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          Domênico tomou um porre e foi pra casa de Ambrósia, doido por uma festa. Chegando lá, deu com as ventas na porta: Ambrósia, além de mandar dizer que não estava, disse que não queria vê-lo mas nem pintado de ouro.       Domênico se encrespou: como é que não tava e não queria vê-lo? Ou […]

    POR: Elder Vieira

    5 min de leitura

          Domênico tomou um porre e foi pra casa de Ambrósia, doido por uma festa. Chegando lá, deu com as ventas na porta: Ambrósia, além de mandar dizer que não estava, disse que não queria vê-lo mas nem pintado de ouro.

          Domênico se encrespou: como é que não tava e não queria vê-lo? Ou tava ou não tava! Mas Vivinha, irmã da moça, não estava ali pra conversê. Que fosse chispando, que Brosinha não iria recebê-lo mas nem morta.

          O homem ficou foi macho. Inflou o peito, disse uns três impropérios para o projeto de cunhada, cuspiu no chão e ameaçou invadir. Foi um alvoroço. Ambrósia ligou pra polícia e pro pai. Não demorou muito, baixaram as autoridades. O progenitor já chegou descendo o sarrafo. Embolou-se com Domênico na calçada e foi um deus nos acuda.

          Os policiais tiveram primeiro que apartar os dois. Depois de uns safanões e gritos, restou uns pipôcos para o ar. O silêncio estabeleceu-se de pronto. Depois de algumas argüições, Ambrósia foi chamada à baila:

          – A senhora pode me explicar o que se passa aqui? – perguntou o oficial.

          – Senhorita.

          – Senhora, senhorita, trate de se explicar, faz favor.

          – Não tem o que explicar.

          – Como é?

           – É.

          – A senhora chama a polícia, diz que tem alguém querendo invadir sua casa, e não tem o que explicar?

          – Ué, tem mesmo não. O senhor mesmo já explicou. Esse sujeito aí – e apontou para Domênico – queria por força entrar em minha casa e eu chamei a polícia.

          – Ela é minha noiva, seu guarda! – gritou Domênico, já são.

          – Era sua noiva! Era! – retrucou Ambrósia.

          – Silêncio! – ordenou o policial, para logo se aproximar de Domênico – Primeiro, sujeito, eu não sou “seu guarda”. Nem seu, nem de ninguém. Sou o tenente Braga. Segundo, que ainda não balancei sua jaula. Você só fala quando for chamado na conversa. Terceiro…

          Embatucou. O que vinha em terceiro? Porque tenente Braga sempre tinha três razões para tudo. E quando não tinha, inventava.

          – Terceiro, todo mundo pra delegacia, que essa sua conversa tá é muito da esquisita.

          – Mas, seu guarda…

          – Tenente.

          – Tenente Braga, eu só queria ver minha… digo, Ambrósia e…

          – Eu avisei, minha filha, que isso não valia nada! Eu avisei!

          – Ah, pai, lá vem o senhor com esse disco riscado!

          – Olha como fala comigo, Ambrósia!

          – Calma, paínho, olha o coração…

          – Isso é uma desnaturada, Vivinha!

          – Desnaturada, eu? Fui eu que larguei as filhas pra viver com aquela uma?

          – Brosinha!

          – É isso mesmo, Vinha. Esse só sabe é criticar nós, mas não olha pra si.

          – Então me chamou por quê?

          – Chega! – era de novo o oficial – Todo mundo pra delegacia!

          – Tenente – chamou um soldado.

          – Que é!

          – Não cabe na viatura.

          – Chama o camburão.

          Pelo amor de deus, seu guarda, isso não é necessário!

          – Oxente! E senhor, é quem?

          Eu?

          – Sim.

          O narrador.

          – E faz o quê aqui?

          Estou só querendo ajudar.

          – E alguém lhe pediu opinião, por acaso?

          Pediu não, mas eu dou.

          – Com ordem de quem?

          Do autor.

          – E quem é esse cabra que quer mandar aqui mais do que eu?

          Tenente? Ô, tenente! Vixe, que o autor matou o tenente, gente!