Para Aldo Rebelo
Século XX. Noite de 12 de julho do ano de 98.
Um apito tange do céu as estrelas.
Em vez da explosão de foguetes
E rajadas de gargalhadas:
Um silêncio de dar medo.
Em vez do povo unido
Invadindo a avenida,
A multidão desfazendo-se
Em minúsculos indivíduos tristes.

A cidade está calada,
O país mudo.
Os raros tiros de foguete
Lembram estampidos suicidas.
O Brasil está envergonhado do Brasil.

Derrotada a seleção dorme em Paris.
O povo não encontra o sono,
Anestesia-se com cachaça, afoga-se em cerveja.
Mas, os abraços aquecem e consolam,
Acolhem e amparam.
As mãos enxugam as lágrimas.

Então, entra em campo
Um trunfo que europeu algum possui.
O sol tropical nasce e incinera
Aquela noite de derrota e vergonha.

O povo reencontra-se no trabalho, na escola.
Espreme-se no ônibus,
Enfileira-se em busca de emprego e vagas em hospitais,
Embora a desgraça, com sua teimosa esperança
Diz :
— Dois mil e dois vem aí!

   Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).