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    China

    China atualiza conceito da economia de projetamento de Ignácio Rangel

    Gabriel Dalpiaz e Elias Jabbour analisam, na Revista Princípios, como o socialismo chinês aplica a dialética rangeliana à modernização e à planificação econômica

    POR: Leandro Melito

    5 min de leitura

    Passageiros aguardam para embarcar num trem de alta velocidade na cidade de Zaozhuang, província de Shandong, no leste da China, em 22/02/2025. Foto: Li Zongxian/Xinhua
    Passageiros aguardam para embarcar num trem de alta velocidade na cidade de Zaozhuang, província de Shandong, no leste da China, em 22/02/2025. Foto: Li Zongxian/Xinhua

    O conceito de projetamento elaborado pelo economista brasileiro Ignácio Rangel (1914-1994) para analisar economias planificadas, a partir da experiência da União Soviética, foi mobilizado por Gabriel Dalpiaz e Elias Jabbour para analisar a experiência atual do socialismo chinês no artigo “Análise filosófico-econômica do conceito de projetamento no socialismo chinês do século XXI“, publicado na edição número 172 da Revista Princípios.

    Dalpiaz e Jabbour destacam a necessidade de compreender a dialética hegeliano-marxista para analisar de forma efetiva a realidade chinesa. “Reconhecer o desenvolvimento chinês em sua complexidade não é considerar as formas históricas e conceitos como predefinidos — como fazem os cientistas sociais ocidentais —, mas em um processo dialético”, apontam no artigo.

    Produção automatizada na fábrica da NIO, fabricante chinesa de veículos elétricos inteligentes, localizada na província de Anhui, China. Foto: Xinhua

    A partir dessa perspectiva, o texto apresenta as características do modelo chinês enquanto uma experiência de socialismo no século XXI, com uma economia política ditada por um planejamento central e guiada por meio de projetos, que se enquadram no conceito de economia do projetamento elaborado por Ignácio Rangel na obra Elementos de economia do projetamento (1959).

    Leia também: Lições da China sobre redução da pobreza na Revista Princípios

    A teoria desenvolvida por Rangel é baseada na dialética e elaborada a partir da relação de custo e benefício, instrumentos norteadores de uma economia planificada que prioriza o olhar científico sobre a economia política para determinar não apenas o que é vantajoso para a empresa, mas também para a sociedade.

    Esse modelo, argumentam os autores, só pode ser aplicado em economias planificadas, “visto que o benefício não virá necessariamente a curto prazo”.

    Em uma sociedade capitalista, em que um dos blocos históricos do poder político dominante é o capital financeiro, fica inviável a aplicação do projetamento, pois aquele se utiliza da prática de aplicar o dinheiro de seus acionistas no mercado financeiro para obter lucro imediato, tornando a técnica obsoleta, em vez de aplicar esses recursos na transformação tecnológica da empresa e avançar na fronteira do conhecimento.

    Diferente do Brasil e outros países capitalistas que têm como um dos blocos históricos de poder político dominante o capital financeiro, os autores apontam que a China, tendo o PCCh como um bloco histórico de poder político com orientação socialista, consegue desenvolver as suas tecnologias sem ceder ao capital financeiro, e, portanto, utiliza os seus ativos para o desenvolvimento do próprio país.

    Engenheiros da Wuhan Glory Road Intelligent Technology Co., Ltd., na China, trabalham na depuração de robôs humanoides. Projetados para suportar cargas de até 60 kg, representam um avanço significativo na robótica industrial e no desenvolvimento de aplicações orientadas para a automação. (Foto: Xinhua/Du Zixuan)(25/02/25)

    Nesse sentido, Dapiaz e Jabbour apontam que é a partir da procura da razão entre custo e benefício que se dá a modernização chinesa nas áreas urbanas e o desenvolvimento industrial do país. “O novo projetamento no socialismo chinês proporciona a elevação da técnica em um período em que se estabelece a Quarta Revolução Industrial, com o PCCh construindo as ferramentas para esse processo”, destacam os autores.

    Os autores concluem que o pensamento de Rangel renasce no socialismo com características chinesas.

    O projetamento é uma resposta como teoria e método, que corresponde a uma necessidade histórica, em que o Estado chinês, como ente, procura se desenvolver em prol da nação. A atual planificação chinesa consegue deixar o terreno fértil para o projetista elaborar o seu raciocínio em prol do país. Busca-se o benefício à sociedade, superando problemas que muitas das vezes são naturalizados em economias capitalistas, que buscam o lucro imediato em vez do investimento em tecnologias que darão resultados mais tardios.

    Socialismo, China e nova economia do projetamento

    O conceito de economia do projetamento foi trabalhado nos números 171 e 172 da Revista Princípios, lançados no início deste mês na Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes).  O conceito de projetamento foi objeto de uma chamada de artigos que, devido ao grande número de contribuições, resultaram em um dossiê publicado nas edições consecutivas da revista, organizadas por Elias Jabbour.

    “Esses dois dossiês da Princípios são um marco no processo de renovação do debate sobre o socialismo no nosso país”, destaca Fábio Palácio, editor da revista. “O conceito de projetamento é hoje vértice de um conjunto de elaborações inovadoras, que tentam lançar luz sobre o fenômeno chinês e, de forma mais ampla, sobre a alternativa socialista na atualidade.”

    Na edição 171 foram publicados estudos empíricos, voltados ao exame de aspectos específicos da vida chinesa e na edição 172 foram publicados artigos teóricos e conceituais que refletem sobre o significado da nova economia do projetamento para os desafios da transição ao socialismo no século XXI.

    “Percebe-se, na China dos últimos anos, a descoberta de novas formas de governança e o surgimento de superiores formas de planificação econômica. O socialismo se transforma em uma ‘sociedade de projetamento’ – forma histórica marcada pela transformação da razão em instrumento de governo”, destaca Palácio.

    Serviço

    Revista: Princípios (Qualis A3)
    ISSN: 1415-7888 | E-ISSN: 2675-6609
    Editora: Anita Garibaldi
    Para ler a edição completa online:

    Princípios 171: China e nova economia do projetamento

    Princípios 172: Socialismo e nova economia do projetamento

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