Mais uma conquista para as relações China–América Latina
Na véspera do Dia Nacional da China, celebrado com grande alegria em 1º de outubro, a Comunidade Andina decidiu conceder à China o status de Estado observador da organização.
Os representantes dos países-membros do grupo destacaram que a China tem desempenhado um papel importante na comunidade internacional e na governança global; por isso, sua admissão como Estado observador possui um significado histórico relevante. Eles expressaram o desejo de aproveitar essa oportunidade para aprofundar ainda mais a cooperação bilateral, permitindo que os chineses contribuam de forma mais ampla para o processo de integração econômica e para o desenvolvimento sustentável da região andina.
O representante chinês, Zhang Liping, encarregado de Negócios interino da Embaixada da China na Colômbia, elogiou a decisão da Comunidade Andina. Ele afirmou que o país está pronto para trabalhar em conjunto com os Estados da América Latina, incluindo as nações andinas. O foco está voltado para impulsionar os “Cinco Grandes Projetos” destinados à construção de uma comunidade de futuro compartilhado entre a China e a América Latina: o Projeto da Unidade, o Projeto do Desenvolvimento, o Projeto da Civilização, o Projeto da Paz e o Projeto dos Laços entre os Povos. Essa cooperação visa estabelecer um novo paradigma de relações baseado no respeito mútuo e em resultados de benefício recíproco, trazendo, em última instância, maiores vantagens para os povos de ambas as partes.
Fundada em maio de 1969, a Comunidade Andina é uma importante organização sub-regional de integração econômica na América Latina. Com sede em Lima, capital do Peru, conta atualmente com quatro Estados-membros plenos: Peru, Equador, Colômbia e Bolívia.
O significado da admissão da China como Estado observador da Comunidade Andina pode ser entendido de várias maneiras.
Em primeiro lugar, impulsionará a cooperação Sul–Sul. Os Estados-membros da Comunidade Andina fazem parte do Sul Global, ou seja, o grupo de países em desenvolvimento, do qual a China também é integrante natural. O fortalecimento dessa cooperação entre a China e a Comunidade Andina, portanto, certamente promoverá novos avanços na cooperação Sul–Sul. Esse aspecto é particularmente importante em um contexto de crescente hegemonismo e unilateralismo, que tornam ainda mais urgente a necessidade de uma colaboração solidária entre os países do Sul Global.
Leia mais:
BRICS+ e as rotas que irritam Trump
Programa China-América Latina projeta autonomia digital e independência das Big Techs; conheça
O Brasil, a América do Sul e a proposta chinesa da Inciativa Cinturão e Rota
Em segundo lugar, permitirá que a China e os países da Comunidade Andina exerçam maior influência nos assuntos internacionais. Os países andinos mantêm posições convergentes em fóruns multilaterais, como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio, e já contribuem para a defesa da paz mundial e para o aperfeiçoamento da governança global. Com a China como Estado observador, o diálogo e a cooperação entre as partes serão fortalecidos, permitindo aproveitar de forma mais eficaz as vantagens mútuas e defender em conjunto os interesses coletivos do Sul Global.
Em terceiro lugar, a medida elevará a relação entre a China e os países andinos a um novo patamar. O impacto positivo se manifestará em diferentes áreas.
No campo econômico e comercial, todos os países da Comunidade Andina já assinaram documentos de cooperação no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota com a China, por meio de diversos mecanismos. Com o novo status de observador, as partes poderão aprimorar a coordenação política e garantir que a iniciativa traga benefícios ainda maiores à região. A China já mantém acordos de livre comércio com Peru e Equador. No futuro, poderá trabalhar de forma mais ativa com Colômbia e Bolívia para avaliar a viabilidade de negociações de acordos bilaterais semelhantes.Brasil,
Além disso, a região andina é rica em recursos naturais. Com a China como parceira mais próxima, será possível desenvolver esses recursos de maneira mais eficiente e produtiva, seguindo o princípio da cooperação de benefício mútuo.
No campo cultural e social, embora o intercâmbio tenha avançado consideravelmente, ainda não atingiu todo o potencial previsto no marco da Iniciativa Cinturão e Rota. Com o novo status, o fortalecimento da cooperação política e econômica impulsionará também o progresso nas trocas culturais e entre povos, criando uma base mais sólida para a colaboração futura.
Em termos diplomáticos, a China mantém relações com a América Latina tanto em nível bilateral quanto coletivo. O Fórum China–CELAC representa o ponto mais alto dessa cooperação multilateral. A iniciativa foi criada conjuntamente pela China e pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Como organização sub-regional de destaque, a Comunidade Andina possui peso considerável dentro da CELAC.
É importante observar que os Estados Unidos, que costumam encarar com cautela o avanço das relações sino-latino-americanas, dificilmente acolherão com simpatia o fortalecimento dos laços com a Comunidade Andina. Consequentemente, é provável que tentem lançar mão de táticas de provocação e divisão. Diante disso, a China e os países andinos devem manter-se vigilantes e firmes em seu compromisso de cooperação.
Acesse o comunicado oficial da CAN em espanhol sobre a entrada da China aqui.
Jiang Shixue é professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e pesquisador sênior do Instituto Charhar.