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    EUA

    Fim da guerra na Ucrânia está próximo? Divisão EUA–Europa expõe novos cenários

    Encontro de Trump com Zelensky e líderes europeus revela fissuras transatlânticas, abre debate sobre negociações com a Rússia e possíveis saídas para o conflito

    POR: Ana Prestes

    7 min de leitura

    Mapa da situação do campo de batalha na Ucrânia (22/08/2025) mostra a pressão militar russa em diferentes frentes — norte, leste e sul. As áreas em rosa indicam territórios ocupados pela Rússia desde 2014 (mais claro) e desde 2022 (mais escuro), com destaque para o Donbass e a Península da Crimeia. Crédito: UK Ministry of Defence – Defence Intelligence.
    Mapa da situação do campo de batalha na Ucrânia (22/08/2025) mostra a pressão militar russa em diferentes frentes — norte, leste e sul. As áreas em rosa indicam territórios ocupados pela Rússia desde 2014 (mais claro) e desde 2022 (mais escuro), com destaque para o Donbass e a Península da Crimeia. Crédito: UK Ministry of Defence – Defence Intelligence.

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu esta semana na Casa Branca líderes europeus e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para discutir a possibilidade da construção de um acordo que coloque um fim à guerra na Ucrânia.

    Estiveram presentes na reunião a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni; o chanceler alemão, Friedrich Merz; o presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer; o presidente da Finlândia, Alexander Stubb; e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.

    O presidente Donald Trump recebeu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky e líderes europeus na Casa Branca. Foto: Divulgação / Volodymyr ZelenskyNão se sabe ainda quão próximo está o mundo de ver o fim da guerra na Ucrânia, mas sabe-se que há uma mudança absoluta, porque há bem pouco tempo não havia a menor possibilidade de uma mesa como essa, um encontro de cúpula de chefes de Estado e a preparação de um encontro entre o Zelensky e o Putin para os próximos dias.

    Leia também: Entenda como a Rússia Soviética derrotou intervenção estrangeira e recuperou a Ucrânia

    Uma primeira leitura que se pode fazer é a de uma fratura da Aliança Atlântica, uma separação entre o presidente dos Estados Unidos e os seus aliados europeus e aliados dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Esse é um fenômeno que a gente pode classificar como característico deste momento do jogo da geopolítica, em que há uma fratura exposta.

    Também é possível perceber o enorme barco furado no qual os europeus se enfiaram na relação com a Rússia. Há poucos anos, você tinha uma relação minimamente equilibrada ou mais civilizada com a Rússia, inclusive com a construção do Nord Stream 1, Nord Stream 2 para levar gás, principalmente para a Alemanha, uma relação mínima que existia entre a chanceler Angela Merkel e o governo de Putin. Contudo, isso foi se deteriorando justamente a partir da instrumentalização por parte dos Estados Unidos de países como a Ucrânia, que tem uma enorme fronteira com a Rússia. O que colocou em xeque a linha vermelha que sempre esteve clara para todo mundo, que é o não avanço da Otan sobre as fronteiras russas.

    A revolução colorida da Praça Maidan em 2014, a questão da Crimeia, o não cumprimento dos acordos Minsk 1, Minsk 2 e o assassinato da população russa da região do Donbas, levou justamente
    à invasão russa sobre o território ucraniano. Isso é inegável, e não foi só uma declaração, mas uma assunção da guerra quente propriamente dita.

    Estes mesmos atores que se reuniram com o Trump, se recusaram completamente, a todo momento, a buscar uma saída negociada para que se estabelecesse uma mesa de diálogo para tirar a Ucrânia deste lugar, de estar sendo massacrada, tendo todos os ônus de viver uma guerra enquanto os líderes europeus vacilantes se recusaram a abrir qualquer tipo de negociação.

    Muito pelo contrário, colocaram o pé no acelerador da russofobia, do isolamento da Rússia, se alinharam aos democratas de uma forma absolutamente acrítica, no sentido de fazerem tudo que o ex-presidente Joe Biden e o ex-secretário de Estado, Antony Blinken determinaram. O então premier do Reino Unido, Boris Johnson, chegou a ir pessoalmente à Ucrânia no momento em que se avançava uma mesa de negociação na Turquia para interromper qualquer processo de negociação.

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    Apostaram na guerra, fizeram a guerra, fizeram com que seus povos sofressem os efeitos dessa guerra na economia, no desabastecimento energético, na elevação do preço dos alimentos, no aumento do custo de vida. Não conseguiram criar uma solução e hoje correm atrás de impedir que o governo russo, a partir de uma relação estabelecida com o governo dos Estados Unidos, particularmente com Trump, possa colocar as suas exigências na mesa e ter as suas exigências minimamente cumpridas, até porque militarmente eles estão vencendo esta guerra.

    Na prática, a Rússia vence a guerra. Agora, o que precisa ser feito é dar um desfecho para esse processo, dar uma solução e uma saída digna e honrosa para a Ucrânia, para que o povo ucraniano possa retomar também a sua vida.

    Interessante dizer que o mesmo fator que deu origem à guerra é o que vai poder também colocar um fim na guerra: a não expansão da Otan em direção às fronteiras russas. Esse foi o principal motivo da guerra, estava lá naquela cartinha enviada pelo Lavrov para o Blinken em novembro de 2021 e que nunca foi respondida pelo governo democrata dos Estados Unidos. 

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    Há muita incredulidade sobre a possibilidade dessa reunião entre o Zelensky e o Putin realmente acontecer e muito mais incredulidade sobre a chegada a um acordo.

    Eu sou menos incrédula, penso que há uma perspectiva diferente de seis meses atrás, da possibilidade de se sentar numa mesa de negociação, desde que também não se neguem os fatos de que, militarmente, a Rússia se mostrou muito mais poderosa, conquistou estes territórios.

    Existe um histórico de não cumprimento de acordos por parte dos europeus, Minsk 1, Minsk 2, que foram deliberadamente arquivados, enquanto a Ucrânia foi armada militarmente justamente para atacar aquelas regiões independentistas, de um povo russo que foi assassinado.

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    Não vejo como tão difícil chegar realmente a uma mesa de diálogo para a busca de uma solução para esta guerra terrível que já se arrasta há mais de 3 anos, desde fevereiro de 2022.

    A foto da reunião desta semana na Casa Branca é uma foto histórica dessa fratura da Aliança Atlântica e da incapacidade destas senhoras e destes senhores que têm tanto poder para colocar fim a esta guerra e para tratar com o mínimo de amparo nas relações bilaterais e multilaterais com a Rússia para solucionar essas questões que são uma ameaça à segurança da Rússia, mas também à segurança da própria Europa e da Ucrânia.

    Mas isso deve ser feito sem que a Ucrânia tenha que integrar a Otan, que é uma exigência muito justa da Rússia, desde os anos 1990, que não foi cumprida justamente pelos Estados Unidos e seus aliados europeus.

    Assista à íntegra do Conexão Global com Ana Prestes na TV Grabois:

    Ana Prestes é pesquisadora do Observatório Internacional, Grupo de Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, e Secretária de Relações Internacionais do PCdoB. Todas as sextas-feiras, comanda o programa Conexão Sul Global, exibido pela TV Grabois.

    *Análise publicada originalmente no programa Conexão Sul Global (TV Grabois), em 20/08/2025. O texto é uma adaptação feita pela Redação com suporte de IA, a partir do conteúdo do vídeo e com atualização sobre o ataque promovido pelos EUA. 

    **Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.