Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Direitos Humanos

    Vítimas da ditadura têm novas certidões de óbito entregues às famílias em São Paulo

    Helenira, Arroyo, Grabois, Rubens Paiva, Marighella e Herzog: documentos de 102 vítimas foram corrigidos para reconhecer a responsabilidade do Estado pelas mortes durante o regime militar

    POR: Leandro Melito

    9 min de leitura

    Cerimônia de entrega de certificados de óbito retificados na Faculdade de Direito da USP. Foto: Duda Rodrigues / MDHC
    Cerimônia de entrega de certificados de óbito retificados na Faculdade de Direito da USP. Foto: Duda Rodrigues / MDHC

    O certificado de óbito de mais 102 vítimas da ditadura militar (1964-1985) foi retificado pelo governo brasileiro e 63 foram entregues nesta quarta-feira (8), na Faculdade de Direito da USP no Largo São Francisco, em São Paulo (SP).

    O ex-deputado Rubens Paiva (PSB), o jornalista Vladimir Herzog, Carlos Marighella (ALN) e os guerrilheiros do Araguaia Ângelo Arroyo, André Grabois e Helenira Resende (PCdoB) estão na lista de cidadãos que tiveram suas certidões de óbito retificadas. Os novos documentos reconhecem a “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política pelo regime instaurado em 1964.”

    Leia também:

    Memória da ditadura e da Anistia desmonta falácia dos novos golpistas

    Verdade e justiça para Carlos Danielli e demais mortos pela ditadura militar

    Eugênia Gonzaga, presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), destacou que essas palavras corrigem distorções de várias naturezas, utilizadas pela repressão para ocultar os crimes cometidos por agentes do Estado naquele período, como mortes por suicídio, ou acidentes forjados. Para a presidente da CEMDP, as atuais certidões de óbito entregues no ato representam uma tentativa de se fazer o caminho contrário ao do desaparecimento:

    “Para muito além de representarem o reconhecimento formal da verdade histórica e da responsabilidade do país pela violência infligida por terrorismo de Estado, eles podem representar um passo fundamental em um longo caminho de cura emocional, de reencontro com a memória, simbolizando, quem sabe, uma forma de reparação para as vidas, muitas tão jovens, interrompidas pela perseguição política durante a ditadura militar apenas porque essas pessoas lutavam por um país mais justo.”

    A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, afirmou que a retificação das certidões de óbito representa “a garantia de um direito que vem tardio, mas que só veio com luta dos sobreviventes e dos familiares de vítimas da ditadura no país” e classificou esse dia como “central para a reconstrução da memória de todos e todas aquelas que lutaram pelo que hoje temos de democracia, que tantas vezes foi ameaçada no nosso país, mas sobrevive”.

    “Beiramos o autoritarismo novamente em 2022, ao fim do último governo, mas mostramos como a luta não foi e não é vã. Nossa democracia forte e soberana resistiu e resistirá. Hoje aqui estamos reforçando que temos memória e honramos aqueles que vieram antes de nós”, ressaltou a ministra.

    Leia mais: Do golpe de 1964 aos desafios de 2025 – a memória que não se apaga

    A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bianca Borges, relembrou que a organização estudantil foi perseguida, invadida e criminalizada.

    “No dia 1º de abril de 1964, a sede dos estudantes na Praia do Flamengo no Rio de Janeiro foi incendiada pela ditadura militar, e nosso presidente, Honestino Guimarães foi assassinado em 1973 depois de anos de perseguição, mas a nossa entidade nunca deixou de existir.”

    Bianca Borges (dir.), presidente da UNE, discursa na Faculdade de Direito da USP. Foto: Carol Beraldo

    Borges destacou que cada nome lido durante a cerimônia de entrega das certidões de óbito representa “um grito que atravessou décadas de silêncio” e a entrega desses documentos aos familiares das vítimas reafirma que “a história não pode ser escrita pelos nossos algozes”.

    “Nós não nos calaremos, não consentiremos. Pronunciar os nomes, retificar os registros, é arrancar do silêncio a verdade que tentaram esconder. Mas esse ato é um chamado também às novas gerações, porque o autoritarismo nunca se resigna. Ele se reinventa. Sessenta anos depois, ainda enfrentamos tentativas de apagar a história e subverter a verdade”, disse em referência à extrema direita bolsonarista.

    “Os mesmos que atentaram contra a democracia em 8 de janeiro agora levantam a bandeira da anistia, mas não há reconciliação possível sem justiça. Por isso nós dizemos: sem anistia pros golpistas de ontem e de hoje, porque cada vez que o Brasil perdoa quem atenta contra a democracia ele condena o futuro a reviver as mesmas feridas”, destacou a presidente da UNE.

    Vera Paiva, irmã do ex-deputado Rubens Paiva, destacou que memória, verdade, justiça e reparação articulam o trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos da qual sua mãe, Eunice, fez parte e onde, atualmente, representa a sociedade civil, desde que indicada pela presidenta Dilma. Vera reforçou:

    “Seguimos como familiares na comissão na busca de corpos que nunca foram entregues às famílias, com base em testemunhos, sustentados na memória de quem viu, em pistas e documentos que permitam chegar a remanescentes para que se recomponha a verdade.”

    Militantes comunistas entre as vítimas reconhecidas

    Na lista de certificados entregues nesta quarta-feira, 11 nomes são ligados ao PCdoB: Antônio Guilherme Ribeiro Ribas,  André Grabois, Ângelo Arroyo, Carlos Nicolau Danielli, Helenira Resende de Souza Nazareth, Lúcio Petit da Silva,  Luisa Augusta Garlippe, Manoel José Nurchis,  Maria Lúcia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama e Solange Lourenço Gomes, esta última ligada ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), que se tornou o Partido Pátria Livre (PPL), incorporado ao PCdoB em 2019.

    Na primeira lista de documentos entregues pela CEMDP na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no dia 28 de agosto, nove nomes eram ligados ao partido: Adriano Fonseca Filho, Ciro Flávio Salazar de Oliveira, Idalísio Soares Aranha Filho,  João Batista Franco Drummond, Oswaldo Orlando da Costa (Oswaldão), Paulo Costa Ribeiro Bastos,  Paulo Roberto Pereira Marques, Pedro Alexandrino Oliveira Filho,  Walkíria Afonso Costa.

    Congresso do PCdoB presta tributo às vítimas da ditadura

    O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) homenageará no dia 17 de outubro, durante seu 16º Congresso, 101 militantes mortos e desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985), período em que o partido passou para a clandestinidade e entrou na luta armada contra o regime autoritário.

    O levantamento inédito das vítimas do regime autoritário foi realizado pela Comissão Nacional de Memória e Justiça do partido, criada em 2025, em parceria com o Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois. Além dos mortos e desaparecidos do PCdoB, esse levantamento também considerou as vítimas ligadas ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que originou o PPL, partido que se incorporou ao PCdoB em 2019. Também foram incorporadas as mortes ocasionadas pelo latifúndio, mesmo após o fim do regime de exceção.

    Confira as listas completas da CEMDP

    Certidões retificadas em 08/10/2025

    Alex de Paula Xavier Pereira
    Alexander José Ibsen Voerões
    Alexandre Vannucchi Leme
    Ana Maria Nacinovic
    Ana Rosa Kucinski Silva
    André Grabois
    Ângelo Arroyo
    Antônio Benetazzo
    Antônio dos Três Reis de Oliveira
    Antônio Guilherme Ribeiro Ribas
    Antônio Raymundo de Lucena
    Antônio Sérgio de Mattos
    Arno Preis
    Aurora Maria Nascimento Furtado
    Carlos Marighella
    Carlos Nicolau Danielli
    Catarina Helena Abi-Eçab
    Dênis Casemiro – VPR
    Devanir José de Carvalho
    Dorival Ferreira
    Edgar de Aquino Duarte
    Eduardo Collen Leite
    Emmanuel Bezerra dos Santos
    Feliciano Eugenio Neto
    Fernando Borges de Paula Ferreira
    Flavio Carvalho Molina
    Francisco Emanuel Penteado
    Francisco José de Oliveira
    Francisco Seiko Okama
    Frederico Eduardo Mayr
    Gastone Lúcia de Carvalho Beltrão
    Gelson Reicher
    Grenaldo de Jesus Silva
    Helenira Resende de Souza Nazareth
    Heleny Ferreira Telles Guariba
    Hiram de Lima Pereira
    Hirohaki Torigoe
    Iêda Santos Delgado
    Issami Nakamura Okano
    Iuri Xavier Pereira
    Izis Dias de Oliveira
    Jaime Petit da Silva
    João Antônio Santos Abi-Eçab
    João Carlos Cavalcanti Reis
    João Domingos da Silva
    Joaquim Alencar de Seixas
    Joaquim Câmara Ferreira
    José Ferreira de Almeida
    José Guimarães
    José Idésio Brianezi
    José Lavecchia
    José Maria Ferreira de Araújo
    José Maximino de Andrade Netto
    José Milton Barbosa
    José Montenegro de Lima
    José Roberto Arantes de Almeida
    José Roman
    José Wilson Lessa Sabbag
    Lauriberto José Reyes
    Lúcio Petit da Silva
    Luisa Augusta Garlippe
    Luiz Almeida Araújo
    Luiz Eduardo da Rocha Merlino
    Luiz Eurico Tejera Lisbôa
    Luiz Fogaça Balboni
    Luiz Hirata
    Luiz José da Cunha
    Manoel Fiel Filho
    Manoel José Mendes Nunes Abreu
    Manoel José Nurchis
    Manoel Lisbôa de Moura
    Márcio Beck Machado
    Marco Antônio Dias Baptista
    Marcos Antônio Bráz de Carvalho
    Marcos Nonato da Fonseca
    Maria Augusta Thomaz
    Maria Lúcia Petit da Silva
    Miguel Sabat Nuet
    Neide Alves dos Santos
    Nestor Vera
    Norberto Nehring
    Olavo Hanssen
    Onofre Pinto
    Paulo Guerra Tavares
    Paulo Stuart Wright
    Raimundo Eduardo da Silva
    Roberto Cietto
    Roberto Macarini
    Ronaldo Mouth Queiroz
    Rubens Beyrodt Paiva
    Rui Osvaldo Aguiar Pfützenreuter
    Ruy Carlos Vieira Berbert
    Santo Dias da Silva
    Solange Lourenço Gomes
    Sônia Maria de Moraes Angel Jones
    Suely Yumiko Kanayama
    Virgílio Gomes da Silva
    Vitor Carlos Ramos
    Vladimir Herzog
    Walter de Souza Ribeiro
    Yoshitane Fujimori
    Zoé Lucas de Brito Filho

    Certidões retificadas em 28/08/2025

    Abelardo Rausch de Alcântara
    Adriano Fonseca Filho
    Alberto Aleixo
    Aldo de Sá Brito Souza Neto
    Alvino Ferreira Felipe
    Antônio Carlos Bicalho Lana
    Antônio dos Três Reis de Oliveira
    Antônio Joaquim de Souza Machado
    Antônio José dos Reis
    Arnaldo Cardoso Rocha
    Augusto Soares da Cunha
    Áurea Eliza Pereira
    Benedito Gonçalves
    Carlos Alberto Soares de Freitas
    Carlos Antunes da Silva
    Carlos Schirmer
    Ciro Flávio Salazar de Oliveira
    David de Souza Meira
    Devanir José de Carvalho
    Eduardo Antônio da Fonseca
    Eduardo Collen Leite
    Feliciano Eugenio Neto
    Flávio Ferreira da Silva
    Geraldo Bernardo da Silva
    Geraldo da Rocha Gualberto
    Getulio de Oliveira Cabral
    Gildo Macedo Lacerda
    Guido Leão
    Helber José Gomes Goulart
    Hélcio Pereira Fortes
    Idalísio Soares Aranha Filho
    Itair José Veloso
    Ivan Mota Dias
    João Batista Franco Drumond
    João Bosco Penido Burnier
    João de Carvalho Barros
    João Lucas Alves
    Joel José de Carvalho
    José Carlos Novaes da Mata Machado
    José Isabel do Nascimento
    José Júlio de Araújo
    José Maximino de Andrade Netto
    José Toledo de Oliveira
    Juares Guimarães de Brito
    Lucimar Brandão Guimarães
    Milton Soares de Castro
    Nativo da Natividade de Oliveira
    Nelson José de Almeida
    Nestor Vera
    Orocilio Martins Gonçalves
    Oswaldo Orlando da Costa
    Otávio Soares Ferreira da Cunha
    Pascoal de Souza Lima
    Paulo Costa Ribeiro Bastos
    Paulo Roberto Pereira Marques
    Pedro Alexandrino Oliveira Filho
    Raimundo Eduardo da Silva
    Raimundo Gonçalves de Figueiredo
    Rodolfo de Carvalho Troiano
    Sebastião Tomé da Silva
    Zuleika Angel Jones
    Walkíria Afonso Costa
    Walter de Souza Ribeiro

    Notícias Relacionadas