Hotel

 

Na mesma cama em que outros

se amaram com ternura ou

rispidez ou tédio

acordamos de madrugada

 

a luz azul da televisão 

cortada volta e meia

por erráticos faróis

 

os mariscos ferventados

em suas conchas, que abríamos uma a uma

e sem pressa

 

de dia o calor e o cheiro doce

de hidratante, você só lê

os livros que eu trago

 

seu corpo seu corpo

seu corpo

desenhado pelas persianas

 

não vão caber na mala 

as coisas que compramos

com a estupidez de turistas

 

as janelas sob as quais

travesti passeiam de um lado a outro da calçada

conversando mais alto que o mar

 

você nua no escuro bebendo água

a luz da geladeira 

como um holofote

 

o que superará

o prazer destas noites alugadas

a preços de baixa temporada?

 

 

Ana Maria Marques – livro: A Vida Submarina