Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    Por quê?

          – Porque você vai pra Florianópolis?       – É separado.       – O que é separado?       – O porque que você acabou de falar. É separado.        – Porque? Eh! Digo: por que?       – Agora vai um acento no “e”.       – Arrrh! Você me deixa irritada.       – Você me deixa […]

    POR: Redação

    5 min de leitura

          – Porque você vai pra Florianópolis?

          – É separado.

          – O que é separado?

          – O porque que você acabou de falar. É separado. 

          – Porque? Eh! Digo: por que?

          – Agora vai um acento no “e”.

          – Arrrh! Você me deixa irritada.

          – Você me deixa envergonhado diante dos leitores. 

          – Leitores? Que leitores? E como você sabe se está junto ou separado?

          – Eu sei porque (e este porque é junto, pois se trata de uma resposta) alguém está escrevendo tudo enquanto nós falamos.

          – Ah! É mesmo, estou vendo. Bom, mas isto não vem ao caso, não mude de assunto. Você vai para Florianópolis porque?

          – Agora é separado e com acento circunflexo no final. 

          – Unrg! Que raiva, você quer falar direito comigo?

          – Você que não está falando direito comigo. Tenho que ficar lhe corrigindo o tempo todo.

          – Não me interessam os porquês. Eu quero saber é sobre você.

          – Parabéns, até que enfim.

          – O que houve? O que aconteceu? 

          – Você acertou um porquê. Agora está dois a um para os porquês.

          – Que ódio! Você não cança!? Vai me matar deste jeito. Você não tem dó?

         – Cansa. O certo é cansa. E, deste jeito, quem vai morrer é nossa língua portuguesa. Você que deveria ter dó.

          – É por isso que a gente brigamos. Desde o primeiro dia em que nos conhecemos que você me corrige. 

          – Que a gente briga. Também. Eu perguntei se você aceitava uma pipoca e você me disse que preferia um saquinho cheio. E você não estava brincando. Eu não pretendia lhe dar só um grão. Ia lhe dar um saquinho cheio mesmo.

          – Depois foi quando te levei para conhecer meus pai.

          – Meus pais. O que você queria? Você disse pra eles que minha fruta preferida era gengibre.

          – Tudo bem, tudo bem. Sua fruta preferida não é o gengibre, mas seu problema é que além de querer ser mais esperto que os outro, ainda tem este aí que fica escrevendo tudo que a gente fala.

          – Vem aqui. Não precisa chorar.

          – Não estou chorando. Vou pra casa da minha mãe.

          – Sua mãe mora conosco. Esqueceu?

          – Então por que você não vai mesmo embora com os seus por quês? Acertei agora? Está com acento circunflex.

          – É circunflexo. E não acertou, pelo menos no último que é um substantivo e como tal, deve estar junto.

          – Junta você com eles e nunca mais me procura, tá!?

          – É sempre assim, a gente começa a conversar e você começa a chorar.

          – É você que não me entende, é sempre estes porquês entre nós. Por que isto, por que aquilo, por que aquilo outro. E nós? Onde ficamos nós? E nossa vida? E agora você vai embora.

          – Não! 

          – Não o quê?

          – Eu não estou indo embora.

          – Não? Porque?

          – Por quê. 

          – O quê?

          – Por quê.

          – Por que, o que?