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    Comunicação

    Morre Mino Carta, jornalista combativo e fundador da Carta Capital

    Fundação Maurício Grabois publica pesar e resgata entrevista da revista Princípios (2005) do jornalista e fundador das revistas Veja, IstoÉ e CartaCapital

    POR: Leandro Melito

    4 min de leitura

    Mino Carta (1933 - 2025) Foto: CartaCapital / Divulgação
    Mino Carta (1933 - 2025) Foto: CartaCapital / Divulgação

    Faleceu, nesta terça-feira (2), aos 91 anos, o jornalista Mino Carta, fundador e diretor da redação de Carta Capital. Ele estava internado há duas semanas na UTI do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

    A Fundação Maurício Grabois divulgou nota de pesar:

    “A Fundação Maurício Grabois transmite suas mais sentidas condolências a Manuela Carta, editora de Carta Capital, e toda a sua família, pelo falecimento de Mino Carta. Mino foi um exemplo de homem público brasileiro, um homem instigante que deu uma grande contribuição à luta contra a ditadura e à democratização brasileira. Vivo estivesse estaria bradando pela condenação dos facínoras que intentavam um golpe de Estado, cujo julgamento começa nesta mesma data. Seu exemplo permanecerá entre nós e vai frutificar, hoje e sempre, na obra editorial que legou.”

    Em 2005, Mino Carta concedeu uma longa entrevista à revista Princípios, realizada pelos jornalistas José Carlos Ruy e Priscila Lobregatte. Publicada na edição 81 (outubro/novembro de 2005), nas páginas 22 a 26, a entrevista está disponível no Portal Grabois com o título O Brasil precisa de um partido de esquerda forte.

    Jornalista combativo

    Nascido em Gênova, Mino Carta imigrou para o Brasil com a família depois que seu pai Giannino fugiu da prisão na Itália por fazer oposição ao regime de Benito Mussolini em 1944. No Brasil, Mino Carta seguiu a tradição da família no jornalismo, iniciada por seu avô materno Luigi Becherucci, diretor do jornal genovês Caffaro.

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    Em 1966, integrou a equipe fundadora do Jornal da Tarde; em 1968, lançou a revista Veja; em 1976, a revista IstoÉ; e em 1994, a CartaCapital, projeto ao qual se dedicou até o último momento de sua vida.

    “Como criador de tantas publicações, sempre será sinônimo de jornalismo honesto. Centro das atenções de tantos embates, com suas opiniões fortes e polêmicas, briguento mais para compor uma persona, mas muito doce na intimidade, sempre a bordo de uma taça de vinho”, escreveu Manuela Carta sobre o pai.

    Hoje conhecido como um veículo alinhado à direita, a revista Veja teve papel central na oposição à ditadura militar (1964-1985) sob a direção de Mino Carta. O espírito progressista sempre o acompanhou em suas empreitadas jornalísticas.

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    “Em meio ao autoritarismo do regime militar, as publicações que dirigia denunciavam o abuso dos poderosos e traziam a voz daqueles que clamavam pela liberdade”, afirmou o presidente Lula, que anunciou nesta terça-feira (2) três dias de luto oficial pela morte do jornalista.

    “Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras. Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou. Em sua memória, estou declarando três dias de luto oficial em todo o país”, anunciou Lula.

    Quando esteve à frente da revista IstoÉ foi o primeiro jornalista a publicar, em 1978, uma longa entrevista com Luiz Inácio Lula da Silva, que então liderava as greves no ABC paulista como diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

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    “Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na IstoÉ, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil. Vivemos juntos a redemocratização, as Diretas Já, as eleições presidenciais e as grandes transformações sociais das últimas décadas”, escreveu Lula sobre o jornalista.


    A vida de Mino Carta é abordada pelo biógrafo Lira Neto, no livro Sem Fé nem Medo, recém-publicado pelo Centro de Memória do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE).

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