“O velho está morrendo e o novo não pode nascer; neste interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece.”
A conhecida frase de Gramsci parece definir bem o momento que o mundo atravessa. Muitos pensavam que o século XXI traria a realização de diversas utopias. Alguns mais ingênuos acreditavam que o avanço da tecnologia e das redes sociais traria novas ferramentas de ampliação da democracia e de melhorias na vida em sociedade. Pelo contrário, o acúmulo desenfreado de capital foi capaz de colocar tudo a seu serviço, ampliando ainda mais os tentáculos do domínio político, econômico e cultural sobre os povos de todo o mundo.
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A verdade é que, ao final deste primeiro quarto do século, coloca-se diante da humanidade um dilema: seguir sob a lógica destrutiva do capitalismo, que gera cada vez mais desigualdade, concentração de renda, fome, racismo, guerras e devastação ambiental, colocando em risco a vida neste planeta, ou abrir caminhos para um futuro de justiça social, democracia plena, autodeterminação dos povos e construção de uma nova relação entre os seres humanos e destes com a natureza. O passo definido nessa encruzilhada é também uma questão de sobrevivência para a maioria das pessoas.
Partido Comunista e a luta socialista no século XXII é tema de mesa do Ciclo de Debates: Os desafios brasileiro, nesta segunda-feira (18), em Porto Alegre (RS). Debate terá transmissão ao vivo, veja aqui:
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O capitalismo contemporâneo, sustentado pela financeirização e pelo domínio de grandes corporações, precarizou ainda mais o trabalho, com jornadas exaustivas. É preciso admitir a genialidade do capitalismo neste sentido: foi capaz de turvar a visão do trabalhador, tornando mais difícil identificar quem está lucrando com o seu trabalho mal remunerado. Enquanto isso, os donos dessas grandes empresas de tecnologia estão cada vez mais ricos, devastando o planeta, fragilizando as regulamentações locais e explorando a força de trabalho alheia.
Ao mesmo tempo, a crise climática, a concentração de riqueza e a precarização da vida dos trabalhadores escancaram que esse modelo não tem condições de responder às necessidades básicas da humanidade.
Diante desse quadro, a luta socialista reaparece não apenas como memória do século passado, mas como necessidade para o tempo atual. As experiências de países que optaram por construir caminhos próprios de desenvolvimento demonstram que é possível construir alternativas.
Ao analisar as experiências chinesa, vietnamita e cubana, percebe-se que o marxismo se mostrou uma ferramenta revolucionária que serviu de munição para um profundo desejo popular já existente de emancipação e de soberania nacional contra o imperialismo colonial.
Domenico Losurdo sintetiza com nitidez o papel histórico cumprido pelos comunistas no Leste Europeu e no Oriente onde “o marxismo-leninismo são [foram] a verdade e a arma ideológica capazes de pôr fim à situação de opressão e de “desprezo” imposta pelo colonialismo e pelo imperialismo”.
Diante da guerra tarifária deflagrada pelos Estados Unidos contra o Brasil e o mundo, como parte de seu esforço e luta contra a decadência norte-americana, cabe ao Partido Comunista entrelaçar a bandeira vermelha do socialismo com a verde-amarela — a bandeira brasileira. Este é o caminho para a libertação do povo e da nação.
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O mesmo se apresenta hoje em países como México e Colômbia, que enfrentam a nova fase do imperialismo e fazem apelos à unidade nacional para se defender da escancarada crise do neoliberalismo, impulsionada pelo relativo declínio dos Estados Unidos que, sob Trump, realiza nova investida para transformar a América Latina em seu quintal.
Dessa forma, no Brasil a luta pelo socialismo se traduz na defesa de um ciclo de mudanças estruturais, capaz de unir democracia, desenvolvimento científico e tecnológico, proteção da natureza e valorização do trabalho. É preciso identificar as reais potencialidades do povo brasileiro ao lado das suas principais necessidades. Emancipar as pessoas ao mesmo tempo em que se garante dignidade, oportunidades e condições para viver em paz.
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Mas não basta projetar políticas econômicas e sociais. O embate central deste tempo também se trava no campo das ideias. A extrema-direita compreendeu, desde cedo, o poder da comunicação digital para disseminar ódio e obscurantismo. Enfrentar esse desafio exige reconhecer o quanto a esquerda se encontra atrasada nesse debate, ao mesmo tempo em que organiza politicamente sua presença ativa no debate público, além da capacidade de falar à maioria do povo com linguagem simples. É preciso que o campo político compreenda que este tema não se reduz à forma nem à estética, ainda que estas sejam questões fundamentais. Fosse assim, bastava à esquerda depositar sua fé nas melhores agências de comunicação. Não, o debate precisa ser feito, sobretudo, com elaboração política e uma profunda compreensão sobre o que se deseja comunicar. “O que falar” e “como falar” são questões indissociáveis. É a boa e velha luta de ideias, desta vez no ambiente digital.
Nada disso se constrói de forma pulverizada. Por isso, o Partido Comunista do Brasil precisa se fortalecer enquanto ferramenta revolucionária. A vocação do PCdoB é ser um partido rebelde, radical, que exige ir à raiz do problema. É tarefa dos comunistas apontar o caminho para as forças progressistas, fortalecer alianças mesmo com quem pensa diferente e, sobretudo, mobilizar o povo. Apresentar alternativas à barbárie neoliberal, acender novos sonhos e prová-los possíveis de se realizar. O PCdoB é um partido necessário e precisa estar à altura de seus desafios.
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Este artigo, iniciado com uma frase de Gramsci, não encontra melhor forma de se encerrar do que com uma passagem de igual importância dita por João Amazonas:
“Assim será o século XXI: no início trevas, depois luz.”
O socialismo será a luz após a escuridão dos dias atuais, para isso precisa da altivez do Partido Comunista. O socialismo vive!
Giovani Culau é vereador pelo PCdoB de Porto Alegre (RS), líder do Partido na Câmara Municipal e porta-voz do Movimento Coletivo. Cientista Social, estudante de Psicologia, foi vice-presidente sul da União Nacional dos Estudantes e presidente da União da Juventude Socialista no Rio Grande do Sul.