Ao revisar a trajetória de artistas e intelectuais que compõem certa intelligentsia brasileira de esquerda ao longo do século XX, eu decidi analisar a “utopia de brasilidade”. O resultado desta reflexão está no meu livro Brasilidade Revolucionária: um século de cultura e política, editado pela Unesp.

Para mim, nos anos 60, mais que uma crença no socialismo, a condição de ser brasileiro poderia contribuir decisivamente na construção de uma nova civilização que aproveitasse todas as suas potencialidades, provenientes de sua formação multicultural-racial-étnica notabilizada pela valorização da igualdade de direitos, da expressão popular e outros ideais de ordem nacionalista e socialista.

Em Brasilidade Revolucionária , identifico a canção Metamorfose Ambulante de Raul Seixas com a “individualidade libertária” contida na obra do inglês Marshall Berman. Elementos como a valorização do individual, a junção dos contrários e a mudança permanente são características contraculturais perceptíveis em ambas as obras.

O livro, que pode ser encontrado na Ponto do Livro em São Paulo, faz um balanço de um século de cultura e política de esquerda no Brasil. Os primeiros capítulos trazem à luz a trajetória do jornalista Everardo Dias, que foi líder operário e intelectual à época da República Velha, e de outros protagonistas do movimento esquerdista como Nelson Pereira dos Santos, Jorge Amado, fundadores do Partido Comunista, clubes da gravura, congressos de cinema e o Tropicalismo.

Marcelo Ridenti

Sou professor titular de sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Ensinei na Unesp, campus de Araraquara (1990-1998) e da UEL (1983-1990). Autor e organizador de vários livros como O fantasma da revolução brasileira (Editora Unesp,1993) e Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV (Record, 2000).

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Fonte: Blog da Mona Dorf