Óculos

      Eu uso óculos desde os seis anos. Vinte anos, portanto. Confesso que hoje em dia (acho eu) não precisaria mais. Acredito enxergar bem sem as lentes. Mas o costume é algo importante na vida dos homens. Estava me lembrando do dia em que tive que ir para a escola com aquela armação grossa e redonda. Fiquei com muita vergonha. No meu tempo de colégio, ninguém (se não os míopes e afins) usava aquilo. Hoje em dia até virou moda. Mas naquela época era vergonha mesmo. Lembro-me que minha mãe teve que me convencer dizendo “a partir de agora você vai ter que se disfarçar. Não pode mais mostrar pra todo mundo seus super-poderes. Os óculos serão o seu disfarce”. Então aquela coisa pesada (deformadora de meu nariz) era uma missão. Entendi o recado. Salvar o mundo era mais importante que as gozações.

                                                         Poesia Urbana

      Hoje em dia ainda podemos ser bucólicos, desde que nossos campos sejam de cimento, nossas estradas que levam a lugar nenhum sejam as vias expressas, avenidas e eficientes arteriais e nossas árvores sejam as atuais árvores, podadas pela companhia de eletricidade e limitadas pelo progresso.

Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de arquitetura e comunista. Ele caminha diariamente pelas ruas da cidade observando e, certas vezes, falando sozinho. Acredita-se que ele seja louco. Ele responde que “não”. “Loucos”, diz ele, “são aqueles que olham este mundo e ficam de boca fechada”. Amigos, pedimos que vocês ignorem o Luiz.