Expansão da rede de esgoto melhora renda
O levantamento aponta, também, que a massa salarial no país, hoje em torno de R$ 1,1 trilhão, se elevaria em 3,8% com a expansão da rede de esgoto para todas as residências, possibilitando um incremento de R$ 41,5 bilhões nas folhas de pagamentos. O diretor do ITB, André Castro, lembra que esse valor é equivalente ao custo da universalização da coleta e tratamento de esgoto no Brasil, estimado em R$ 49,8 bilhões.
A falta de esgotamento aumenta o risco de infecções e provoca o afastamento de pessoas doentes de suas funções de trabalho. Com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), conduzida pelo IBGE, foi verificado que em municípios onde a porcentagem da população com acesso à rede de esgoto é de apenas 20% a renda média do trabalhador é R$ 885. Em contrapartida, nas cidades com acesso universal a esse serviço, a renda média do trabalhador alcança R$ 984.
Os pesquisadores estimam que a universalização do esgotamento poderá elevar o salário mensal do trabalhador brasileiro em R$ 50 – hoje, a renda média no país é de R$ 930, sendo que, 60% dos trabalhadores que responderam a pesquisa da Pnad têm acesso a rede de coleta de esgoto.
Em um ano, cerca de 12 milhões de pessoas, ou 7% da população, se afastaram do trabalho por problemas de saúde. Desse total, 777 mil, ou 6,4% das ocorrências, foram em razão de infecções gastrointestinais. Levando em consideração esses números, o coordenador do estudo pela FGV, professor Fernando Garcia, explica que a cada afastamento por infecção, um trabalhador fica longe do emprego por 3,1 dias, em média. Logo, considerando o valor médio da hora de trabalho no país, de R$ 5,70, e a jornada média de trabalho, de 39,1 horas na semana, chega-se a um custo de R$ 95,76 reais por afastamento. Num ano são despendidos R$ 547 milhões em horas pagas, mas não-trabalhadas.
A probabilidade de uma pessoa com acesso a rede de esgoto se afastar das atividades por qualquer motivo é 6,5% menor que a de uma pessoa que não tem acesso à rede – no afastamento por diarréia o nível chega a 19,2%. Assim, os pesquisadores concluem que a universalização à rede de esgoto reduzirá os custos médios de afastamento de trabalhadores em R$ 309 milhões por ano – de R$ 546 milhões para R$ 238 milhões.
Saúde
O trabalho também constata que se todos os brasileiros tivessem acesso à rede de esgoto, 1.277 pessoas não teriam morrido por infecções gastrointestinais em 2009. Em compensação, a expansão das redes de esgoto para todas as residências no país poderá resultar numa economia de R$ 745 milhões em gastos com internação no SUS (Sistema Único de Saúde) – valores resultantes da redução de 462 mil para 343 mil casos de internações por ano nos hospitais públicos.
As regiões mais favorecidas com a universalização do esgoto seriam Norte e Nordeste. No último ano, o Nordeste registrou 17% de internações realizadas no SUS – a taxa de reincidência nessa região é 5,25 casos por mil habitantes ao ano, ou 2,2 vezes superior a média nacional, e 6,3 vezes à média vista no Sudeste. O Norte se destaca pelo déficit de esgotamento ser mais intenso em relação às demais regiões: 88% das casas não estão ligadas as redes de coleta.
Em 2008, estudo do Centro de Políticas Sociais da FGV, realizado a pedido do ITB, diagnosticou que o aproveitamento escolar de crianças com acesso a saneamento é 30% superior às menores que viviam em residências sem acesso a esse serviço.
Qualidade de vida e mais empregos
Em cidades com mais de 100 mil habitantes onde o nível de coleta de esgoto é zero, são esperados 450 casos de infecções gastrointestinais num ano em menores de 14 anos. Em municípios com o mesmo número de pessoas, mas com o atendimento universalizado, os casos esperados caem pela metade: 229.
Cidades que dependem do turismo serão fortemente beneficiadas com a melhora do setor. A pesquisa constata que em cidades de 100 mil habitantes, mas com esgoto para apenas 10% da população, a atividade de turismo limita-se a criar 12 postos diretos de trabalho. Com a universalização o número médio de empregos no setor chega a 256.
O acesso ao esgotamento tende a valorizar os imóveis em até 18%. Em termos nacionais a apreciação de uma casa que passa a ter esse serviço é de 3,3%. Para chegar a esses resultados, os autores do trabalho consideraram imóveis em cidades de 100 mil habitantes: casas em municípios sem coleta de esgoto, a preços de 2009, custavam em média R$ 35,5 mil. Quando a cobertura do serviço alcançava a 20% da população, o valor saltava para R$ 36,6 mil. E em cidades onde o esgotamento é universalizado, o valor médio do imóvel chegou a R$ 42 mil.
O déficit da coleta de esgoto no Brasil atinge 57% dos brasileiros. Já a falta abastecimento de água via rede geral atinge a 19% da população. Graças ao aumento de investimentos no setor entre os anos de 2003 e 2008, contabilizados em R$ 10,4 bilhões, 15 milhões de pessoas passaram a ter acesso à rede de esgoto no país, e 5,4 milhões foram incluídas no sistema de abastecimento de água.
André Castro, presidente do ITB, estima que para alcançar a universalização desses serviços, até 2025, o país necessitará alocar R$ 15 bilhões/ano.
Para acessar o estudo na íntegra, clique aqui.
Fonte: Brasilianas.org