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    China celebra 80 anos do fim da Segunda Guerra em vitória sobre o Japão

    Mesmo depois do fim europeu em maio de 1945, a guerra prosseguiu na China até a rendição japonesa em setembro, com enormes sacrifícios humanos

    POR: Durval de Noronha Goyos Junior

    4 min de leitura

    Desfile da Vitória da Segunda Guerra Mundial em Chungking, em 3 de setembro de 1945. Crédito: Ministério da Propaganda, República da China
    Desfile da Vitória da Segunda Guerra Mundial em Chungking, em 3 de setembro de 1945. Crédito: Ministério da Propaganda, República da China

    No dia 3 de setembro de 2025, a República Popular da China celebra a efeméride dos 80 anos da rendição das forças invasoras japonesas. Recorde-se que a Segunda Grande Guerra não começou com a invasão da Polônia pelas forças armadas da Alemanha Nazista, no dia 1 de setembro de 1939. Na realidade, o conflito teve início aproximadamente dois anos antes. No dia 7 de julho de 1937, o chamado incidente da Ponte Marco Polo desencadeou uma guerra aberta entre a China e o Império do Japão. É certo que, desde o início do século XX, como resultado das chamadas Guerras do Ópio, as forças armadas japonesas já ocupavam ilegalmente partes do território chinês.

    Durante o conflito, com o avanço das forças imperialistas japonesas, o governo chinês foi forçado a um exílio interno, juntamente com milhões de refugiados civis. As grandes cidades chinesas, inclusive a então capital, Nanjing, foram tomadas pelas cruéis forças de ocupação nipônicas e sua infraestrutura civil foi destruída. Atrocidades e crimes de guerra contra a população chinesa foram cometidos. Em Nanjing, há hoje um museu com as memórias do período. Eu o visitei muitos anos atrás, por ocasião de uma de minhas dezenas de conferências no país.

    Pessoas visitam o Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos invasores japoneses, em Nanjing, província de Jiangsu, leste da China, em 2 de julho de 2025. Foto: Liu Zhenrui/Xinhua

    Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos invasores japoneses, em Nanjing, província de Jiangsu, leste da China, em 02/07/2025. Foto: Liu Zhenrui/Xinhua

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    Nos primeiros 4 dos 8 anos da campanha militar, até o ataque japonês a Pearl Harbor, no final de 1941, a China defrontou-se isoladamente contra uma das maiores potências mundiais. O atormentado povo chinês resistiu heroicamente à invasão, sob a liderança do Partido Comunista Chinês, e de seu guia, Mao Zedong.

    A luta foi retratada de forma brilhante na obra Sorgo Vermelho, do escritor chinês, Mo Yan, recipiente do Prêmio Nobel de Literatura de 2012, também um mestre do realismo mágico. O livro, de natureza épica, relata a história de gerações de uma família durante a resistência aos invasores, e a sua árdua luta pela sobrevivência, no quadro dos horrores da ocupação japonesa, com os decorrentes dramas humanos e sociais.

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    Foram 10 longos anos de lutas contra o fascismo no Oriente. O sacrifício nacional da China representou 40% da totalidade das vítimas mortais e feridos durante o conflito mundial. Na ocasião, a China teve baixas de 35 milhões de civis e militares, além de perdas econômicas do equivalente a 500 bilhões de dólares. À guisa de comparação, a União Soviética perdeu 20 milhões de pessoas, os Estados Unidos e o Reino Unido 400 mil cada um. O território chinês resultou totalmente devastado e a sua recuperação tomou cerca de meio século.

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    Cerca de 70% das baixas japonesas no conflito ocorreram nas batalhas contra as forças chinesas. Os japoneses responsáveis pelos crimes de guerra e contra a humanidade naquela campanha foram levados aos tribunais ad-hoc de Tóquio e de Nanjing, então criados. Dentre tais crimes, contam-se os ataques às populações civis, inclusive com armas químicas e biológicas; a indução à fome; o deslocamento forçado; a tortura; o trabalho coato; escravidão sexual; experimentação em seres humanos; a segregação e homicídios qualificados.

    O povo chinês não se esquece do passado e hoje desponta como um dos principais defensores dos direitos humanos.

    Durval de Noronha Goyos Junior é advogado, jurista e professor de pós-graduação. Árbitro do GATT, da OMC, do CIETAC e do SHIAC. Foi negociador brasileiro dos tratados da OMC. Advogou no sistema multilateral por diversos países do BRICS. Autor de 10 livros e centenas de artigos e textos de conferências sobre a OMC e o Direito internacional. É conselheiro da Fundação Maurício Grabois.

    Jurista e escritor polígrafo. É autor de 11 livros sobre a China. Conselheiro do Centro de Estudos Avançados Brasil China (CEBRAC).

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.