RÉQUIEM BONCONSELHENSE
Percorri outra vez tuas ruas
Como um sonâmbulo narcísico
Excessivamente ensimesmado,
Seguindo o rastro do
Egocentrismo interiorano
De tuas cinderelas agrestinas
E de tua gênese social
Que reproduz filhotes de supermachões
E incrusta piedades diarréicas
Nos neurônios dos teus jovens profetas
Impregnados de timidez
Megalômana.
Quem modificará o tutano do teu
obscurantismo?
Quem rezará a missa que salvará tua alma
Corrompida e entediante?
Quem diluirá a ganância e a vaidade de tua
Pequena-burguesia
Sub-provinciana?
Quem cuidará da vida dos teus machos
Adoecidos pelo etanol?
Desfilarei mais uma vez,
Para a delícia ótica
De tua curiosidade fofoqueira,
Meus tumores psicológicos, inclusive
Essa autocomiseração
Das mais ridículas.
Como poderei freqüentar tuas casas
Sem farejar tuas pústulas?
Eu, incuravelmente viciado
Nos teus bolos de milho.
Teus beijus de macaxeira,
Teus pobres monstrinhos que
Trocam sacos de cimento por votos
Nos novos coronéis.
Eu, senti as dores
Dos teus partos imundos
Quando ainda não me via
Como o mais doentio dos peters pans,
Quando ainda não sonhava com
Êxtases e samádis
Inatingíveis para mim,
Quando ainda não sonhava
Comida farta para todas as mesas.
Eu, eu, eu
Incuravelmente viciado
E referenciado
Em ti,
Minha Bom Conselho
Minha coronelíssima Bom Conselho,
Minha doce ilha medieval.
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Fonte:
Marginal Recife
Coletânea Poética I
Recife 2002
Prefeitura do Recife – Secretaria de Cultura Cidade do Recife
Organizadores: Cida Pedrosa, Miró e Valmir Jordão