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    Sociedade

    Por que visão dos brasileiros sobre a China melhorou? Jabbour analisa Quaest

    Entre 2023 e 2025, a aprovação da China subiu de 34% para 49%, enquanto EUA e Israel perderam apoio. Entenda o que essas mudanças revelam sobre a opinião pública

    POR: Leandro Melito e Renata Martins

    6 min de leitura

    Grupo acompanha, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, a visita do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil em 17/07/2014. Foto: Rafa B. / Flickr Palácio do Planalto
    Grupo acompanha, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, a visita do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil em 17/07/2014. Foto: Rafa B. / Flickr Palácio do Planalto

    Em três anos, a percepção favorável da China entre os brasileiros cresceu de forma expressiva, ao passo que a dos Estados Unidos e de Israel caiu acentuadamente. Os dados são da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na terça-feira (26). A comparação leva em conta levantamentos realizados em outubro de 2023, fevereiro de 2024 e agosto de 2025.

    Pesquisa Genial/Quaest mostra aumento da aprovação da China (49%) e queda na avaliação positiva dos Estados Unidos (44%) e de Israel (35%) entre outubro de 2023 e agosto de 2025. Crédito: Genial/Quaest.

    A imagem da China junto aos brasileiros passou de 34% para 49% de aprovação. O salto maior ocorreu de 2024 para 2025, quando a opinião favorável saltou 11 pontos percentuais. Por outro lado, a opinião desfavorável em relação à potência asiática caiu de 44% para 37%.

    Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e presidente do Instituto Pereira Passos (IPP) considera que esses dados são “impressionantes” diante da campanha negativa feita em relação ao governo socialista chinês por parte da imprensa brasileira:

    “A imagem que se tenta passar da China é de uma ditadura, de um país perigoso, de um país que pratica trabalho escravo. Nós passamos por uma lavagem cerebral diária, uma guerra semiótica contra a China muito grande no Brasil, então é impressionante essa pesquisa sobre a China.”

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    Autor do livro China: o socialismo do século XXI (Boitempo, 2021), best-seller com mais de 40 mil cópias vendidas, Jabbour destaca que o resultado da pesquisa demonstra que, apesar dessa campanha negativa, a realidade dos fatos sobre a China tem chegado à população brasileira. Jabbour destaca:

    “A China é um país que não faz mal a ninguém, nunca invadiu nenhum país, não sanciona nenhum país, o que ela busca é fazer comércio, e cada país que tem a sua postura em relação a ela.”

    Por ser o principal parceiro comercial do Brasil, Jabbour defende que as relações com a China devem atingir outro patamar, em uma relação que pode beneficiar ainda mais a economia brasileira.

    “Eu sou favorável ao Brasil ter uma postura mais ativa e até agressiva em relação à China, no bom sentido. O Brasil tem que observar muito mais seus interesses de longo prazo, que passam pela reindustrialização, do que buscar lucros a curto prazo com venda de commodities.”

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    Nesse sentido, Jabbour destaca que o Brasil caminha para transformar a relação para além da amizade entre os países e marca o posicionamento do Brasil na nova configuração geopolítica de um mundo multipolar:

    “Nós temos nossos interesses em relação a eles, mas efetivamente somos um país do Sul Global, ou seja, a percepção do povo brasileiro em relação à China também tem muita relação com a nossa percepção de pertencimento ao Sul Global.”

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    EUA e Israel despencam na pesquisa

    Se a percepção da população brasileira em relação à China apresentou uma melhora significativa, é também expressiva a queda da percepção positiva em relação à duas potências ocidentais com quem o Brasil tem suas relações estremecidas: os Estados Unidos e Israel.

    A opinião favorável da população brasileira em relação aos EUA apresentou uma queda de 56% em outubro de 2023 para 44% em agosto de 2025. Já a opinião desfavorável em relação ao país governado por Donald Trump subiu de 25% para 48% no mesmo período.

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    Para Elias Jabbour.

    “A queda significativa tem uma relação direta com essa questão do tarifaço. É evidente que tem, mas não é somente isso. Essa ofensiva americana contra o mundo que vem desde Trump, em 2017, e agora de forma mais clara está trazendo seus primeiros sinais perante a opinião pública.” 

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    A opinião favorável da população brasileira em relação a Israel apresentou uma queda ainda maior: despencou de 52% em outubro de 2023 para 35% em agosto de 2025. No mesmo período, a opinião desfavorável  subiu de 27% para 50%. O recorte temporal da pesquisa contempla o período do massacre do governo de Benjamin Netanyahu contra a população palestina na Faixa de Gaza, iniciado em 7 de outubro de 2023.

    Assista ao comentário de Elias Jabbour sobre a pesquisa Quaest:

    A visão desfavorável sobre os EUA e Israel cresceu inclusive em quem votou em Bolsonaro no 2º turno das eleições de 2022.

    Veja gráficos sobre a opinião dos brasileiros segundo voto em 2022:

    Russia e Argentina

    A percepção dos brasileiros em relação à Argentina manteve-se praticamente estável no período. A aprovação oscilou de 36% em outubro de 2023 para 42% em agosto de 2025, enquanto a visão negativa passou de 38% para 40%. Já o número de pessoas que não souberam ou não responderam caiu de 26% para 18%, sinalizando maior definição de opinião sobre o país vizinho.

    No caso da Rússia, a percepção da população brasileira apresentou oscilações ao longo do período. A aprovação caiu de 20% em outubro de 2023 para 16% em fevereiro de 2024, segundo ano da guerra na Ucrânia, mas voltou a crescer no último ano, chegando a 25% em agosto de 2025 — uma alta de nove pontos percentuais. 

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    Ainda assim, a avaliação negativa segue majoritária, variando de 58% em 2023 para 59% em 2025.

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    Sobre a pesquisa

    A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 13 e 17 de agosto, por meio de entrevistas presenciais em todas as regiões do país. Ao todo, foram ouvidas 12.150 pessoas, com margem de erro de dois pontos percentuais. Para acessar a pesquisa completa, clique aqui.