, seu marido, e Luiz Inácio Lula da Silva, em registro feito antes do falecimento do economista, em 2004. Crédito: Reprodução / Instagram @rosafdaguiar

    Furtado faleceu poucos meses depois, em 20 de novembro de 2004. Rosa foi a primeira presidente cultural da associação e organizou o acervo bibliográfico público de Celso Furtado. Em 2019, doou esse acervo bibliográfico e documental ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo.

    A pérola que ela nos brinda em O Sol:

    “Desde que ele morreu, em 2004, até que doei seus arquivos para a USP, em 2019, organizei, editei, escrevi um monte de livros sobre ele, sobre sua obra. Nas pesquisas que fiz em sua papelada, aqui e ali caí em peças curiosas, em reflexões que confirmam minha impressão de que, mais do que um economista, ele foi um grande pensador social. Mas para relembrar este dia, e diante do perigoso ineditismo da situação que estamos vivendo desde que o Energúmeno do Norte danou a nos fazer ameaças, tentei encontrar algo que Celso tivesse escrito sobre ´soberania´.”

    Rosa relata que na busca encontrou um trecho de uma resposta de Celso Furtado à jornalista Maria Helena Passos, que o entrevistou para a revista Problemas Brasileiros.

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    Eis o achado:

    “No mundo de hoje, se você perde a soberania, é quase impossível recuperá-la. Nosso país tem a tradição de preservá-la. Conseguiu manter sua unidade com todas as forças dispersivas que havia em sua cultura e sua formação. Isso deriva de uma tradição herdada dos portugueses: a noção de Estado, preservada em toda a história brasileira. Quando a soberania corre risco, parece que desperta um instinto de sobrevivência. No mundo de hoje, é difícil explicar um Brasil tão vasto, com tantos recursos, sem nenhum movimento de dissidência. É o entranhamento, em nós, da noção de soberania.”

    Oxalá, Rosa! Oxalá, brasileiros e brasileiras, nesta hora em que o Brasil está sob ataque do mesmo Energúmeno do Norte!

    Walter Sorrentino é presidente da Fundação Maurício Grabois e vice-presidente nacional do PCdoB.

    *Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.

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