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    Comunicação

    A carta – capítulo 26

          Rua Soldado Guimarães. Um homem está parado diante do número 275. É noite. As janelas, todas cerradas. Nenhuma luz acesa. Fica na dúvida se toca ou não a campainha. Pode ser que todos estejam dormindo. Olha o relógio. Não, tá cedo ainda. Saíram.       – E se viajaram?       Resolve perturbar um qualquer vizinho. […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

          Rua Soldado Guimarães. Um homem está parado diante do número 275. É noite. As janelas, todas cerradas. Nenhuma luz acesa. Fica na dúvida se toca ou não a campainha. Pode ser que todos estejam dormindo. Olha o relógio. Não, tá cedo ainda. Saíram.

          – E se viajaram?

          Resolve perturbar um qualquer vizinho. O da direita, ou o da esquerda? Opta pelo primeiro. A luz da sala está acesa e a casa tem uma cara mais simpática. Bate palmas. Silêncio. De novo. Nada. Insiste, agora com mais força. Ouve um mexer de coisas e pessoas lá dentro. Logo assoma à porta de vidro uma figura difusa. A folha translúcida é entreaberta. Uma luz jorra de um spot bem nos seus olhos.

          – Pois não?

          – Boa noite.

          – Boa noite.

          – O senhor conhece o Ca… o senhor Jorge, aqui do lado.

          – Conheço sim.

          – Ele viajou, foi?

          – Quem é o senhor?

          – Sou um amigo dele lá de Sergipe. Consegui o endereço com um outro amigo. Não tinha o telefone pra ligar antes e resolvi arriscar. Mas acho que perdi a viagem.

          – Ele foi internado.

          – É mesmo? Pôxa vida… O que ele teve?

          – Não sei, não. A filha dele esteve aqui e foi só o que disse pra gente.

          – O senhor sabe onde ele tá; qual o hospital?

          – Santa Casa.

          – E é longe? Eu não sou daqui.

          – Não, não é. Mas tem que pegar ônibus. O senhor vai até a avenida ali. Qualquer um sobe até a Amaral Gurgel, debaixo do Minhocão. Pede pra descer perto da Santa Casa. Lá perto, o senhor se informa. É facinho.

          – Obrigado.

          – Nada.

          O vizinho fecha a aporta e apaga a luz. Na escuridão, o homem mira mais vez a casa.

          – Tá bem instalado, o sujeito…

          Resolve que é melhor acertar tudo amanhã. Talvez seja o caso de primeiro, no hospital, saber melhor de tudo. Depois… Depois é o que é.

          Acendeu um cigarro, e partiu, assoviando um coco.