A Fundação Maurício Grabois comemora o centenário do jornal comunista A Classe Operária com uma edição comemorativa. O exemplar foi disponibilizado em primeira mão aos participantes do 16º Congresso do PCdoB, realizado entre 16 e 19 de outubro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães em Brasília (DF).
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O órgão do Partido Comunista do Brasil (PCB) foi criado em 1º de maio de 1925, no Rio de Janeiro, como uma ferramenta de informação, formação política e mobilização do partido, e ganhou relevância nacional entre os anos de 1946 e 1952. Entre seus editores figuraram quadros do comunismo como Astrojildo Pereira, Octávio Brandão, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli, Rogério Lustosa, João Amazonas e José Carlos Ruy.
Leia a edição comemorativa de 100 anos de A Classe Operária:
Em suas memórias Combates e batalhas (Alfa Omega, 1978), o primeiro editor do jornal, Octávio Brandão, relatou a saga de imprimir a edição inaugural:
“À tarde de 30 de abril de 1925, o 1º número do jornal estava composto numa tipografia da rua Frei Caneca, perto da rua Riachuelo. Mas a máquina de impressão se quebrou. Assim, à meia-noite, saí pelo mundo, à procura de outra tipografia. Encontrei-a à rua Luiz de Camões. Não dormi. Trabalhei 26 horas sem interrupção. Mas, na manhã de 1º de maio de 1925, A Classe Operária estava impressa em pequeno formato, com 4 páginas. À tarde, foi distribuída amplamente no comício da Praça Mauá e acolhida carinhosamente pelos trabalhadores.”

Trabalhadores com o jornal A Classe Operária, na década de 1920 o segundo em pé da direita para esquerda é Octávio Brandão [Cortesia: Iconographia]
Desde seu surgimento, sob a repressão do governo Arthur Bernardes, o jornal enfrentou governos autoritários no país, resistiu à perseguição do Estado Novo e ao mais longo período de arbítrio no país, a ditadura militar (1964 – 1985) quando, mesmo na clandestinidade, publicou 159 edições.
“Sua mensagem chegava por vias difíceis, a todos os setores. Chegava também àqueles intelectuais que amavam o povo e a liberdade mas cujos corações estavam apertados pelo desânimo e pelo desespero. Chegava como um balsamo, como a luz de um farol para o náufrago no último momento. Mensagem do proletariado, voz de esperança, rasgar de caminhos, perspectivas, saídas para a aurora naquela noite de assassinos, de bandoleiros, de lama. Chegava silenciosa e conspirativamente, era encontrada num envelope de cor neutra, tratava-se de um trapo de papel, mal impresso ou mal mimeografado”, escreveu o escritor baiano Jorge Amado, deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil, em 09 de março de 1946, na primeira edição da Terceira Fase do jornal que, assim como o partido, havia saído da clandestinidade.”

O jornal A Classe Operária publica os resultados do 8º Congresso do PCdoB [CDM]
Sua última edição impressa, publicada em 2019 (ano 94, nº 65), teve como manchete: “Em defesa da educação: UNE faz novamente história!”, destacando as mobilizações estudantis que tomaram as ruas do Brasil em resposta aos cortes orçamentários e ao desmonte das políticas públicas de ensino promovidos pelo governo Bolsonaro.
Leia as duas últimas edições:
A Classe Operária – Ano 94 N 64 Abril 2019
A Classe Operária – Ano 94 N 65 Julho 2019

Capa do jornal A Classe Operária, Ano 94, sétima fase, nº 65, julho de 2019. Crédito: Reprodução
Edições digitalizadas
Apesar de não estar em circulação, A Classe Operária continua figurando no estatuto do Partido como órgão central do PCdoB e seu acervo está preservado no Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois.
Além das edições físicas preservadas na sede da Grabois, em São Paulo (SP), 643 edições do jornal foram digitalizadas e estão disponíveis para consulta no Portal Grabois. A mais antiga edição preservada em formato digital é a nº 5, de 30 de maio de 1925.
Acesse aqui o acervo digital digital do CDM de A Classe Operária

Edição nº 5 de A Classe Operária, publicada em 30 de maio de 1925. Exemplar histórico danificado, preservado digitalmente pelo Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois. Imagem mostra parte da primeira página, com destaque para denúncias sobre o regime feudal nos engenhos do Nordeste, o apelo das operárias charuteiras da Bahia e os direitos dos ferroviários. Crédito: Reprodução
Criado em 2009, sob liderança do historiador Augusto Buonicore, o CDM tem como missão central coletar, organizar, conservar e disponibilizar a documentação histórica da instituição, contribuindo para o fortalecimento da identidade e dos valores cultivados ao longo da luta de seus dirigentes, militantes e quadros políticos.
Seu trabalho combina o rigor das ciências da informação com a análise histórica, antropológica e sociológica, assegurando que os documentos preservados tenham relevância e estejam acessíveis para consultas, estudos e divulgação.